Capítulo 1

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"Mesmo sabendo que um dia a vida acaba, a gente nunca está preparado para perder alguém"  - Nicholas Sparks

Uma semana já havia se passado desde o acidente, eu tinha tido alta do hospital e estava morando temporariamente na casa da minha mãe, que tinha praticamente implorado para eu ficar aqui. No começo eu estava relutante, mas percebi que era um jeito de fugir da minha casa e das lembranças que haviam nela, então acabei aceitando e passando uma semana inteira jogada no sofá da sala, comendo sorvete e doces e usando somente pijamas, tinha abandonado completamente minhas lentes de contato, voltando a usar meus óculos que ainda sim estavam bem na moda e não queria nem mencionar meu cabelo um pouco acima do ombro loiro completamente bagunçado me fazendo parecer uma completa bagunça.

— Cheguei! — gritou minha mãe batendo a porta e interrompendo meus pensamentos.

— Como foi o trabalho? — perguntei abrindo espaço para ela no sofá, onde se jogou em seguida prendendo seus longos cabelos loiros em um coque desarrumado.

— O hospital estava uma bagunça, tive que fazer duas cirurgias seguidas porque um dos cirurgiões faltou — apesar de ser uma cirurgiã minha mãe era uma das pessoas mais descontraídas que eu conhecia e com o sorriso mais brilhante que já vi, ela sem dúvida era lindíssima.

— Parece mais um dia comum de uma neurocirurgiã — brinquei.

— Exatamente, mas como você está? Me deixe ver sua perna — sem eu mesmo responder ela levantou um pedaço de meu short e puxou o curativo da minha coxa, estava vermelha e com uma cicatriz no mínimo estranha, parecia uma meia lua com alguns riscos roxos ao redor, ela observou por um tempo e fechou o curativo em seguida.

— Então doutora Eleonor, eu tenho mais quanto tempo de vida? — ironizei com a cara mais dramática possível.

— Muito engraçada, sua perna está boa, melhor do que eu esperava para falar a verdade. Por isso pensei que poderíamos jantar fora, eles abriram um restaurante fantástico no centro, o que acha? — ela me fitou com seus olhos amendoados e fez um biquinho.

— Eu não estou a fim de sair — eu de fato não estava com vontade, mas a verdade é que eu não andava vendo graça em fazer nada sem Astrid por aqui, nós fazíamos tudo juntas e agora simplesmente não vejo graça na maioria das coisas.

— Você tem que sair de casa Gwen, ou então vai acabar grudada no sofá para sempre — ela me repreendeu no exato momento em que o barulho agudo da companhia ecoou pela casa, aparentemente eu tinha literalmente sido salva pelo gongo.

— Se for alguém querendo falar comigo diga que estou ocupada, ou melhor, diga que eu estou cansada de pessoas vindo aqui.

— Ben! Quanto tempo, como você está? — pude ouvir a voz animada de minha mãe.

Ben era um dos meus melhores amigos e o ex namorado de Astrid, todos achavam que eles eram perfeitos um para o outro até que ela recebeu uma mensagem com uma foto dele se agarrando com uma estagiaria do escritório de seu pai, desde então nós nos falávamos muito pouco, o que era horrível, já que ele definitivamente fazia falta.

— Gwen está aqui na sala — pude ouvir o piso rangendo conforme ele chegava até a sala, continuava o mesmo, a pessoa mais alta e desengonçada que eu já tinha visto, com uma pele negra linda e o sorriso cafajeste que o descrevia perfeitamente, afinal era isso que ele era.

Eu levantei e ele veio até mim me dando um abraço apertado. Até seu cheiro de bala de menta e cigarros continuava o mesmo.

— Bom, eu vou tomar um banho, enquanto isso tente não espantar ele, Gwen.

Do Fogo às CinzasWhere stories live. Discover now