Capítulo 13 - O primeiro mês

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Houve uma grande mobilização de todos em redor de Alexander para permitir que ele retomasse o máximo de normalidade em sua vida possível! Ficou combinado que alguém estaria "de plantão" no hospital, toda a vez que precisasse ir para casa, ficar com os filhos ou apenas descansar. Em princípio, a intenção era que fizesse isso todas as noites, o que rejeitou imediatamente! Não poderia ficar tanto tempo longe do hospital!
A segunda opção foi que, ao menos, dia sim, dia não, passasse uma noite em casa. É claro que a combinação de que alguém tomasse seu lugar permanecia. Desta vez, Alexander pareceu mais conformado com a ideia. Afinal, Lilly ainda era muito pequena e precisava dele. Mesmo que ainda achasse que uma noite, a cada dois dias, fosse um longo tempo distante de Luna, tinha que aceitar. Pelo menos, temporariamente.
Trabalho, porém, estava fora de questão! Adam fez o anúncio em um programa de TV noturno. Os Whispers seguiram suas atividades e shows, conforme agendado e planejado, mas Alexander não faria parte daqueles compromissos, ao menos enquanto Luna estivesse no hospital! Não houve reação negativa dos fãs, ao contrário! Receberam muitas mensagens de apoio e respeito.
Quando estava no hospital, Alexander criou uma rotina consistente. Conversava com o médico de Luna ou qualquer um que estivesse de plantão. Depois, passava um tempo andando pelo corredor, em frente a porta do CTI, às vezes, sentando-se no chão por alguns instantes. Depois, ia até o refeitório, onde, no começo, não sentia vontade de comer coisa alguma. De lá, passava pela sala de espera, onde os outros se reuniam. Em seguida voltava para seu quarto ou, conforme o dia, se preparava para ir para casa.
Estar em casa trazia o consolo de estar com os filhos. Junior passava todo o tempo ao redor dele, fazendo perguntas ou contando histórias sobre Matheus, Bella ou sobre os gatos. Quando se cansava, o menino ia sozinho deitar na cama do quarto do casal, onde mais tarde, seu pai se juntava a ele.
Lilly era uma criança tranquila e silenciosa. Raramente acordava no meio da noite e quando estava acordada, o máximo que se ouvia dela eram os resmungos de quando tinha fome ou precisava de algum outro cuidado. Quando estava nos braços pai, sorria e estendia as mãos, tentando alcançar a corrente em seu pescoço ou seus brincos. Era caloroso e trazia algum consolo em meio àquela tempestade.
Ao mesmo tempo, passar algum tempo em casa, também tinha algo de doloroso. Além do enorme painel com a foto de Luna que ficava na sala, havia sinais e vestígios dela por todos os lados! Desde seus gatos, com os quais sempre tinha o máximo cuidado e carinho; até seus maços de cigarro, largados por todos os cantos da casa, sapatos e roupas jogados em lugares inadequados e inusitados. Sempre que achava que tudo já estava organizado, acabava encontrando alguma outra coisa dela, jogada em algum lugar. E sempre era doloroso!
Pouco antes da terceira semana após o acidente, os médicos avisaram que procederiam a primeira cirurgia de Luna. Acharam necessário que o primeiro passo era cuidar da pressão intracraniana e das lesões causadas pelo traumatismo craniano e os traumas na face. Foi o que aconteceu.
Durante quase dez horas, Alexander aguardou, andando, de um lado para o outro, no corredor no bloco cirúrgico. Os outros preferiram esperar na sala de espera, juntos, como sempre. Quando o médico saiu, o corredor rapidamente foi tomado de rostos apreensivos e suspiros.
- Correu tudo bem! - anunciou o homem. - A pressão intracraniana foi controlada e os traumas faciais foram recuperados com sucesso. Não encontramos nenhuma lesão cerebral, além do inchaço esperado, o que é excelente! - o médico não conseguiu evitar um sorriso. - Todos estão impressionados, para ser bem honesto, com o modo como Alexana ...
- Luna! - corrigiu Alexander de forma automática.
- Desculpe! Todos estão impressionados com o modo como Luna reage, extraordinariamente, bem aos procedimentos! E como se mantém lutando, embora seu estado seja tão delicado. - suspirando.
- Não conhecem Luna! - disparou Stefano, cruzando os braços. - Ela não vai morrer, se não quiser! - com um sorriso torto. - Ela é suicida! É ela quem decide!
- É! - concordou Alexander. - Ela vai lutar enquanto quiser! Jamais deixaria um acidente aleatório determinar sua morte ou sua vida! - com o mesmo sorriso do cunhado.
Os outros apenas concordaram, trocando alguns olhares. Nada tinham a acrescentar! Luna era uma lutadora por natureza! Abandonada quando muito pequena, determinada em retribuir o que sua família tinha lhe proporcionado, impondo sua música e sua personalidade! Ela não cansava de lutar! Sem contar o quanto lutava contra seus demônios e mesmo contra seus próprios sentimentos! E havia ainda sua luta, mesmo que involuntária, contra si mesma! Lutar era apenas sua natureza, nada menos.
Todos se sentiram aliviados com aquelas notícias. Podia significar que logo ela poderia sair do CTI e, mesmo que fosse passar ainda algum tempo na UTI, ao menos, teriam a oportunidade de vê-la, mesmo que fosse apenas por alguns minutos. Seria um consolo e um alívio poder olhar para o rosto dela, tocar sua mão e sussurrar palavras carinhosas em seu ouvido.
Durante todas aquelas semanas, todos eram só ansiedade. A cada novidade informada pelos médicos, o alívio vinha acompanhado de algum medo. A cada intervenção havia grandes riscos envolvidos. E sempre que se preparavam para uma nova cirurgia, havia um longo momento de tensão, até que tudo terminasse e mais uma vez recebessem a notícia de que ela havia superado mais um etapa do processo de recuperação!.
Nem todas as notícias eram divulgadas nos boletins diários. Não era necessário especificar detalhes médicos de cada intervenção realizada. A informação mais importante era que seu estado era estável, ainda delicado, mas que continuava evoluindo, sendo observada e tratada para que se recuperasse o mais breve possível. Era o bastante para alimentar a curiosidade da imprensa e o desejo dos fãs.
Dr. Armstrong conversava quase diariamente com Alexander sobre o que planejavam para as intervenções médicas futuras. Assim como sempre o mantinha informado sobre a evolução do quadro de Luna. Às vezes, pessoalmente, outras por telefonemas. Mas ele sempre recebia informações sobre o que estava acontecendo e sendo planejado.
Nada acalmava seu coração e suas emoções! Estava o tempo todo sobressaltado e ansioso! Cada batida na porta ou som um pouco mais alto fazia seu coração disparar! Estava sempre desejando as melhores notícias, mas sempre esperando receber as piores. Como a maioria das informações não eram nem uma coisa, nem outro, continuava em permanente estado de alerta!
Depois de passar dias sem comer ou dormir direito, ao menos seu apetite começava a voltar ao normal. Infelizmente o mesmo não estava acontecendo com seu sono. Sentia falta do calor de Luna, de seu cheiro, de sua pele. Quando estava passando a noite no hospital ainda podia contar com alguma medicação que o ajudasse a relaxar. Em casa, as coisas eram um pouco mais complicadas.
Tentava se ocupar com o filho, gastar energia e se esgotar o suficiente. Mesmo assim o sono não chegava! Com o tempo, foi procurando por outros meios que pudessem o ajudar a relaxar e adormecer, pelo menos por algumas horas. E o que começou com relaxantes e calmantes, rapidamente chegou ao álcool, um velho conhecido que sabia que era capaz de anestesiar suas dores o suficiente para que pudesse descansar, por algum tempo.
Volta e meia, Adam ou outra pessoa buscava e levava Alexander para casa, para que pudesse ter um pouco mais de descanso. Numa dessas vezes, Adam decidiu ficar para jantar com o amigo e dar alguma ajuda com as crianças. Enquanto Sander passava algum tempo distraindo Junior, Adam percebeu que, enquanto descongelava uma refeição pronta, Alexander estava acompanhado, o tempo todo, por um cigarro e um copo de uísque.
- Acha que isso vai ajudar? - questionou apontando para o copo.
- Adam! Não! - advertiu, porém sem energia. - Não é uma recaída! - suspirando.
- Alex! Você é alcoolista! Um gole é uma recaída! - com veemência.
- Não se preocupe! - baixando o tom de voz. - Só tenho um vício com o qual me preocupar. - mostrando a corrente em seu pescoço. - E nesse caso, já estou em abstinência. E bem dolorosa! - concluiu, começando a servir a comida.
- Como está se sentindo? - tentando afastar a questão do álcool de sua mente e da conversa.
- Com medo! - resumiu, sentando e oferecendo um prato ao outro.
- É compreensível! - suspirando. - Mas é a sua Luna. Se há alguém que deve confiar na sua força, é você! - tentando esboçar um sorriso.
- E confio! - com um sorriso torto. - Mas não sei o que fazer sem ela! Não sei o que pensar, como viver... Mal sei como respirar sem tê-la por perto. Ela é minha única razão de viver! - suspirando
- Alex! Isso não é verdade! - em tom de protesto, mas sem ser agressivo. - Você tem a nós, seus amigos; sua mãe e, o mais importante, seus filhos!
- Adam... - com um riso aspirado. - Sabe que ninguém me importa além dela! - baixando o olhar. - E sei que me julga por isso! Mas, sem ela, nada importa!
- Nem seus filhos? - surpreso.
- Não me entenda mal. - murmurou. - É claro que amo Lilly e Junior! - soltando uma risada involuntária. - Como não amar? Somos eu e Luna, perfeitamente! São tudo que tenho dela! - suspirando. - Mas ela é a razão de tudo! Sem ela, tudo fica cinza, frio e triste.
Adam suspirou em silêncio e se concentrou em sua refeição. Não tinha argumentos contra aquela afirmação! Na verdade, concordava com cada palavra! Tudo perdia a graça sem Luna por perto! Faltava seu humor ácido, sua risada inconveniente, mas sempre sincera e sua presença colorida! Não podia contrariar aquele sentimento, todos estavam sentindo aquela ausência.
O passar dos dias só causava cansaço e uma espécie de tristeza conformada que era difícil explicar e entender. A única coisa que mantinha a esperança de todos viva era a força, inacreditável, de espírito que Luna demonstrava! Sua vontade de viver parecia muito maior que todos os riscos que a ameaçavam! Isso era consolador!
- Eu nunca vi algo assim em mais de vinte anos de medicina! - explicou o doutor Armstrong. - No estado em que ela chegou aqui esperávamos que aguentasse dois, três dias, no máximo, uma semana. - com um sorriso. - Mas a cada dia que passava ela continuava aqui, parecendo tão teimosa quanto sempre foi.
A colocação fez alguns deles, incluindo Alexander, sorrir. Se havia uma coisa que Luna sempre fora era teimosa! Fosse para o bem ou para o mal! Uma vez que tomava uma decisão, não havia força no universo capaz de fazer com que mudasse de ideia! E parecia que dessa vez tinha decidido sobreviver!
- Um mês é um fenômeno! Realmente! - ainda sorrindo. - Honestamente, hoje acreditamos muito mais na sobrevivência dela. - dando uma pausa. - Espero que tenham essa mesma fé!
- Acha que viemos todos os dias aqui por qual motivo, doutor? - rebateu Nick. - Estamos esperando pela recuperação dela todos os dias.
- Nenhum de nós tem dúvidas de que ela vai sobreviver! - emendou Sally suspirando.
- Nenhum de nós! - ressaltou Alexander.
Aquelas palavras não eram totalmente verdadeiras! Aquela fé sofria oscilações, vez ou outra. A verdade era que queriam acreditar, desejavam, mas crer, sem dúvidas, era um pouco mais complicado. Havia dias mais otimistas, outros mais pessimistas e sombrios.
Ao mesmo tempo em que esperavam e desejam ver a recuperação de Luna, alguns já começavam a pensar na alternativa. Havia a possibilidade de algo dar errado a qualquer momento e alguns deles se preocupavam em estarem preparados para isso! Não era algo agradável, mas julgavam necessário!
Evelyn e Lety eram duas dessas pessoas. Ao mesmo tempo em que mantinham sua vigília constante e sua palavras de fé e esperança, quando estavam sozinhas procuravam se preparar. Pesquisavam, estudavam, procuravam saber das chances, começavam a planejar o que fariam se o pior acontecesse. Não queria ser agourentas, nem nada disso, motivo pelo qual não compartilhavam seus pensamentos com os outros, sequer uma com a outra!
Alexander não estava livre daqueles sentimentos cheios de certezas e dúvidas misturadas! Fazia muito esforço na frente de todos para se mostrar forte, cheio de confiança e esperança. Mas todo seu teatro desabava, a noite, sozinho, espwrando um sono que parecia fugir dele! No lugar do repouso do adormecer, o que lhe chegavam eram prenúncios de dor, perda e morte!
Podia mentir para quem quisesse, o que quisesse, mas era impossível esquecer a realidade! Sim! Luna podia morrer a qualquer momento! Sim! Ela ainda corria muitos riscos! Ainda havia a possibilidade de perdê-la para sempre! Mesmo que aquele pensamento torturante fosse inaceitável, não podia impedi-lo de existir e se atravessar em sua mente, feito uma lâmina afiada.
Tinha recém passado algumas semanas e já sentia que perderia a razão a qualquer momento! Não estava acostumado a estar distante dela! A não poder vê-la! Muito menos depois do casamento! Não era essa a crítica de todos? O modo exagerado como estavam ligados e o quanto aquilo poderia lhes fazer mal? Agora conseguia entender a preocupação deles. Estavam certo!
- Era uma coisa assim que eu estava tentando evitar. - murmurou Stefano, cruzando os braços e apoiando um ombro na lateral da porta aberta do quarto de Alexander no hospital.
- Eu sei... - devolveu quase em um sussurro.
- Não é que eu estivesse esperando uma tragédia dessas! - emendou depressa. - Mas Luna sempre foi tão livre e também... - parando um momento para olhar para o outro que esticava o lençol. - Você sabe! Ela perde o controle, é uma suicida em potencial e não é a melhor pessoa do mundo!
- Sei de tudo isso! - sentando na cama e encarando o cunhado. - Sabe bem que nunca disse que estivesse errado! - Mas também não é como se eu pudesse mudar o modo como as coisas são.
Stefano comprimiu os lábios e ergueu os ombros. aquelas conversas entre os dois. Não eram inimigos ou incompatíveis! Ao contrário! O que os mantinha em lados opostos e afastados era o mesmo sentimento. O quanto amavam Luna e o quanto desejavam protegê-la! Agora, estavam do mesmo lado e o que eles estavam sentindo talvez somente Sally ou Christopher fossem capazes de compreender! Ninguém mais!

Peço desculpas pelos erros!
Obrigada a todos que continuam acompanhando e sofrendo com nossos personagens!
Sempre que quiserem, sintam-se a vontade para comentar, mesmo que seja para criticar, deixar sua estrelinha e recomendar aos amiguinhos ❤️
Obrigada pelo apoio e carinho 😘

Noites Sem Luar - Livro II da Trilogia do Coração Where stories live. Discover now