Sangue

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Centenas de corpos salpicavam as areias de Silithus. Elfos, dragões, silitídeos e qirajis; aliados e inimigos jaziam juntos, indistintos, seu sangue unido na morte. Fandral Guenelmo deixara para trás o exército que liderara até então, prometendo ter seu filho morto de volta. Com a partida do arquidruida, os kaldorei se viram ainda mais perdidos e desesperados: eles haviam expulsado os inimigos, mas não se podia chamar aquilo de vitória. Ninguém saíra ileso, o sangue e a alma dos soldados fora o preço exigido. Nos braços de duas noviças, Ravena Umbruma sabia que magia nenhuma poderia salvar-lhe naquele momento.

"Rhianon... Aeryn... Chega... Não há nada que vocês possam fazer..." - Ela tentava, em vão, impedir as aprendizes de terminar suas preces. - "Parem! Pela Deusa! Eu não posso morrer com esse segredo!" - Sua voz se transformou em um soluço e as lágrimas mancharam seu rosto coberto de poeira.

As elfas pararam imediatamente, aguardando, estáticas, que a sacerdotisa, uma das mulheres mais respeitadas de Hyjal, revelasse o que tanto a poderia perturbar.

"Vocês precisam avisar Lahal Lunapluma! Eu oro para que ele esteja vivo! Oh, Deusa, por favor, não me deixe morrer sem que ele saiba! Mãe, eu me arrependo tanto!" - Suas palavras saíam entre soluços. - "Eu não sou digna da honra que me foi concedida! Me perdoem!"

Rhianon olhou preocupada para a colega. Era claro que a sacerdotisa delirava... Segurou firmemente a mão de sua superiora, dando-lhe o apoio que podia, fazendo-a saber que não estava só. Naquele momento, Ravena deixava para trás todas as construções sociais que a cercavam, ela era apenas mais uma filha de Eluna, cuja morte suas irmãs elfas velavam. Aeryn acariciava-lhe a face, enxugando as lágrimas que lhe fugiam ao controle.

"Digam a Lahal... Que ele teve um filho."

As noviças se entreolharam, espantadas.

"Eu soube e não lhe disse. Oh, Deusa, me perdoe! Eu sou a culpada pela morte dessa criança!"

Rhianon respirou fundo. A sacerdotisa estava inconsolável e não lhe restava muito tempo. Ela não podia deixar que uma irmã partisse daquela maneira.

"Aeryn, fique aqui. Eu vou encontrar o druida."

"Mas... Você não sabe se ele está vivo!" - Ela gritou, mas a amiga já saíra correndo, tropeçando entre os destroços da batalha.

Ravena continuava chorando, a cabeça recostada no colo de Aeryn, cujo coração pesava com a certeza de que nada poderia remediar aquela situação. Horas depois, a sacerdotisa conciliara o sono, mas ele era agitado, repleto pelos pesadelos que o veneno amaldiçoado dos silitídeos moldava.

"Aeryn?"

A noviça acordou assustada. Acabara cochilando, sentada onde estava. Ergueu os olhos e notou que a noite caíra. Ao lado de Rhianon estava um elfo alto, coberto de penas e sangue. Era druida de quem Ravena falara.

"Ela dormiu..." - Sussurrou.

"Acorde-a!"

"Mas..."

"Você ouviu o que ela disse! Ela não irá em paz se não falar..."

"Senhora... Senhora..." - Aeryn sacudiu-lhe cuidadosamente o ombro.

A sacerdotisa abriu os olhos devagar e assustou-se ao ver Lahal. Tentou levantar-se, mas as pernas já não lhe obedeciam. Ele ajoelhou-se ao lado dela, a tristeza estampada no rosto já marcado pela terrível guerra.

"Lahal... Meu amigo... Por favor... Eu sei que não pode me perdoar... Ninguém pode..." - Sua voz era fraca e ela tinha de fazer muito esforço para falar. - "Lahal... Quando Mayan Negraugúrio partiu naquela missão..." - As lágrimas voltavam. - "Ela carregava uma criança... Eu soube quando a toquei... Eu soube que era seu filho e a inveja me cegou! Ela não sabia! Eu não evitei que partisse!"

Augúrios da NoiteWhere stories live. Discover now