Prólogo

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  Eu sabia que  aquilo não ia terminar bem, eu sabia

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  Eu sabia que  aquilo não ia terminar bem, eu sabia. Mas o Beto não quis me ouvir, como sempre!
Olhei em minha volta para saber onde estamos. A minha cabeça latejava. Coloquei a mão no local da dor e percebi que estava molhado e inchado, ao olhar a mão vi meu sangue.

— "Que droga!" — xinguei sem saber o que fazer.

Olhei em volta de novo, desta vez procurando  meu irmão.  Não consegue vê-lo, me apoiei no chão para levantar. Meu Deus, que dor horrível. O corpo todo doía. Tombando um pouco comecei a procurá-lo, chamando seu nome aos gritos.

— Beto, Beto, cadê você? Mano, responda, por favor!

Voltei um pouco pelo caminho verificando se ele ficou para trás. Nada! Cadê ele, e a moto? Começo a ficar aflito, preocupado, desesperado.  Em um dos lados da estrada tinha um matagal, ao me aproximar vi algo vermelho brilhando sob a luz do sol. Sem demora me enfiei naquele lugar cheio de matos cortantes.  E logo avistei a moto do meu pai com o guidão retorcido e outras partes arrebentadas. Ele vai comer nosso couro.

      — Beto? Responde, mano! —  gritava mais uma vez com a mão na cabeça sem saber o que fazer.

A tarde estava com o sol escaldante, minha pele ardia com a intensidade do calor. Eu ficava mentalmente fazendo súplicas a Deus. A gente estava no meio do nada, a estrada era de barro e não ia demorar para o sol se despedir, nos deixando a escuridão.  Conforme a adrenalina do meu corpo ia passando eu sentia mais dor. O meu abdômen começou a doer com muita intensidade, levantei a camisa e vi um objeto dentro dele.

— Como isso veio parar aqui? — tento puxar o pedaço de vidro, mas ao fazer isso a dor ficou mais intensa e eu acabo desistindo.

— Beto, vamos embora. Tem um vidro dentro da minha barriga. — eu imploro para ele me responder, mas tudo que eu escuto é o barulho dos matos sendo balançado pelo vento. Entro um pouco mais e de longe avisto ele apoiado sobre  a árvore. Me esforço para ir mais rápido até ele. Ao chegar lá percebo que Beto está desacordado. Como ele veio parar aqui? Jesus.

—  Beto, mano, acorda. Você precisa…

Coloco as minhas duas mãos na cabeça e caio de joelhos  ao chegar perto dele.  Isso só poderia ser um o maldito pesadelo, o que os meus olhos avistavam não poderia ser real. Eu fechei os olhos com força e  na tentativa da visão do meu irmão com galho enfiado no seu peito desaparecesse, foi em vão para meu desespero. Ele estava lá de olhos abertos, porém sem vida.

Meu Deus, o que um garoto de 15 anos poderia fazer ao ver o seu  irmão com uma madeira enfiada dentro do seu peito? Devagar eu levantei a minha mão direita e toquei em seu rosto que ainda estava quente. As lágrimas começaram descer pelo meu rosto como cachoeira. Eu gritei, berrei, uivei. Fiz todo tipo de som que o ser humano poderia fazer em um momento de desespero. Eu não acreditava que minha outra metade estava ali sem alma. Desesperado eu clamei por socorro, eu chamei por Deus.  Um abismo tinha se aberto bem em minha frente.  A vida para mim não tinha muito sentido agora. Naquele instante eu queria que Deus me tomasse, e me levasse para qualquer lugar. Apenas queria ser tirado dessa cena terrível.
Se fosse possível eu trocaria de lugar com ele. Ainda de joelhos eu agarrei as suas pernas e chorei.

Fiquei caído no chão, a dor que eu sentia tanto no peito como da barriga era terrível de suportar. Acredito que tenha perdido a consciência, pois quando eu abri os meus olhos o sol já estava se pondo. Mesmo sem força me levantei, voltei para estrada.
Fui pedir socorro para alguém pegar o corpo do meu irmão, pois o corpo merecia descansar em um lugar mais confortável e seguro. Perdi a pessoa mais incrível do mundo. Eu não sabia se conseguiria andar com os próprios pés depois daquilo.

🩰

Até breve...

Nas Pontas Dos PésOnde as histórias ganham vida. Descobre agora