TOQUE-ME SE FOR CAPAZ

➵ 29: Echoes of Freedom

Calina Sartori
Dias atuais...

— Desçam agora mesmo do veículo com as mãos para cima. — A voz do policial adentrava nosso carro graças ao megafone ainda a distância.

— Merda... Merda... — Sussurrei sentindo o medo correr solto em minhas veias.

Meus olhos se arrastavam por todos os lados, procurando uma brecha ou qualquer outra coisa, mas eu só conseguia ver o quanto nós estávamos cercados e fodidos. Olhei para Trevor que tinha um de seus braços escorados na janela e o outro acima de sua cabeça relaxadamente, mas percebendo meu nervosismo trouxe a sua mão até minha perna fazendo uma carícia leve deixando-me ficar mais calma.

— Está assustada? — Sua voz ainda chegava cava em meus ouvidos, me trazendo mais arrepios do que deveria.

Sim, porra! Eu estou assustada pra caralho. E digo isso apenas em minha mente. Que tipo de idiota não ficaria assustado com 40 armas apontadas em direção ao seu carro? Me avise se existir um, faço questão de levá-lo para o manicômio. E na verdade talvez esse idiota esteja ao meu lado rindo como se estivéssemos em um parque de diversões.

— O que vamos fazer? Estamos cercados... — Mesmo querendo arrastar meu olhar até os policiais mais uma vez, uma onda que emanava de seu ser me mantinha presa em sua maldita máscara.

Aiken tinha conseguido sair, levando com ele umas 5 viaturas, o que com certeza lhe dava a chance de conseguir fugir. Um lancer tem uma velocidade absurda, mesmo que as viaturas também tenham, mas é o Aiken no volante. Sinceramente, talvez eu tenha tido um pouco de sorte em fazê-lo girar na pista. Mas ainda sim, eu não poderia evitar tirar onda com sua cara. Afinal, a maior vitória é essa. Ter o poder de zoar com sua cara e ver seus olhos negros criarem chamas pelo orgulho ferido.

Inspirei com força, permitindo que a coragem passasse por toda a minha alma e quando soltei o ar arqueei meu corpo passando minhas pernas para o lado de Trevor. Empurrando-o para o banco do motorista. Me sentei em seu lugar enquanto ele passava sua longa perna para os pedais e só então sua máscara virou em minha direção, pendendo sua cabeça para o lado e seus ombros balançaram em uma risada brincalhona.

— Oh, Bunny... — Porra, por que sua maldita voz tem que soar dessa forma, quase como em um gemido. — Eu achei que fosse mais corajosa...

Meus lábios se curvaram em um sorriso bufado enquanto eu me virava para o banco de trás agarrando o fuzil. Mordi meu lábio só de pensar na possibilidade da polícia me ver segurando uma arma e abrir fogo alegando defesa. Fechei meus olhos por um instante ponderando minha decisão. Eu realmente necessito fazer isso? Realmente preciso tanto assim dessas merdas de respostas?

— Porra... — Minha voz saia com uma frustração incomparável antes de olha-lo mais uma vez. — Eu fico mais assustada quando vocês desaparecem me deixando sozinha. Fico assustada quando todos me viram as costas ou quando me usam para seus planos. Isso me assusta pra caramba, Trevor. Mas estar aqui com você, com dezenas de armas em nossa direção, essa droga não me assusta de forma alguma. Porque você está aqui e eu sei por algum motivo que você não deixaria nada acontecer comigo.

Ou pelo menos queria acreditar nisso.

De repente seu peito inflou, procurando o ar como se ele fosse capaz de consumi-lo. Era a primeira vez que eu dizia algo assim para ele, mesmo que nas últimas horas seus lábios tenha me dito o mesmo tipo de palavras. Me arrancando suspiros e ofegos de uma forma descomunal.

Estou cansada de pensar no quanto ele me faz sentir no topo de um precipício, mas também a forma que ele me empurra lá de cima em segundos. Esse é o Trevor, ou talvez seja sua personalidade de Bugsy. Afinal, ele usa essa máscara para fazer as dezenas de coisas ilegais que mesmo sendo errado, na minha visão só deixa-o mais sexy. Mas por algum motivo, algo queima dentro de mim dizendo que posso confiar, mesmo com todos me traindo, algo me diz que ele não. Que mais perturbado que seja esse nosso lance, ele não seria capaz de me transformar em uma boneca de porcelana apenas para me quebrar mais uma vez.