Seus pés frios tocaram o tapete macio do seu quarto após baterem na porta. A mulher se levantou e vestiu seu véu negro que corria até os pés. Somente seus olhos ficavam de fora, enquanto ela se arrastava para abrir o pesado portal de madeira.
De posse de um lampião, um soldado de armadura completa, com a árvore ornada na placa do peito, ofegava.
— Majestade, sinto muito pela intromissão. Teu conselheiro, o Lorde Tobias Teufyn, lhe chama. Tem notícias do rei e dos seus filhos, Majestade.
Ela respirou fundo e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. Tamanho era seu desespero que andava rapidamente, o soldado a acompanhava com o lampião tremeluzindo nas paredes de pedra do palácio real. Leona deixava que seu véu corresse pelo chão atrás de si.
Fazia meses que não tinha notícia dos filhos e do marido. Haviam saído em empreitada para o Norte, a fim de confrontar Elbrí, Décima Quarta Filha de Vaarlagi, uma elfo a quem chamavam de Ventania Sangrenta. Obviamente, com aquele nome e reputação, Leona tentou de todas as maneiras convencer seu marido, Gorgon, de que não deveria ir e muito menos levar seus filhos para essa empreitada suicida.
— Meu amor, minha vida. — Ele lhe dissera em seus ouvidos quando estava prestes a embarcar no navio que selaria seu destino. — As crianças estarão seguras comigo, pode acreditar. Elas precisam vivenciar um pouco de aventura nesse mundo, antes de ascenderem ao poder. Afinal, essa velha carne aqui não durará tanto tempo.
A mulher fitou os olhos verdes do marido e o abraçou. Eles estavam num porto particular, que ficava perpendicular ao palácio real e longe da vista de curiosos. Porém, ali se encontravam todos os conselheiros reais, secretários de estado e aliados que, ou vieram se despedir do rei e lhe dar presentes de uma boa viagem ou foram se oferecer para a empreitada que o homem planejava fazer.
Tal demonstração de carinho, abraçar o marido em público, seria repreendida no futuro por alguma das suas acompanhantes; mas, por hora, ela se deixou abraçar e sentir o corpo magro e forte de Gorgon. Ela fitou seus cabelos, admirando o raiar do dia abrilhantar seus fios acastanhados que balançavam com o vento do mar.
— Eu te amo, Gorgon. — Ela disse. Seu coração disparado, querendo sair pela boca, como uma sequência de tambores. — Mas, por favor, pelo amor que eu sei que você tem por mim e pela sua família, não leve os meninos contigo. Eles estarão correndo perigo e se assim for, não teremos um governante homem da família, caso o pior aconteça. A Dinastia Eldjr morrerá com eles.
Seus olhos claros, cheios de lágrimas, escorreram e molharam o seu lenço. As crianças brincavam no pátio, aguardando com diversão a despedida dolorosa de seus pais. Gorgon enxugou suas lágrimas com o polegar, tocando o tecido com carinho.
— Isso não acontecerá, ok? Eu protegerei os herdeiros e temos uma guarnição que dificilmente será neutralizada pelos elfos. Essa viagem será segura e nós, Eldjr, ganharemos esse desafio.
Leona aceitou as palavras de Gorgon com preocupação e finalmente chamou os filhos. A eles, ela não devia pudor frente aos homens do corpo governante da dinastia. Ela abraçou com força o seu filho Godric e beijou a testa de Gorvin.
— Me prometam que ao menor sinal de perigo vocês se esconderão e cuidarão um do outro. Por favor, me prometam.
Godric, o mais velho, com onze anos de idade, revirou os olhos e disse:
— Eu prometo.
Gorvin imitou o irmão, ao qual admirava demais, na mesma hora. Ele tinha oito anos e a mesma cabeleira acastanhada do pai.
— Prometo muito, mamãe.
Leona abraçou os dois e começou a chorar. Gorgon se abaixou com eles e disse suavemente:
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A Mulher da Tatuagem de Rosa
FantasyDançando e brilhando como as chamas de uma fogueira, uma mulher com uma singela rosa estampada no peito bailava sempre diante dos seus olhos antes de alguém morrer. Antes de uma batalha, antes de um ataque, antes de um assalto. Sempre que ela surge...