Rafael Rafaela

[03] belos sapatos

— Ta' a mesma coisa, juro! Búzios sempre é Búzios – digo para Sarah enquanto olho pela minha janela, o mar no infinito da minha vista.

— Por que você é sempre tão superficial? — ela reclama do outro lado da ligação — Você devia ser mais detalhista, bem mais detalhista. — diz me fazendo rir.

— Tudo bem então senhora, irei ser o próximo Machado De Assis – digo e tenho certeza que Sarah acaba de revirar os olhos. Era sempre Sarah sendo Sarah.

— Você tem falado com o Renan? – me pergunta mudando totalmente de assunto, como sempre fazia.

— A gente tem se falado por mensagens e algumas ligações de vídeos, mas ele está ocupado com o trabalho que pegou nessas férias e eu com minhas férias antes de começar as aulas.

— Ah, ta!

— Por quê? — pergunto enquanto vejo pelo canto do olho, mamãe entrar no quarto. Ela se senta na ponta da cama e sorrir para mim.

— Não o vi desde que me despedi de você, achei estranho. — me responde e a sinto suspirar do outro lado da ligação. — Sinto sua falta aqui — confessa fazendo meus sentimentos doerem também. Eu estava com Sarah praticamente o dia inteiro e toda vez que alguma viajava, sempre acontecia o drama de "era para você ter vindo comigo".

— Quero falar com você – mamãe fala baixo e confirmo.

— Também sinto sua falta e muita! Não é a mesma coisa ir para a praia e não ter seus comentários sobre todos os garotos que tem lá. — falo e a escuto rir, assim como mamãe. — Eu preciso desligar, mamãe quer falar comigo.

— Tudo bem, deixo que ela roube a minha melhor amiga de mim, como sempre faz — Sarah lamenta do outro lado da linha me fazendo rir. Ela era o drama em pessoa.

— Ela também mandou um beijo — falo rindo e logo depois encerro a ligação dando atenção para minha mãe.

— Ainda não entendo com quem ela aprendeu a ser tão dramática — mamãe fala com uma careta e sorrio, ela sabia que toda vez antes de encerrar minha ligação com Sarah, ela soltava seu drama diário.

— Se não fosse os dramas, não seria ela — comento deitando minha cabeça sobre as pernas de minha mãe e recendo os carinhos que sempre me fazia.

— Como está sendo conviver com Rafael na mesma casa? – mamãe pergunta e fecho os olhos ao sentir cada vez mais seus carinhos em meus cabelos.

— Não como eu esperava, mas continua sendo insuportável. — digo mesmo sabendo que nossos pais se sentiam triste com nossas desavenças, eles não aceitavam que nos dois não nos suportávamos mais, depois de crescidos.

— Mas ainda conseguem dividir a mesma mesa sem que aconteça a terceira guerra mundial?

— Talvez — murmuro quase pegando no sono, mamãe sempre teve mãos de fada.

— Então você aceita o jantar que seu tio vai dar para vocês dois? — me pergunta e eu faço careta.

— Não sabia que Tio Marcos estava aqui.

— Ele chegou essa manhã e quer ver a filha de consideração dele. — fala e sorrio, o casamento dele com Tia Ana acabou, mas ele sempre será meu tio.

— Tudo bem, prometo jantar sem causar a terceira Guerra Mundial — digo para agrada-la, mamãe me beija na testa e sai do meu quarto logo depois.