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Adeus?

No outro dia de manhã, não fui à escola.

Mesmo estando ansiosa para ver a reação de Aline quando meus pais e a diretora se sentarem com ela, resolvi esperar em casa pelas notícias.

E Clara está aqui comigo.

-Olhe pelo lado bom: você vai conhecer gente nova, escola nova, amores novos...- ela me cutuca.- enfim, vida nova!

-Estou tãaao animada.- mudo mais uma vez de canal. Está passando Bob Esponja e Clara grita para eu deixar ali.- Vou sentir falta.

-Eu sei que vai sentir falta dele.

-Dele quem? Eu não disse nada.

-Eliz, está escrito na sua testa o quão apaixonada você é pelo Newton. Só admite.

-Não está escrito nada!- tento esconder o sorriso.

-Está escrito...- ela olha para mim- 93% apaixonada pelo Newton.

-Que bobeira!- dou risada e ela me acompanha.

Nossos pais chegam e se juntam no sofá com a gente.

-Tudo resolvido. Não importa se ela vai ser expulsa ou qualquer coisa do tipo,- diz meu pai, deixando o sorriso de vitória visível- o que importa é que não vai mais te perturbar, Eliz.

Sorrio. O alívio me deixou leve.

Espero nunca mais vê-la de novo.

-Bom, como havíamos conversado, vamos entrar na estrada hoje à tarde!- minha mãe se anima e entra em uma discussão com meu pai sobre quantas caixas caberão no carro.

Meu pai conseguiu uma promoção no trabalho à algumas semanas, então resolveram que íamos mudar pra outra cidade, onde será o novo setor dele.

Ontem, em meio ao choro e as conversas sobre o que passei, concordei com a ideia de nos mudarmos.

Porém, ainda não contei para Isaac.

Mandei mensagem pedindo que ele viesse aqui, mas estará ocupado até as 17h com as aulas na escola.

Ou seja, não terei tempo de me despedir.

...

Três caixas e duas malas estão no porta-malas com as coisas essencias pra um dia (acredite, minha mãe leva muito a sério isso).

Entramos no carro e coloco os fones, deixando a playlist de Ed Sheeran me invadir.

Observo as casas, o centro da cidade e até a sorveteria.

Tentarei guardar tudo na memória. E também tentarei não morrer de saudades.

Meu celular com uma nova mensagem de Isaac:

Oi. Te ligo daqui a pouco, ok? Tô meio ocupado ainda mas... deu tempo de escrever o que sinto.

Dois minutos se passaram e ele enviou um arquivo em PDF com um texto (Isaac como sempre organizado):

Oi. Foi assim que tudo começou. Lembra? Ou será que foi com aquela minha piada sobre algodões doces e maçãs? Enfim, só quero que lembre do início. Mas também quero que lembre do fim , porque é com ele, que posso te provar ainda mais que nunca te esquecerei. Não tive a chance de fazer um pedido de namoro, e se o fizesse agora, só iria complicar as coisas. Espero que entenda. E espero também que siga a sua vida da maneira mais feliz e tranquila que puder. Espero que quando comer um algodão doce, lembre-se de mim. E espero ainda mais que continue com notas boas em matemática (isso é sério. Não me decepcione). Não conseguirei descrever o quanto gosto de você, Eliz. O quanto você fica linda quando está com vergonha. E o quanto você me mudou. Para melhor. Me apaixonei por você e não sei se isso vai mudar, mas se o que você sente mudar, saiba que está tudo bem. Eu só quero que seja feliz, Eliz. Me promete esse não ser um adeus? Pois, talvez, o destino nos una de novo.
Com carinho e amor, Isaac.

Lágrimas silenciosas vieram e a música Perfect do Ed toca no fone.

As palavras de Isaac (Newton) me trouxeram uma felicidade imensa.

Mesmo indo embora, sei que ele sentiu o mesmo. Que tudo foi recíproco.

Quando chegar em minha nova casa, ligarei para ele, pra agradecer por tudo.

Se ele pensa que vou deixá-lo de lado mesmo em outra cidade, está enganado!

-Eliz, Eliz!- minha irmã me chama, se aproximando com o celular.- Olha só o que saiu no Instagram de fofocas da escola.

Seco as lágrimas e olho pra tela.

É uma foto de Hugo beijando Aline. A mesma imagem que vi pessoalmente na festa.

Olho para Clara.

-Nossa, Clara. Sinto muito.

-O que?- ela começa a rir- Eu estou adorando isso! Tem vários comentários das amigas da Aline pedindo pra apagar a foto.

-Bom, quem sabe os dois sejam perfeitos um para o outro.- meu comentário faz ela rir ainda mais, debochando de toda a situação.

-Ei, vamos tirar uma última antes de ir pra outra cidade?- antes de eu responder, Clara já posiciona o celular e me abraça, tirando uma foto... quase perfeita.

Dizemos um "tchau-tchau" quando passamos pela placa da cidade e meu pai aumenta o som do rádio no carro para acompanharmos o ritmo da música.

Acho que essas mudanças vão me fazer bem.

Não vou me esquecer do garoto que gosta de algodão doce. Foi ele quem mais me marcou.

E foi por causa dele que vivi coisas novas e construí lembranças boas.

Então, pra mim não é o fim.

É um novo começo.













Fim

Algodão doce Onde as histórias ganham vida. Descobre agora