Capítulo 9 - Ele Tocou

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O quão estranho era encontrar uma garota para consultar em um urologista?                   

Olhei para o senhor sentado logo minha frente e franzi o cenho. Ele estava com a boca aberta, - quase dormindo eu acho -, e parecia ter seus 90 anos. A cabeça dele caia, mas ele acordava rapidamente. 

Só espero que realmente seja sono, pois se o homem levantar o braço apenas pra se espreguiçar, Deus puxa e leva. Credo.

O brinquedo dele funciona ainda?

- Camila, para com isso. - Lauren exclamou, rindo baixo enquanto mexia no celular. Eu tinha pedido pra ela ao menos me acompanhar, nem que ela esperasse no carro, mas não recusei sua companhia. Estávamos lado a lado na sala de espera do consultório. A encarei confusa. 

- O que? - Ela devolveu o olhar e sorri fraco. 

- Pessoas idosas se cuidam também. Sei no que estava pensando, encarando aquele senhor ali. - Dei uma risada baixinha e assenti. 

- Nem todos estão aqui para tratar de coisas sexuais, Camz. Você não está. - Lauren, que teria voltado encarar a tela do celular, então voltou a devolver meu olhar. - Ou está? - Sorri maliciosa e neguei, mesmo que ainda tendo pensamentos inapropriados do que eu poderia fazer com esse brinquedinho em especial. Posso dizer que mantê-lo, não era mais tanto assustador. 

Era realmente mais simples, não desmerecendo o órgão feminino, que eu amo/sou. Mas era maravilhoso estar equipada a quase um mês (e sim, já havia passado tudo isso) Eu simplesmente não tinha coragem para consultar) não sentindo dores no útero ou simplesmente querendo morrer. Até Sinuhe parecia mais legal. 

O único problema, era acordar dura e não ter coragem ou sentir receio de me aliviar. É, estranho. Eu sei. Pênis continuava sendo uma coisa que eu evitava manter contato. 

Mas eu até aprendi a mirar! 

- E você precisa saber? - Ela riu e negou.

- Eu não preciso, mas eu quero. - Outra vez, eu sorria maliciosamente. 

- E por que quer saber, Lauren?

- Ei! Não pense merda, Camila! -  Ela riu. - Sou sua amiga, só quis saber. - Lauren cruzou os braços e eu continuei a encarando, sorrindo fraco. Olhei seus braços caírem e segurei sua mão, entrelaçando nossos dedos e a vendo observar o ato.

- Obrigada por me ajudar com isso, Lo. Obrigada por tudo. - Ela sorriu e apertou minha mão de volta.

- Camila... Cabello? - Fui chamada, antes de Lauren pronunciar qualquer coisa. Encarei a senhora parada logo na porta de uma sala e fiquei em pé, soltando a mão de Lauren.

- Hey, você pode me esperar no carro se isso aqui ficar chato. - Avisei. Lauren assentiu e sorriu, logo acenou, ao que caminhei até senhora, que me sorriu.

[...]

- Camila? - Dr. Jauregui perguntou, juntando as sobrancelhas. E, ele deveria estar pensando em o que uma garota como eu fazia ali.

- Oi, Dr. Jauregui. - Me sentei e ele juntou as mãos. 

- Então...? - Perguntou. Me ajeitei na cadeira, escolhendo as palavras para conseguir lhe contar.

- Bom... o... o senhor já ouviu falar de intersexualidade? Digo, eu não tenho certeza, ao menos nunca tinha ouvido falar disso... - Fui direta e ele assentiu.

- Você é intersexual? - Assenti lentamente e ele sorriu.  - Tudo bem, estou ciente sobre isso.

- Eu não sei bem se é isso, para falar verdade. É uma história confusa... ele só.. apareceu - Mike coçou a nuca e vi a dúvida em seus olhos.

- Desculpe, mas... como assim?

- Bom, pra ser sincera, eu realmente não sei o que aconteceu. Pode parecer mentira, mas.. foi do nada, antes eu não era assim..

- Okay. Acho que entendi.

- Bom, se isso for duvidoso, talvez eu arrange algum ultra-som antigo da minha mãe e... o senhor.. - Corei intensamente. Eu teria que mostrar?

- Pensando por um lado, me parece suspeito, mas você parece estar falando sério. - Assenti. - Nunca lidei com um caso desses, Camila, mas posso tentar. Gostaria que confiasse em mim, para que eu apenas examine direito. Não se preocupe. - Oh, não não não não. - Você pode vir comigo? - Não.

- Claro. - Não não não não.

- Entre aqui, e pode despir-se. - Ele falou, parando perto de uma porta, que imaginei ser outra salinha. Não não não não. Jesus, eu não quero. - Só tire as roupas da cintura para baixo. - Cadê Bey Nazaré quando se precisa, senhor!

Ainda hesitante, o obedeci, suspirando fundo e tomando coragem, logo descobrindo uma outra salinha, com uma maca, alguns balcões de prateleiras e vários cartazes com aqueles desenhos de livros de biologia. Quanto pinto nesse galinheiro, santa Beyoncé Knowles.  Fiz o mandado e logo estava com o protótipo de perna livre, feliz e sorrir com a liberdade do short apertado. - Confesso que tentei fazer pirocoptero uma vez semana retrasada -, mas as coisas ficavam se chocando e acabei desistindo.

- Posso entrar? - Ouvi a voz de Mike outra vez. Engoli em seco.  Não.

- Pode. - Falei simplesmente. Ele entrou, e logo seus olhos arregalaram, mas ele rapidamente voltou a expressão normal.  - Eu sei, isso é horrível-

- Não, isso é apenas surpreendente. - Caminhou até uma das prateleiras e puxou uma caixa, que descobri serem de luvas. Ele foi até a pia e lavou as mãos, antes de secá-las e vestir a mesma com o objeto de latex. Quase sai correndo quando ele começou a se aproximar.  - Abra um pouco as pernas. - Pediu. Ruborizei horrores, mas apenas o obedeci. 

Jesus. Ele vai tocar.

Não. Não. Não. Ai meu pau, ele tocou.

Que ótima situação, hein Camila?! É lésbica, pede um pau, e então um homem encosta antes mesmo de você. O quão contraditório isso soa? Jesus. Os testículos não.

Wishes - CamrenOnde as histórias ganham vida. Descobre agora