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Julia

O Dustin não aparece há mais de uma semana. Não que eu esteja reclamando, ele deixou bastante comida, mas as condições do sumiço foram bem estranhas. Também não fui a polícia e nem nada do tipo, apesar de ter estranhado bastante nas primeiras vinte e quatro horas.

— Parei e pensei, quem aguentaria ele por mais de uma hora? Ainda mais uma semana.

O Pierre abaixa a xícara de chá.

— Juzinha, a questão é que, se algo tiver acontecido com ele, você pode ser a próxima, entende? Se for alguém que você acusou, podem ter começado por ele, e talvez estivessem tentando te fazer salvá-lo. Como não foi, podem estar com outra tática agora.

Dou tapinhas nas costas dele.

— Veja menos filmes, meu amigo. Ele já fez isso antes, lembra? Deve ter reencontrado a noiva, ou estar gravando algo. Jake Burley fica um tempinho no estúdio para gravar músicas, eu vejo nas redes sociais dele.

— Se você diz. Aí vem a senhora Killie, Deus me ajude.

O Pierre é advogado trabalhista, e a senhora Killie é uma mulher que quer processar uma ajudante da casa do ex-marido por questões que ele não me revela, mas não devem ser tão pertinentes assim. Me afasto rindo dentro do meu café.

— Julia Rutherford, venha aqui! — a mulher me chama, gritando alto o suficiente para que as pessoas da firma de causas ambientais do primeiro andar escutem.

Giro nos meus calcanhares, um sorriso plastificado no rosto.

— Senhora Killie, olá.

— Vi que você se casou. — ela aponta uma unha pintada de cinza para mim — Mas não parece feliz com isso. Cadê ele? Aprecio um bom homem.

Feliz não é exatamente a palavra. Me inclino para a frente, para compartilhar um segredo.

— Ele está com a mulher que ama agora.

Os olhos dela brilham com algo.

— Os homens deste mundo são todos uns porcos. Se acostume a isso, minha querida. Meu ex-marido mesmo, um porco enorme. Se eu pudesse apenas fazer algo para ele...

— Não recomendo, senhora Killie. De nós três aqui, eu sou a que as pessoas menos gostam de precisar. E vai por mim, você não vai querer precisar. Só há um banho de Sol por semana na prisão.

— Um só? Mas como fica a saúde das pessoas?

— Não sei, só coloco e tiro as pessoas de lá. Se você quer permanecer saudável, é melhor não machucar ninguém. Só por via das dúvidas.

O Pierre acompanha ela para dentro, ela resignada ao fato de que não poderá fazer nada contra ele. É um bom arranjo eu ficar aqui com os dois, porque mostro aos clientes mais selvagens deles que não vale a pena agir como querem. Às vezes eles não me escutam, mas aí quem ganha sou eu. Não que isso signifique que eu fique feliz.

Mexo na papelada da sala de registros, atrás do de um cliente que preciso verificar as informações. Eu coloquei aqui na semana passada, como pode sumir... aqui está. Agarro a pasta e caminho de volta para a minha sala, escutando uma bagunça na do Oliver. Bato duas vezes e abro a porta.

— Oliver?

Ele está vestindo o paletó, juntando tudo bem rápido. Ergue um dedo para mim, ao telefone.

Quando em VegasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora