Por um Gole de Rum e Cerveja

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Atracar em Cauda de Sereia era sempre uma aventura. O maior porto de Alenca era uma das poucas coisas que se mantivera intacto durante a Guerra dos Senhores do Leste. O Goela de Lobo vinha se aproximando do litoral há horas e a quantidade de outros navios querendo descarregar era impressionante.

Assim que jogaram a âncora, Josslyn e Aemon pegaram um bote e ambos foram na direção da terra firme. Joss remava enquanto Aemon guiava o leme, desviando de várias embarcações maiores que também aguardavam para desembarcar com as mercadorias.

Como eles eram piratas, tinham de entrar de maneira mais sorrateira na ilha. Cauda de Sereia era o ponto onde deveriam encontrar com Niel Sobrev, um contrabandista a serviço de várias famílias poderosas e que estava por dentro das jogatinas de domínio das realezas diversas de Alenca. Niel era sorrateiro e Josslyn, que era quem geralmente cuidava do contato com os receptores de mercadorias roubadas, avisara a tripulação que provavelmente, após passar em Cauda de Sereia, eles seriam obrigados a descarregar as mercadorias em outro lugar, por conta da descrição que um dos seus clientes exigia com prestadores de serviços contrabandistas.

Os amigos desembarcaram na praia e Aemon pagou a um comerciante de peixes para que ficasse de olho no bote enquanto eles caminhavam pela cidade.

— Onde Niel pediu para encontrarmos com ele mesmo? — Perguntou dado momento para Joss. Ambos tinham entrado em comum acordo sobre não ficar muitas horas fora do Goela de Lobo. Geralmente, quando Joss saia para tratar de negócios, era Aemon que ficava em seu lugar, ou vice e versa. Porém, como ambos haviam saído, por necessidades distintas, haviam deixado no comando da embarcação a jovem marujo Nastya Bolen , que tinha o respeito de toda a ordem do navio.

— Ele pediu que o encontrássemos num tal de Covil das Ninfas. — Joss bufou, enquanto andava no meio das pessoas na feira livre do porto. — Se esse lugar for uma espelunca, juro pela Ursa, Aemon, que vou enforcar esse desgraçado.

Aemon deu uma risada e parou um momento para olhar uma barraca com jóias e enfeites femininos. Pegou um colar com uma pedra azul perolada e olhou bem.

— Isso daí é a cara da Ylva. — Sussurrou Joss. Aemon se sobressaltou com a repentina proximidade do amigo e o comerciante, que observava a dinâmica dos dois, e deu risada. — Me desculpe, meu amigo. É que você parou do nada.

— Sinceramente, Joss. — O próprio Aemon ria com vontade. — Quanto está essa, homem?

O dono da tenda de joias disse, enquanto colocava um colar no pescoço de uma dama.

— 50 imperadores, 30 condes e 8 burgueses safados. — Aemon soltou o colar no mesmo instante. — Mas, pra vocês, eu faço pela metade... se me descrever a cara da dama a quem deseja dar essa belezinha, senhor.

Aemon pensou.

— Não dá pra descrever tamanha beleza assim, simplesmente. A dama que usaria isso tem os olhos da cor da Baía das Ninfas num fim de tarde de verão e cabelos como a noite sem luar. — Aemon segurou o colar entre os dedos e olhou a pedra azulada. — É a dama mais furiosa que já tive o prazer de conhecer e o seu cheiro é o da maresia que vem junto com o vento do oceano.

Joss assobiou e assentiu para o comerciante.

— Pode crer que essa é a descrição mais fiel que alguém poderia fazer, principalmente a parte dela ser furiosa. — Aemon começou a rir e Joss continuou também rindo. — Ela joga panelas em você como ninguém. Mas que mira desgraçada!

O comerciante já estava vermelho de tanto rir, enquanto recebia o dinheiro da dama que estava atendendo. Quando ela foi embora, ele disse.

— 25 imperadores, somente. Esqueçam os trocados, não preciso de burgueses.

A Mulher da Tatuagem de RosaWhere stories live. Discover now