12 de junho de 1985

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12 de junho de 85

Alice Cooper podia ser chamada de muitas coisas, mas medrosa não era uma delas.

Ao menos era o que gostava de acreditar. Quer dizer, assistiu à trilogia Sexta-Feira 13 sozinha no cinema e nunca perdeu uma noite de sono sequer por isso - algo de que se orgulhava bastante, por sinal. Era sempre a primeira a topar qualquer aventura em seu grupo de amigos - não foi ela quem inventou um acampamento no meio do nada no último verão? - e sempre, sempre, dava risada das mocinhas de filmes de terror com seus comportamentos que iam contra todo e qualquer instinto de sobrevivência.

Então por que diabos sentia seus joelhos tremerem tanto e seu estômago dar cambalhotas ridículas enquanto rumava ao velho Cinema da Rua Elm?

— É sério isso? - encarou o próprio colo com uma expressão insatisfeita, forçando seus pés a pararem quietos nos pedais do carro pela força do ódio - Você não pode estar com medo disso, garota... - murmurou, encostando a testa sobre o volante e respirando fundo algumas vezes para se acalmar.

Alice tinha passado os últimos dez dias repassando aquilo mentalmente centenas de vezes, buscando analisar todas as possibilidades: um maníaco com uma serra elétrica? Um incêndio no cinema? Não fazia ideia do que aquele código estúpido queria dizer - e se estapearia no futuro por aquela ideia idiota - mas sabia de uma coisa: não podia simplesmente obedecer, e nunca saber do que se tratava. Ela não tinha morrido, certo? Ou não teria nem mesmo enviado a carta... O que quer que fosse, não poderia ser tão ruim assim.

— Bem, Alice-do-futuro, se queria mesmo que eu seguisse essa porcaria de ordem idiota... - continuou, irritada, porque era melhor ter raiva do que medo - Adivinha?! Deveria ter sido mais clara! - continuou sua briga consigo mesma enquanto chegava à rua do cinema, sentindo o coração se acelerar dentro do peito ainda mais do que ela fazia ao dirigir acima do limite de velocidade.

"Nunca visite"... Francamente.

A garota estacionou o velho Maverick da mãe bem diante do cinema, e não se permitiu mais um segundo sequer de hesitação antes de saltar do carro, olhando desconfiada para as portas fechadas do local. O sol começava a se pôr naquele entardecer de terça-feira e, como esperado, não havia sessões programadas para aquela noite - então o que diabos deveria fazer ali? Ou não-fazer ali? Sentia-se estrelando sua própria versão de Ghostbusters, mas os únicos fantasmas que procurava eram aqueles que assombravam seu futuro.

Um pôster enorme de Clube dos Cinco lhe encarava com rostos sorridentes, e Alice não encontrou nem mesmo disposição para olhar um pouquinho mais para a figura de John Bender, seu mais novo amor platônico. Tinha negócios a tratar.

Um segundo olhar mais atento - aquela viga não parecia velha o suficiente para desabar e causar um acidente, certo? - e notou a porta na realidade estava aberta. Fácil demais. Oh, Deus...

— Merda, merda, merda... - resmungou sozinha, porque se sentia exatamente como uma mocinha de um filme trash, fazendo exatamente o que não deveria. Estaria jogando pipocas TV, se estivesse assistindo à cena, para ser sincera.

Mas aquele não era um filme de terror.

Colocando um pé diante do outro e desejando intimamente não morrer usando um moletom velho do Hard Rock Cafe e os All Stars cor de rosa de Bree - seria humilhação demais - a garota andou silenciosamente, seguindo o som que, enfim conseguia perceber, não se parecia com uma trilha sonora de filme de horror. Pelo contrário.

"I would say I'm sorry
If I thought that it would change your mind
But I know that this time
I have said too much
Been too unkind"

"Boys don't cry" se tornaria a música deles a partir daquele instante, mas Alice não tinha como saber disso.

Como também não podia imaginar que, por mais bonita que fosse a voz dele naquele momento, jamais soaria tão bem quanto um tantinho mais rouca ou ligeiramente sem fôlego, bem próximo ao seu ouvido.

Não tinha mesmo como saber que o garoto que cantava para uma plateia invisível, com o macacão jeans parcialmente desabotoado deixando aparente a camiseta do Led Zeppelin, era o amor da sua vida - ou seria, um dia.

Os olhos dele se abriram, encontrando os de Alice imediatamente - não por magia ou algo do tipo, mas porque a garota parada na escadaria era a única viva alma dentro do cinema, além dele próprio. Então ele sorriu, não porque reconhecesse ali um grande amor, mas porque ela era a coisa mais bonita em que já colocara os olhos e, bem, ele era só um garoto. Um garoto apaixonado por bandas de rock progressivo, tênis coloridos, e garotas bonitas.

Talvez a verdadeira mágica tenha começado quando ele perguntou, um tanto surpreso, se ela gostava de The Cure. Ou quando ele conheceu riso Cooper - porque, por favor, ela conhecia toda a discografia deles! - e lhe devolveu um sorriso que combinava aquela malícia despretensiosa que era tão sua com a inocência de um par de covinhas.

É possível que tenha sido quando ele pediu que ela ficasse - e ela ficou, por mais meia dúzia de músicas. Ou quando Alice lhe contou o que fazia ali no cinema abandonado - caçava fantasmas, por assim dizer - e ele se ofereceu para ajudar, com olhos cheios de promessas de aventuras que, tão cedo, já faziam o coração corajoso dela se acelerar um pouquinho.

Talvez tenha começado muito antes, quando nasceram; ou muito depois, quando a Alice-do-futuro escreveu a carta idiota, pedindo a si mesma que nunca fosse àquele cinema.

Por sorte ou azar, Alice Cooper podia ser chamada de muitas coisas - mas medrosa não era uma delas.

E foi assim que, em 12 de junho de 1985, ela conheceu Lim Sejun. 

VERÃO DE 85 • Lim SejunOnde as histórias ganham vida. Descobre agora