Areia

3 0 0
                                    

N/A: Geralmente respeito as informações da WoW Wiki, mas tomei a liberdade de alterar a longevidade dos murlocs. Live with that! ^^0

----------------

Jen'Kah tivera um sonho estranho naquela noite. Ele não conseguia se lembrar do que era, mas toda vez que o véu do esquecimento fazia menção de levantar-se, ele sentia uma espécie de aperto no peito, como se estivesse se esquecendo de alguma coisa importante. A maré subira durante a noite e pela madrugada, quando se levantara para pescar, o mar estava mais revolto que o normal. Não era de se estranhar: a maior das luas estava tão grande no céu que o fazia imaginar que um pássaro distraído poderia topar com ela em pleno vôo. Toda aquela claridade prateada não lhe pareceu bom agouro. De qualquer maneira, os peixes vieram à sua rede sem receio e ele teve a pesca mais farta desde que se vira obrigado a viver ali.

Suas mãos ainda eram fortes, mas seu espírito estava sereno: com o passar dos anos, se acostumara ao exílio e não sentia mais qualquer vontade de voltar à Zul'Farrak. Kolan'Jin, por sua vez, estava sendo um bom líder, até onde ele ficava sabendo. Ambos haviam lutado justamente e um deles necessariamente sairia derrotado. Fora ele e, embora de início houvesse pensado em inúmeras alternativas, só lhe restava viver com isso. Todos aqueles anos haviam lhe mostrado que, embora proscrito por sua raça, os Loas não o haviam abandonado.

Jen'Kah pendurou sem pressa os peixes sobre o braseiro, olhando-os pensativo, sem querer admitir que hesitava em cruzar o deserto. Não havia escolha: ele precisava de pólvora, fumo, especiarias e suas lâminas já estavam em um estado deplorável. Não havia como fugir dos mercadores. Arrumou cuidadosamente os corais e as madrepérolas na bolsa e, pegando o cajado, pôs-se a caminho sem olhar para trás. Ele sabia que, se olhasse, seria tentado a procrastinar ainda mais e, se não conseguisse alcançar a caravana nos limites de Tanaris, acabaria tendo que fazer seus negócios junto a dezenas de zangareias que, de fato, eram os clientes que os mercadores buscavam.

Sim, ele havia se acostumado ao exílio, mas jamais estaria confortável com o desprezo de seus antigos conterrâneos.

Os trolls mercadores sempre compravam todo o coral que pudessem conseguir: ele era raro e muito apreciados nos reinos das florestas. Ainda assim, Jen'Kah perdia muito tempo argumentando o valor das mercadorias que necessitava. Eles nunca as deixavam ir por pouco e o proscrito se deu por feliz quando finalmente pôs os pés no caminho de volta à praia. Já era noite e as altas paredes pareciam ecoar sua respiração. Aqui e ali o guinchado de um morcego quebrava o silêncio opressor. Não era bem um silêncio, ele pensou: havia um ruído alarmante, baixo, mas contante, de pequenas patas quitinosas e o roçar de asas secas, como se uma legião de besouros estivesse prestes a invadir o deserto. Ele definitivamente não gostava daquele lugar e, sem perceber, segurou o colar de contas que levava ao pescoço.

Foi então que um grunhido estridente tirou-lhe de seus pensamentos. Não eram os morcegos. Um animalzinho machucado, talvez? Ele parou, a testa franzida, apurando os ouvidos na tentativa de identificar de onde vinha aquele som. Não estava longe, devia estar entre as pedras... Um filhote de veado, de caribu, talvez? Não, não havia nenhuma espécie parecida em Tanaris. Qualquer animal que fosse, porém, pareceu-lhe uma boa ideia ajudá-lo. Ele cresceria e poderia servir-lhe como montaria, poderia dar-lhe leite ou ajudar-lhe na caça! Na pior das hipóteses, seria uma companhia.

O lamento da criatura agora era constante e, mesmo com o eco das pedras desviando o som, não foi difícil identificar de onde vinha: um caminho estreito e serpeante levava até um pedaço de terra plana, escondido no rochedo.

Jen'Kah ficou estático - até mesmo seu coração pareceu parar de bater. Ele se escondeu rapidamente em um vão e observou alarmado: era um acampamento! Os restos da fogueira estavam completamente apagados e parcialmente cobertos pela areia: quem estava ali não havia usado o fogo por, pelo menos, quase todo o dia. Havia, porém, três barracas bem montadas. Eram vários deles... Não havia qualquer animal por lá, amarrado ou solto, mas o choro continuava, cada vez mais estridente e desesperado. E então o troll se deu conta: não era exatamente um animal.Naquele momento, sem pensar muito, deixou seu esconderijo e atravessou o acampamento. Uma forte sensação de déjà vu o acometeu e um arrepio forte percorreu-lhe a espinha: ele ainda não podia se lembrar do sonho, mas sabia que dizia respeito àquela situação.

Augúrios da NoiteWhere stories live. Discover now