Capítulo 3

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#Galerinha, coloca o vídeo pra tocar enquanto vcs leem. Fica mais emocionante!! *-* rss


*Ponto de vista da Laura

Ele também me olhava como se estivesse me examinando. Tinha um semblante enigmático, difícil de ser interpretado. Mas certamente não estava se sentindo atraído por mim, como eu me sentia em relação à ele. Como poderia? Senti vergonha dos meus cachos mal cuidados. Ele tinha cabelos tão sedosos e brilhantes! Disfarcei escondendo os fios soltos atrás das orelhas. Por que ele está me olhando assim? Eu já estava ficando sem jeito...

Sorrindo, ele segurou minha mão. Era o mais afetuoso sorriso que eu já vira. Sua mão era quente e macia, contrastando com a minha.

- Sente-se melhor hoje, Laura? - Diz ele com sua voz de seda.

Quase "me derreti" frente a tamanho charme. Só balancei a cabeça concordando. Reage, Laura! Reage...

- Mas eu pensei que você estivesse prestes a cometer suicídio... Como poderia estar melhor? - Ele aperta os olhos em minha direção.

Caramba! Esqueci completamente do plano! Eu estava tão embriagada por seu cheiro doce que começara a invadir minhas narinas, que quase não sabia quem eu era. Como teria me lembrado do plano?

- Eu... Não ia me suicidar! Hoje não! - Finalmente minha voz saiu.

- Eu sabia disso! - Ele ri. Um sorriso genuíno e cativante.

Ele já sabia?

- Como assim você já sabia? Eu estou na beirada de um prédio e estava chorando, não estava? - Eu cruzo os braços, fingindo indignação.

- Eu vejo muito além do que você imagina, Laura. - Agora seu olhar era terno e carinhoso.

- Como...? O que é você? - Eu o encaro, analisando seu semblante.

- Meu nome é Rafael... Prazer em conhecê-la! - Ele responde o que seria minha próxima pergunta. Eu não perguntei QUEM é você!

Apertando minha mão em sinal de cumprimento, ele se aproximou do meu rosto, trazendo aquele entorpecente cheiro com ele. Oh, meu Deus! O que ele vai fazer? Ele encostou os lábios em minha bochecha, me deixando com o rosto em brasa... Foi em direção ao outro lado da minha face, ficando frente a frente comigo por alguns instantes. Seus lábios passaram tão próximos dos meus que meus pensamentos ficaram ainda mais rebeldes. Pude até sentir seu hálito quente me puxando como um ímã...

- É dessa forma que vocês se cumprimentam aqui, não é? - Diz ele, voltando a se afastar.

- Hum?

Do que ele estava falando mesmo? ... Ele é um ser puro, Laura! Controle-se!

- Vocês, aqui no Rio, se cumprimentam com dois beijos, não é? - Ele sorri.

Concordei.

- Sem querer ser indelicada, mas já sendo, eu vi você voando ontem e... As pessoas por aqui, NO RIO, não têm essa habilidade de voar... - Eu tento não olhar diretamente para ele, temendo acabar perdida em minha linha de raciocínio. Embora aquele provocante perfume oriundo de sua proximidade já fosse suficiente para me causar certo abalo.- ... Por isso minha pergunta: O que é você?

Ufa... Consegui! Era difícil, muito difícil se concentrar em algo com todos os meus sentidos habilmente em alerta. A visão não via além da extrema beleza... A audição clamava por mais da voz de veludo... O olfato... Ah, esse me traíra profundamente, drogando-me com aquele perfume sublime. O paladar e o tato não foram menos cruéis comigo... Clamavam silenciosamente suas participações!

- Venha... Quero que veja algo. - Diz o meu anjo Rafael, aproximando-se de mim.

Senti vontade de perguntar porque ele havia ignorado minha pergunta, mas sua repentina aproximação fez novamente o chão sob meus pés se perderem.

Ele se levantou, me impulsionando a fazer o mesmo. Estávamos de pé no parapeito. Um verdadeiro precipício diante de nós, mas não tive medo. Sabia que ele me protegeria! Rafael me envolveu pela cintura, colando meu corpo no dele. Fechei os olhos, saboreando o momento. Era tão boa aquela sensação de proteção, de abrigo. Há muito tempo eu não me sentia assim... Serena! Protegida! Feliz! Só o abraço do meu pai transmitia aquela paz.

Quando voltei a abrir os olhos, o céu parecia tão próximo que tive a sensação que se esticasse um pouco o braço, poderia tocar uma estrela. As suntuosas asas que partiam de suas costas, dançavam à nossa volta. O chão literalmente não estava sob meus pés naquele momento!

- Não precisa ter medo! - Disse ele, presenteando meus ouvidos com sua voz.

- Não estou! - Voltei a me aninhar em seu peito, desejando que aquele momento durasse para sempre.

Só saí de meu transe quando o chão tocou meus pés novamente. Foi quando ele me permitiu afastar de seu abraço. Só então atentei para o lugar onde estávamos... Foi incrível! Eu nunca tinha visto os braços do Cristo Redentor de cima para baixo antes!

Uma lágrima de felicidade e emoção transbordou de meus olhos. Aquele momento era tão perfeito que não parecia real! O Rio dali de cima era lindo demais! Observei o brilho intenso da minha cidade maravilhosa. Enchi meus pulmões com o frescor puro do vento que vinha do parque na Tijuca. Sentamos lado a lado, admirando o mar de Copacabana... Por favor, segundos, não passem!

Ficamos um bom tempo ali. Silenciosamente apreciando a companhia um do outro. Contemplando a paisagem à nossa volta.

- Eu gosto daqui. - Diz ele, quebrando o silêncio.- Era um lugar só meu. Agora é o nosso lugar, combinado?

- Combinado! - Eu respondo.

Aquilo significava que ele me levaria lá mais vezes? Que eu não estava mais sozinha no mundo?

- Você nunca esteve sozinha, Laura! - Ele me olhava com tanta profundidade no olhar, que parecia enxergar além de meus olhos. - Mesmo que se sinta sozinha, não está! Eu sempre estive e sempre estarei com você!

Será que ele lia pensamentos também? Como respondeu minha pergunta silenciosa daquela forma?

Um vento frio me fez estremecer. Um enorme clarão cortou o céu, anunciando a chegada de uma chuva. Uma gota vinda do alto atingiu minha pele.

Ele me levou pra casa, me colocou na cama e beijou minha testa.

- Você vai voltar, né? - Perguntei aflita, percebendo que ele estava de partida.

- Você sabe que nossa aproximação não traz um futuro para você, não sabe?

Ele não respondeu minha pergunta e quando me dei por conta, a solidão já me sondava fria e obscura novamente. Os trovões lá fora pareciam sair do meu peito aflitivo... Do meu coração sofredor... Será que ele vai me deixar também?




Anjo Meu Onde as histórias ganham vida. Descobre agora