[21] cabelos descoloridos e prédios abandonados

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JUNGKOOK:

— Você acabou com meu cabelo, Park Jimin. — É minha primeira frase do dia, logo cedo. — Filho da puta do cacete.

No espelho do banheiro, observo o que sua descoloração fez com o que eu costumava chamar de cabelo. Aí, segundos depois, o som dos seus passos raivosos e descalços é ouvido pelo corredor, até que ele finalmente chega e enfia a cara no batente da porta, respondendo:

— Você tem que hidratar. Quer milagre, é?

— Para começo de conversa, eu nem queria pintar. Olha a textura disso! — Para justificar minha indignação, estico uma mecha toda quebradiça, e o safado tem a coragem de segurar o riso. — Está vendo? Isso vai cair, Park Jimin.

— Se aquieta, fique feliz! Eu te chamei para jantar!

Criatura miúda do caramba.

Nem tamanho tem e vem me deixar sem graça logo à essa hora da manhã.

Digo, óbvio que eu o deixarei me pagar uma refeição, sei que isso é importante porque em sua cabeça serve como uma pequena retribuição por tudo que eu faço. É o que Jimin sempre diz, mas agora eu pergunto: o que eu faço? Não me reparo fazendo tanto assim como ele costuma dizer, e só então percebo.

Normalmente não me dou conta das coisas que faço por Park porque já se tornou hábito. Eu não ligo se ele come minha comida, dorme em minha casa e todas essas coisas que eu claramente ficaria irritado se fosse com qualquer outra pessoa.

Mas talvez, para esse garoto que mal tem onde cair morto depois que a família cortou qualquer tipo de contato, todos esses pequenos atos sejam a coisa mais importante de sua vida.

Por isso meu semblante suaviza e minha chateação se ameniza; meus olhos buscam os seus pelo espelho, eles estão claros feito mel devido à claridade e me encaram com ternura.

Jimin está sempre me olhando assim.

Parece um misto de admiração com algo que ainda não sei identificar, ou talvez eu já saiba, apenas tenho medo de dizer em voz alta.

Ontem, naquele parque de diversões todo iluminado por luzes em diferentes tons, seu cabelo cor de rosa encantou à todos num lugar lotado de pessoas, mas ainda assim fui eu o escolhido para ganhar toda a sua atenção.

— Diz alguma coisa, ficou constrangedor...— Ele pede fazendo bico.

Tenho vontade de cortar essa boca fora, de tanto que ela me atiça.

— Eu te darei prejuízo na conta, já vou avisando. — Brinco, porque jamais faria isso sabendo o quão pouco ele ganha e o quanto esse dinheiro significa nessa fase de sua vida.

— Você pode comer o que quiser, Jungkook-ssi! Tudo que quiser mesmo! Pode escolher, eu juro, e também pode pedir sobremesa, mas a sobremesa também pode ser eu quando chegarmos em casa.

— Sete da manhã, Park. Limites.

— Desculpa. — Sorri travesso. Ele observa atentamente enquanto tento passar um pouco de creme hidratante nessa barbaridade que se tornou meu cabelo, mas avisa: — Não, não é assim. Vem cá, deixa eu tentar.

Paciente, Jimin vem se aconchegando mais perto e em instantes pega impulso para conseguir se sentar na pia, de frente para mim, me puxando até que meu corpo se acomode no meio das suas pernas.

Lentamente meus fios são cuidados e a aparência vai ficando um pouco melhor, mesmo que ainda esteja uma desgraça de tão detonado.

— Você fez isso comigo como castigo? — Minha pergunta carrega em si apenas a vontade genuína de provocá-lo. — Para eu me olhar no espelho todos os dias e me sentir um sabugo de milho?

HELLISH • jjk x pjmWhere stories live. Discover now