Meu Querido Inimigo

Sem Você

Daniel ainda não podia acreditar no que estava acontecendo. Seu avô, que o ensinou a jogar dominó, a pescar e a comer o peixe sem engasgar com a espinha, que ensinou-o a montar um cavalo. Desde o dia em que foram morar na Inglaterra até o dia em que vieram embora para casa, os avós paternos de Daniel sempre estiveram com ele e a irmã. Mesmo quando os pais passavam o dia inteiro trabalhando, eles ainda podiam contar com seus avós. Eles ensinaram à Anne e Daniel a viverem. E agora um deles estava morto.

Daniel segurava o celular nas mãos enquanto olhava vagamente para um ponto qualquer na paisagem que passava através da janela do carro. Estavam quase chegando na pista de pouso de seus pais, para embarcarem no jatinho até a Inglaterra, quando ele recebeu uma mensagem. Olhou o visor: Nath.

O que houve com você? Não o vi depois do fim da apresentação. Está tudo bem?

Ele suspirou.

Estou bem.

Poucos segundos depois, o celular dele tocou. Era ela. Ele pigarreou antes de atender.

– Alô?

– Tem certeza que está bem? Onde você está?

– Hum... No carro.

– Já está indo para casa?

– Er... Sim. – ele respondeu, depois de alguns segundos.

– Não minta para mim. – disse ela, em tom de advertência – Onde você está?

– Eu já disse, no carro.

– Indo para...

Daniel suspirou. Não podia mesmo vencê-la.

– Estou indo para Inglaterra.

Ela permaneceu em silêncio alguns segundos.

– Inglaterra? Aconteceu alguma coisa.

– Lembra do meu avô que estava doente e não podia vir ao casamento de Anne?

– Sim.

– Então... Ele faleceu hoje. Estamos indo à Inglaterra para o enterro.

– Oh. Sinto muito.

Daniel engoliu seco. Tentou reprimir a vontade de chorar.

– Tudo bem.

– Mais tarde falo com você. Tchau.

– Tchau. – e desligou.

Do outro lado, Nathalie sabia o que tinha acontecido, mas acho que não seria educado dizer que tinha ouvido a conversa deles. Então preferiu fingir que não sabia de nada quando mandou a mensagem para Daniel. Estava preocupada com ele. Sabia que seu avô era uma pessoa importante. Perdê-lo deveria ser muito doloroso. Depois que desligou o telefone, ela resolveu dar um pouco de espaço a Daniel e não contatá-lo pelos próximos dias – apesar de querer saber quando ele ia voltar.

Os dois dias seguintes correram silenciosos e calmos. Nathalie não tinha nenhuma notícia sobre Daniel ou seus pais. Todos os dias ela checava a caixa de mensagens do celular para ver se tinha alguma coisa dele. Olhava para a janela do seu quarto esperando que talvez ele tivesse voltado sem avisá-la. Mas nada. Sentiu vontade de ligar várias vezes, mas não podia. Tinha que respeitar o espaço dele.

Porém, na noite do segundo dia, Nathalie recebeu uma mensagem:

Garoto Idiota:

Está acordada?

Nathalie deu um salto da cama e respondeu rapidamente.

Estou. Você está bem?