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Plano falível

No dia seguinte, acordei tão atrasada que cheguei na escola na segunda aula.

O motivo? Clara. Mais conhecida como minha irmã.

Deve ter comido demais pois passou mal a noita inteira.

Isso resultou em nos manter acordados.

E agora, olhando pra lousa, só peço que a hora passe rápido.

-Ei.- Hugo me chama quando o professor dá uma pausa.- Foi legal ontem né?

-Você e a Clara brigaram? Devia ir ver ela. Não está muito bem desde ontem.- olhei para seu dedo que também não tinha aliança. Ele percebeu meu olhar e escondeu as mãos debaixo da mesa.

-Nós discutimos. Só isso.- ele olha pro caderno na esperança que eu mude de assunto.

Ignorei a sua ansiedade por alguma conversa e dormi a aula toda de matemática.

Eu sei: sou um péssimo exemplo e Isaac ficaria horrorizado.

Mas não pude controlar.

...

O sinal para o intervalo toca e eu saio da sala igual um zumbi. Perfeita pro elenco de The walking dead.

-Oi Eliz!- Isaac (Newton) veio ao meu encontro.- Adivinha? Comprei ingressos pra irmos no cinema hoje. Topa?

-Sim!- tentei espantar o sono.- Que horas?

-Preciso conferir depois... mas pode deixar, eu passo na sua casa.- olhou para o celular que segurava na mão direita.- Agora preciso ir. Tenho uma aula de reforço daqui dez minutos.- me deu um beijo rápido na bochecha e saiu.

Segui para o refeitório, avistando os grupinhos formados em cada mesa.

Nunca fiz parte de um e eles mal sabem quem sou.

Mas eu tinha um plano! A festa da Aline é o lugar perfeito para me conhecerem. Com isso, eu faria parte de um grupo.

Por enquanto, eu sentaria na mesma mesa de canto. Sozinha.

É meio triste mas daqui tenho a vista perfeita de Isaac entrando e saindo da biblioteca. Ele não podia me ver, mas eu via perfeitamente quando ele mexia no óculos, nervoso.

Será que tudo isso foi sorte ou o destino?

O sinal toca e esbarro com o professor de matemática no corredor.

-Eliz! Queria mesmo falar com você. - e me conduz até uma sala de aula vazia.- Já tenho o resultado da sua prova.

-E aí?- eu dava pulinhos de nervosismo.

-Você foi muito bem!- ele me entrega a prova, onde estava escrito a minha nota de caneta azul.- Errou apenas três questões. Estou orgulhoso.

Meu sorriso se expandia a cada palavra que ele dizia.

-Muito obrigada! Me esforcei e Isaac me ajudou. Eu até posso dizer que estou gostando de matemática.

-E agora que conseguiu a nota máxima no boletim, pode ficar tranquila.- e apertou minha mão, me guiando até a porta em seguida.

Parei em frente o meu armário e li novamente a prova.

Não via a hora de mostrar para Isaac!

Em segundos, a prova foi tirada de minha mão.

Era Aline, que estava parada na minha frente.

-"Parabéns e continue assim".- ela leu as palavras de meu professor.- Não sabia que você era inteligente, Eliz.

-Pode me devolver, por favor?- minha voz falhava e eu segurei as lágrimas que já se formavam em meus olhos.

Ela me encarou e por milésimos segundos achei que uma breve compaixão passou por seus olhos. Eu estava errada.

-Não.- e rasgou a ponta do papel- Onde você aprendeu a ficar inteligente assim? Com as aulinhas particulares que Isaac anda dando em sua casa?! Qual é, Eliz? Isso é só uma farsa.

-Me devolve a prova agora!- eu tentava fazer minha voz sair firme mas era em vão. Uma lágrima caiu.

-Antes você me irritava porque Isaac te preferiu do que a mim.- rasgou mais uma parte.- Mas agora você me irrita apenas por ter PATÉTICA!- e rasgou a prova no meio.

Me abaixei rápido enquanto os pedaços caíam no chão. Tentava juntá-los mas as lágrimas vieram me impedir de ter forças.

Aline dava risadas acima de mim enquanto repetia a palavra PATÉTICA.

-EI!- uma voz gritou e ouvi passos rápidos em nossa direção.- Sai de perto dela!

Era Isaac, que no mesmo momento que gritava, me ajudou a levantar. O resto da prova continuou no chão.

-Sai daqui! Se mexer com ela outra vez eu te faço ser expulsa!- ele gritou e me puxou para perto, me envolvendo em um abraço.- A Eliz não te fez nada.

-Você é tão bobinho, Isaac.- ela continuava com o mesmo tom que usou para me insultar.- Fica se derretendo por uma garota como ela. Isso é perda de tempo.

-Eu não ligo para o que você diz.- me apertou no abraço de forma protetora- Tenho que repetir pra você sair?

Não pude ver a última expressão de Aline mas a imaginei revirando os olhos enquanto se afastava.

Isaac (Newton) não disse nada quando ela saiu. Apenas me fez seguir os seus passos.

Paramos em um canto do refeitório ao ar livre e nos sentamos em um banco.

Eu continuava de cabeça baixa, olhando minhas mãos.

-Eu vou contar pros seus pais.- disse ele, agora com a voz calma.

-Não!- me desesperei, olhando em seus olhos.- Será pior. Ela pode ficar com raiva e...

-Eliz,- ele tocou em minha mão- desde quando isso anda acontecendo?

Olhei para nossas mãos perto uma da outra e contei. Contei tudo desde o início e reforcei na explicação de como eu me sentia.

Ele ouviu tudo com calma e quando acabei, afastou sua mão da minha, cerrando os punhos e fechando os olhos.

-Desculpa não ter te contado. Eu tinha medo. Ainda tenho.- evitei chorar novamente.

-Não te culpo, eu entendo.- abriu os olhos e me encarou- Mas ainda precisamos contar pros seus pais.

-Não, Isaac. Isso só pioraria as coisas e é melhor esquecer.

-Você sabe o quanto me dói te ver sendo machucada?- ele alterou a voz e seus olhos brilhavam por lágrimas insistentes que queriam sair.- Não posso esquecer. Temos que contar pra alguém e fazer justiça contra ela!

-Mas eu tenho medo. Tenho medo de ela voltar e fazer coisas piores.

-Eu vou estar com você. Sempre.- e sorriu.

Um breve silêncio se fez e eu disse:

-Vou ir na festa dela.

-O que?

-Ela nem vai me ver. Quero ir pra fazer amigos e...

-Eliz, não.- Newton disse em um tom sério.- Não é uma boa ideia. É a casa dela! Ela pode fazer o que quiser e não quero que você seja humilhada na frente de todos.

-Mas Isaac...

Ele se levantou do banco.

-Eu te apóio em tudo, Eliz. Tudo mesmo. Mas nisso você não merece o meu apoio. Então, faça o que quiser.

E saiu, me deixando sozinha em uma confusão de pensamentos.

Algodão doce Where stories live. Discover now