17 de agosto de 1985

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17 de agosto de 85

— Você não tá ansioso pra abrir?

Alice espiava a carta entre os dedos de Sejun, mas o rapaz não parecia tão preocupado quanto ela. Talvez porque não acreditasse tanto naquela bobagem de carta, talvez porque estivesse plenamente feliz com seu presente para se preocupar tanto com o futuro. Os dois tinham se esgueirado pela portinha pequena da Casa da Árvore no quintal da casa da garota há mais de meia hora, sem fazer de fato o que combinaram de fazer ao pisarem ali.

Sejun completava 20 anos, e os dois tinham decidido que ele leria a carta no último local citado na carta de Alice, para encerrar de vez aquele mistério sem fundamento que, agora a garota acreditava, não passava de uma piada de mal gosto dela para si mesma.

— Você quer ler? - ele perguntou, dando de ombros, e a garota revirou os olhos, irritada - Ok, ok, eu vou abrir. - cedeu, rompendo o lacre da carta.

— Eu nem devia estar aqui, sabe? - Alice se adiantou em direção à porta, porque não de alguma forma não parecia certo que testemunhasse um momento tão pessoal.

— Alice, espera. - Sejun segurou seu braço, porque não queria fazer aquilo sozinho - Fica, por favor. - pediu, e demorou um segundo para que a garota concordasse, sentando-se de pernas cruzadas de frente para ele, observando atentamente cada movimento do rapaz que, só então ela percebia, tinha as mãos trêmulas - Tem algo que... - ele levou uma das mãos à nuca, abrindo um sorriso de canto quase envergonhado, que não era tipicamente seu, mas ainda assim parecia lhe cair bem - Independente do que essa carta idiota diga, eu queria dizer que... Você é a garota mais incrível que eu já conheci, Alice Cooper. - seus olhos se espremeram pelo sorriso, bem como os dela faziam diante dele - E me apaixonei por você no segundo em que você entrou naquele cinema, e...

O que quer que fosse dizer foi interrompido pelos lábios de Alice, que se chocaram contra os seus em um beijo carregado daquela energia adolescente que era tão deles. Beijavam-se com carinho e curiosidade, conhecendo um sentimento inteiramente novo que, começavam a entender, era a verdadeira aventura daquele verão.

— Eu não acredito que você transformou meu filme de terror em uma comédia romântica idiota... - Alice murmurou contra os lábios dele, e o modo como Sejun riu ali tão pertinho era algo com que ela poderia se acostumar facilmente na vida.

— Sinto muito. - ele acariciou o rosto dela com os polegares, admirando o rosto da garota sobre a qual gostaria de cantar pelo resto da vida - Anda, vamos terminar com isso... - puxou Alice para que se sentasse ao seu lado, enfim abrindo o envelope do futuro. Trocou um último olhar com a garota, antes de enfim começar a ler sua carta - "E aí, cara? Feliz aniversário!"

Já começa ganhando pontos pela educação, ao contrário de mim... - Alice resmungou, sendo calada por um olhar do garoto - Ok, desculpa, continua...

"E aí, cara? Feliz aniversário!

Esse ano foi animal, não foi? Tenho certeza de que não se arrepende de ter se mudado. E não deveria, mesmo... Foi uma das coisas mais importantes que fizemos.

Se minhas contas estão certas, a essa altura você já descobriu The Smiths, e te garanto que dez anos depois eles ainda são sua banda favorita. Você acreditaria se eu contasse que já abriu um show deles? Que bom que perdeu seu medo do palco, hm?

E se hoje é 17 de agosto de 85, isso significa que você contou a Alice Cooper que a ama.

Eu não sei quanto do futuro devo revelar, nunca entendi bem o quanto essas cartas - que você achava idiotas, e eu sigo pensando o mesmo - impactam nas nossas escolhas. Mas dizem que é a nossa única chance, certo? Então acho que é importante que saiba disso: Alice é o amor da sua vida.

O tempo vai passar e vocês terão problemas, como todo casal. Brigarão como nunca pensaram que poderiam algum dia, mas por favor... Por favor, Sejun, nunca se esqueça do que sentiu nesse verão. Nunca deixe que ela se esqueça, também. Porque, honestamente, sucesso algum (e te garanto que você chegou lá!) vale a pena se não a tiver do seu lado.

Eu não sei o que Alice disse a si mesma na carta dela, depois do modo como tudo acabou entre nós dois. Talvez ela queira tentar de novo. Talvez deseje nunca ter te conhecido.

Espero, de verdade, que você faça um trabalho melhor do que eu.

Seja feliz, sempre.

Lim Sejun."

VERÃO DE 85 • Lim SejunWhere stories live. Discover now