2- b ê b a d a

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Prenda-me em seus grandes braços
Bêbada e vendo estrelas
Isto é tudo o que penso
Lana Del Rey (Video Game)

⚜️

DEPOIS DE UM LONGO TEMPO DE CAMINHADA, dei sinal a um táxi assim que reparei que havia ido tão longe, que eu mesma não sabia onde estava. Dentro do aconchego do veículo, não evitei deixar de pensar em como fui imprudente por ter caminhado por horas sem rumo. Sozinha na noite, numa calçada qualquer e com os pensamentos em outro mundo, eu estava sendo alvo fácil para assaltantes ou coisa pior. Estremeci diante da hipótese, mas meu momento de sensatez se foi no instante que olhei pela janela e avistei pessoas animadas em frente a um bar de beira de estrada.

Sem que eu pudesse fugir do sentimento, invejei-as. Invejei o sorriso fácil em seus lábios, invejei a aura leve que os rodeava, invejei o quanto pareciam estar se divertindo.

Havia muito tempo que eu não sabia o que era diversão e eu quis o mesmo para mim. Por essa razão, pedi ao taxista que me deixasse naquele ambiente tão fora da minha realidade. Eu podia contar nos dedos de uma mão quantas vezes tinha ido a um bar e garantir que em nenhuma das vezes eu fui por vontade própria. Todavia, daquela vez eu queria ser superficialmente alegre como aquelas pessoas.

Felicidade frívola parecia melhor do que uma tristeza completa.

— Se cuida, senhorita. — O taxista desejou compadecido quando me deixou em frente ao bar.

Aquilo me fez franzir a testa. Entretanto, no fim, somente assenti e paguei a corrida.

Entrei no local de modo cauteloso, como um bichinho num habitat novo. O lugar era incomum com a decoração cheia de texturas e cores vibrantes. A música que tocava ao fundo com certeza era música latina. No lounge do bar tinha várias pessoas jogadas de qualquer jeito pelos sofás brancos distribuídos pelo local. Cactos, plantas do deserto, bandeirinhas e mais enfeites diferenciais se destacavam pelo ambiente. Embora eu não fosse adepta àquele tipo de lugar, graças aos filmes eu sabia que aquele bar não era convencional. Parecia um bar mexicano. Sendo localizado em Los Angeles, não deveria ter me surpreendido tanto já que era comum por ali a mistura de culturas.

Sorri de modo fraco, mas com sinceridade, enquanto continuava passeando os olhos pelo local.

Até as pessoas dali pareciam ser de outro mundo, e não de um modo ruim. O jeito como elas pareciam estar se divertindo que era cativante. Pela segunda vez na noite, eu desejei parecer mais com aquelas pessoas.

Então eu fechei os olhos e me deixei guiar pelo clima do lugar. Meu corpo passou a se movimentar no ritmo da música latina desconhecida por mim, porém totalmente inebriante. Abri os olhos e caminhei até a pista de dança improvisada, onde eu me soltei e dancei como se não houvesse amanhã.

Eu sabia que ao menos nisso era boa, em dançar. Apesar de ballet ser minha grande paixão, eu gostava de todo tipo de dança.

A música sensual parecia ter se conectado comigo de forma íntima, e eu mexia o corpo como se estivesse sendo acariciada pelo ritmo. Movendo os quadris de um lado para o outro e alisando meu corpo de forma desinibida, da melhor forma que dava com meus pertences em mãos, eu rebolava com sensualidade no meio daqueles estranhos. Entretanto, não estava dando a mínima para isso. Parecia tão certo simplesmente se entregar ao momento que eu desliguei a mente das preocupações para me concentrar apenas na dança.

No entanto, assim que a música acabou foi embora junto minha vontade de continuar protagonizando um espetáculo. O ânimo inicial se foi juntamente com a energia que gastei na pista. Meu momento sem preocupações durou pouco e, no fim, eu era a Nitalia melancólica outra vez.

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