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PRESENTE
CEDRIC PHOENIX 

Tochas de bambu estavam espalhadas pela baía de Whitewater, iluminando a noite densa e carregada de nuvens. De longe, sentado sobre o píer próximo de onde os barcos estavam atracados, observava o grupo que bebia, dançava sobre a areia e conversava. Embora a ideia da festa fosse inspirada em luaus, não parecia muito como um. Estava frio e sombrio demais para isso.

A ilha era grande. A parte em que estávamos era a mais inóspita, onde algumas casas, refúgios de verão, se localizavam. Naquela parte do ano, porém, o lugar estava quase vazio. Exceto pelo lado norte de Whitewater, na qual ficavam algumas vilas e a área da reserva Sugpiaq, que podiam ser acessados pela balsa que levava até o continente ou pelas próprias estradas dentro da ilha.

A festa ocorria na praia mais próxima da pequena e simples marina, que, por sua vez, ficava em frente a uma casa grande, feita de madeira branca. Ela estava iluminada e com a porta escancarada. Vez ou outra, algumas pessoas entravam e saíam de lá com mais comida e bebida.

Não pude deixar de notar quando Kennedy entrou lá com o jogador de hóquei, cuja família era dona da casa. Meus olhos não desgrudaram dela desde que a garota entrara no meu barco. Era inevitável, eEla sempre chamou minha atenção e despertou minha curiosidade. Eu não saberia explicar como ou porquê, mas ela era a única pessoa que me interessou em muito, muito tempo. Havia algo nela com o qual eu me identificava, embora fosse evidente o quão opostos éramos um ao outro.

Kennedy e o cara, cujo nome eu desconhecia, desapareceram dentro da casa e não voltaram mais. Com um suspiro longo e derrotado, forcei minha mente a se distanciar dos pensamentos que envolviam aquela garota. Voltei minha cabeça em direção ao mar à minha frente. Ele não era nada além de um breu sem fim, se camuflando junto à escuridão do céu.

Eu sabia que uma tempestade começaria muito em breve, o que me tornava um babaca irresponsável por ter aceitado velejar naquelas condições. Havia alguma chance de ficarmos ilhados em Whitewater durante a madrugada, mas eu não poderia ter negado aquele trabalho. A garota, Rebecca, estava disposta a pagar muito dinheiro a quem aceitasse levar ela e seus amigos até a ilha e eu não podia me dar ao luxo de negar dinheiro. Ainda tinha uma dívida para pagar, afinal.

Me empertiguei quando o vento aumentou de intensidade. O som das ondas do mar colidindo violentamente contra as pedras da costa da península era alto. A ventania balançou as árvores, de modo que elas ricochetearam furiosamente, sendo lançadas de um lado ao outro. O som de um trovão retumbou de repente, tão alto e forte que pareceu fazer a ilha tremer. Me levantei, voltando o olhar para o grupo ao redor da fogueira, cuja chama se apagara. Enquanto alguns se assustaram com o prenúncio da tempestade e correram para buscar abrigo, outros gritaram e comemoraram.

Rolei os olhos, sentindo meus cabelos e roupas se moverem com o curso do vento.

Eu queria ir para o interior do veleiro e deixar a festa para lá. Afinal, o lado bom de ter uma casa móvel e flutuante, era poder levar seu abrigo para onde quer que você fosse. Mas eu sabia que a tempestade seria feia, e, parte de mim estava preocupado com Kennedy, apesar de saber que ela estava segura no interior da casa.

Antes que eu pudesse tomar qualquer decisão, fui surpreendido pela aproximação de Kai. Ele tinha os longos e lisos cabelos pretos presos num coque e, diferente de mim, não estava agasalhado. Usava roupas finas, leves e mal parecia ser afetado pelas rajadas cortantes de vento. Um relâmpago cruzou o céu, iluminando a escuridão da noite por apenas um segundo.

— Ei, cara — falou, subindo no píer. — Vi de longe a vela do barco e soube que você estava por perto.

— O que faz por aqui? — perguntei, ao mesmo tempo em que o cumprimentava.

O Inverno Entre Nós (BITTER COLD)Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu