31 | c o r a g e m

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"Eu entendo que você está pensando, oh
Nossas mentiras são melhores do que a verdade
Mas eu não posso vivê-la como estou vivendo
Não posso viver uma mentira
Estou desistindo mais do que devia
Perdoe-me por meu amor frágil"
— Frail Love, Cloves.

"Eu entendo que você está pensando, ohNossas mentiras são melhores do que a verdadeMas eu não posso vivê-la como estou vivendoNão posso viver uma mentiraEstou desistindo mais do que deviaPerdoe-me por meu amor frágil"— Frail Love, Cloves

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Cego.

Completamente cego.

Como eu não notei?, me pergunto, pelo o que acho ser a milésima vez apenas naquele dia.

A resposta é simples.

Terrivelmente simples.

Porque seria bom demais para ser verdade, as palavras ecoam em resposta, soando quase como uma piada.

Desde o Natal, desde a noite em que Morgan se tornou Clare Morgan, não há outra coisa em que eu consiga pensar senão nela.

Revivo todos os nossos momentos juntos, procurando por pistas.

Falas, movimentos.

Qualquer coisa.

Qualquer coisa que mostre que ela queria, mesmo que inconscientemente, que eu soubesse sua identidade.

Mas não encontro nada.

Ela parecia verdadeiramente arrependida, entretanto. Talvez ela estivesse recomposta o suficiente no dia seguinte para conseguir me dizer tudo. Todas as coisas que sei que ela queria proferir em voz alta, mas não teve coragem o suficiente para fazê-lo. Talvez, quem sabe.

Nunca vou saber.

Porque, antes mesmo de amanhecer, eu já havia ido embora.

Desde então, tive muitos dias para pensar sobre o assunto, refletir. Tentei me colocar no lugar de Morgan, entender seu lado. E consegui, de certa forma.

Entendi tudo.

Ela mentiu, mas o problema que isso representa vai muito além disso. Muito além de nós.

É sobre como ela, envergonhada de si mesma, fez da sua própria vida um espetáculo barato. Ela, a personagem principal. O cotidiano, seu palco. E todo o resto nós, meros coadjuvantes.

É sobre como ela não mentiu apenas para mim, mas para si mesma também.

Mas toda apresentação precisa ter um final.

Eu sei como é querer esquecer o passado. Ser uma pessoa nova. E isso é possível, sim. Como Heráclito afirmava, o universo anda em um eterno fluir.

Crescemos, amadurecemos e mudamos.

Mas nunca devemos nos envergonhar de quem nós fomos. Da nossa história. Se hoje somos melhores, é graças ao ontem, em que talvez, não tenhamos sido tão bons assim.

Two Souls Where stories live. Discover now