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" Só porque você ama alguém não significa que você tem o direito de machuca-la "

Kenzie Red

  Confiro o endereço no GPS do celular para ter certeza ,tudo certo, era aqui mesmo. Não é possível,encaro a fachada da  fábrica de novo, o lugar era assustador. Caramba, onde é que Kyle tinha se metido desta vez?! Engulo o medo e bato na porta de aço, o som ecoou pelo silêncio daquela tarde chuvosa trazendo um ar mais intenso de filme de terror. O tempo virou e a temperatura caiu, mais o frio no meu estômago e minhas mãos trêmulas em nada tinham haver com o clima.

— Perai, caralho!— Um homem grita rude do outro lado da porta e eu escuto as correntes sendo soltas com raiva antes do dono da voz aparecer para mim.

Espero não ter atrapalhado nada de muito importante, porque pela forma que me olha parece um lobo pronto para me dar uma mordida. Deslizo os olhos curiosos pelo seu corpo desde as botas gastas de combate, e pela sua barriga saliente coberta apenas por um colete de couro de motociclista e até suas sobrancelhas grossas erguidas com deboche.

—  Desculpe benzinho, mas não entrevistamos as dançarinas aqui. Se quer uma chance tem que aparecer na boate fora do horário de atendimento!

— Não sou dançarina . Estou procurando uma pessoa. — Assim que as palavras saíram da minha boca me arrependi, sua risada escandalosa me mostrava que tipo de pensamentos estavam na sua mente.

— Tenho certeza de que sim!

Eu poderia manda-lo para o inferno ou ofender sua mãe pela gracinha, mas preferi morder a língua porque se essa era a única chance de encontrar meu irmão, então eu a iria agarrar com unhas e dentes. Nem que pra isso eu tivesse que aguentar algumas merdas como essa. Tirei a foto dele de dentro da bolsa e a estendi em sua direção com cuidado para não molhar na chuva.

— Não, você entendeu errado. Eu estou procurando meu irmão; Kyle Red. — Sua cara me disse que não me deixaria entrar, mas também ele não tinha dito que não o conhecia . Fiz minha melhor cara de choro e implorei.

—  Tudo bem, gracinha. Mas fique por perto e não encare muito.

Sabe quando você vê algo mas seu cérebro parece estar em outra rotação da terra e não compreende? Era assim como eu me sentia naquele momento com aquela cena. Meus olhos viam mais minha mente não assimilava. Eu não era estúpida e também não costumava tampar o sol com a peneira, conhecia meu gado e sabia que Kyle não tinha nada de santo. Mas aquele golpe me atingiu em cheio e nossa; doeu como nada antes!

Eu tinha, literalmente, vivido no inferno nos últimos meses imaginando as piores coisas possíveis que poderiam ter acontecido para ele ter sumido assim do nada. Estava até preparada para – Deus que me livre –, até um velório. Mas isso? Isso nunca! A ingratidão me paralisou no lugar.

Eu havia gastado minhas economias em uma busca fadada ao fracasso, colado pôsteres com a sua foto por cada esquina que andei , e foram tantas. Perdi meu apartamento por falta de pagamento e provavelmente meu emprego. Vendi tudo que consegui para as passagens de ônibus minhas e de quem por pena se voluntariava. E lá estava ele: sentado com uma garrafa de cerveja na mão e uma moça no colo, rindo despreocupado como se tudo no mundo estivesse bem.

  Confesso que deixei-me guiar pela raiva quando caminhei para ele a passos duros. Nunca fui violenta, apesar da pessoa que foi meu modelo de adulto enquanto crescia. Jamais levantei a mão para alguém, nem mesmo para me defender. Porém, quando dei por mim tinha voado para ele e em segundos estávamos os três no chão; Kyle, a moça e eu.

Ele me olhava assustado, sem reação.  Enquanto eu descontava minha frustração em tapas na sua cara já tão vermelha quanto um tomate. A menina que segundos atrás estava escrachada sobre seu colo, agora se pendurava nos meus cabelos e aos gritos anunciava que o homem era dela.

Fui puxada para longe dele, agarrada por um aperto firme em volta da cintura e meus pés balançavam a centímetros do chão. Nos encaravamos ambos com suas indignações.  Kyle pela surra que nunca tinha tomado antes e eu, com a sua falta de amor por mim! Segundos se passaram daquele jeito, no lugar nenhum barulho além de nossas respirações aceleradas e vez ou outra uma injeção de curiosidade na nossa pequena plateia .

— Como você pode fazer isso comigo? — Tenho que me dar algum crédito, mesmo com a imensa vontade de chorar minha voz saiu com o tom pretendido de raiva. E sequer falhou embora estivesse rouca. —  Três meses te procurando por cada beco, esgoto e viela. Imaginando que pudesse estar ferido, ou pior ; morto . E você aqui! Festejando com seus amigos motoqueiros!



( Capítulo sem revisão)

Soldiers MC - Soldado Sem AlmaWhere stories live. Discover now