Capítulo 1 - Desejo

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- EU ODEIO ISSO! - A morena gritou, assim que se encolheu no sofá.

Sinuhe, sua mãe, que lia uma revista logo sentada ao seu lado, tirou os olhos da revista de decorações, encarando apenas a filha, que já não suportava mais tanta cólica.

- Cala a boca, Camila. - Sinuhe pediu, logo foleou a revista.

- Mãe, ta doendo.

- Legal.

- POR QUE EU NÃO NASCI MACHO, DEUS?!

- Eu vou jogar minha chinela na sua cara se você não parar de gritar.

- Desculpa! - Sinuhe voltou a atenção para a revista e Camila gemeu em dor. - Hmmm... Sinuhe, me dá um remédio?

- Você já tomou dois comprimidos em duas horas, Camila. Eu não quero que tenha a droga de uma overdose, mesmo sendo essa menina insuportável que você é.

- Nossa, mãe. Também te amo. - Camila bufou e revirou os olhos, ao perceber que sua mãe mal ligava. - Também não lavo mais a louça...- Reclamou baixo, antes de sentir a pantufa na própria cara.

- Ai mãe!

- Diz isso outra vez e eu te faço lavar o telhado de casa com uma esponjinha, Karla Camila.

- Desculpa... - Camila mexeu na ponta do próprio cabelo e fez bico, vendo que sua mãe poderia jogar um outro chinelo - dessa vez de madeira - em sua cara, se ela não usasse as palavras certas.

- Eu estou com fome... - Sinuhe jogou a revista na mesa de centro e olhou para Camila; o terrível olhar da morte. A morena se encolheu.

- Mãe, eu já disse que senhora está linda, e que seus olhos são muito bonitos?

- Filha, eu já te disse que Deus te deu dois braços, duas pernas e um esqueleto pra levantar a merda dessa bunda e ir até a cozinha comer se estivesse com fome? - Camila fez bico e Sinuhe sorriu.

- Quer sair para comer alguma coisa?

- Sinuhe... você é bipolar?

- Não, Camila. Sou uma mulher e sou mãe. Quer sair ou não?

- Tirando o fato de estarmos aqui, eu e você... sozinhas... sem comida e você na tpm, pelo amor de Deus, vamos para algum lugar público antes que não haja testemunhas para suas agressões.

[...]

- Onde está Dinah? Ela é sua melhor amiga, ela quem tem que passar o dia com você, te suportando. Não eu. - Sinuhe exclamou. Camila a encarou e sorriu fraco, logo abraçou os ombros da mulher. As duas estavam andando em um shopping, indo em direção a praça de alimentação.

- Eu sei que a senhora me ama.

- Eu sou sua mãe. Teria opção? - Sinuhe gargalhou da cara fechada que Camila fez, e logo abraçou a cintura da menina de volta.

- Poderia ter me jogado no lixão, mãe Lucinda.

- É... sua avó quem me mandou voltar para te buscar... mas eu não queria. - Camila outra vez fez careta, e dessa vez, Sinuhe apenas encarou uma vitrine, onde tinha uma bolsa realmente bonita.

- Mãe, isso dói... - Sinuhe sorriu e virou o rosto, deixando um beijo babado na bochecha da filha.

- Eca. - Camila limpou, enquanto sorria fraco.

- Dinah saiu com a menina que ela gosta...

- Você e esse seu sapabonde... meu Deus, Camila.

Camila gargalhou e logo entraram num restaurante Japonês.

Ambas se sentaram em uma mesa logo perto do buffet, onde seria mais rápido para levantar e pegar comida. Tática infalível de Camila.

- O que você vai querer, mãe?

- Tem pastel... de frango? - Camila caiu na gargalhada, teve de tampar os lábios com a mão para ser discreta, algo que era realmente impossível de ser quando saia com Sinuhe.

- Mãe!

- Incrível como a sua cólica passa rápido, não é?

- Acho que era fome... - Camila disse simplesmente. Sinuhe revirou os olhos e segurou o cardápio da mesa, assim como Camila já fazia.

...

- Ai, caralho mulher, porque você foi tocar no assunto? Agora vou ter que ir ao banheiro, se não esse mini alienzinho vai corroer meu útero com uma espécie de ácido especial... - Camila riu.

- Você se ferrou. Isso vem da sua avó, já eu, nem tenho cólica.

- Maldita sortuda. - Camila bufou.

Levantou-se desconfortavelmente e logo caminhou em direção a onde ficava o sanitário. Antes de entrar, acabou sendo chamada por um garçom baixinho.

- Com licença, senhora. Aceita biscoitinho da soiti? - Camila quis rir, mas foi ser humaninha o suficiente para aceitar, logo agradecer.

- Cuidado. - O garçom apenas avisou. Camila abriu o biscoitinho assim que atravessou a porta do banheiro. Tirou o papel pequeno com a frase impressa:

"Desejos se tornem reais quando você realmente os deseja."

Leu em voz alta, já que estava sozinha. Camila revirou os olhos. Não acreditava muito em superstições como aquela. Sentiu uma contração fraca no útero e bufou.

- No momento, eu só quero ter um pau de 20 cm. Já ganharia a vida.

Wishes - CamrenWhere stories live. Discover now