[09] novas primeira vez

3.2K 394 23
                                    


O vento gelado bate em meu rosto e ao contrário do que se espera, eu não me encolho em meu moletom. Eu sorrio com a sensação gostosa que tenho e fecho os olhos por um momento. Escutar o barulho do mar silencioso, sem todos aqueles banhistas por perto, sem nenhuma barraca funcionando ainda é muito bom, só não tão bom do que ver o sol nascer na praia ao lado de Rafael.

Depois de conversamos mais um pouco sobre como Rafael havia perdido o medo do mar e como ele gostou da sensação de vencer seus medos, ele me fez levantar, vestir uma roupa de banho por baixo do moletom e me trouxe até a praia para ver o sol nascer.

Eu não fazia a mínima ideia de que horas eram, mas ao ver que alguns ônibus, carros e pessoas já haviam começado a circular pela orla, eu sabia que já era mais do que cinco e meia da manhã. Na noite passada eu fiquei tentada a sair da cama depois das duas, eu sempre seguia o lema de Ted Mosby e sempre depois de duas horas da manhã eu voltava para casa, ou evitava fazer qualquer coisa que dependesse de uma escola depois daquele momento, por que quer o que seja, nada de bom acontece depois das 02:00am.

Sinto os braços de Rafael passando por minha cintura e me levando para mais perto dele do que antes.

— Sai do país das maravilhas Alice, o mundo real parece ser mais interessante agora.

O escuto sorrir e ainda de olhos fechados eu sorrio. Pela primeira vez não reclamo dele me chamar assim, abro meus olhos e ao olhar para ele percebo que não é apenas nossos corpos que estão próximos graças ao seu braço em minha cintura, seu rosto está tão próximo do meu que posso sentir sua respiração quente bater em minha face. Seus olhos tão intensos me olham diferente de como sempre olharam, sua barba por fazer de perto parece mais loira do que o normal.

— Quer fazer uma coisa pela primeira vez? — ele me pergunta e eu tenho faço força além do normal para desviar meu olhar de seus lábios até seus olhos.

— Tipo o que? — engulo seco, eu sempre gostei dos olhos de Rafael. Eles pareciam demonstrar toda a intensidade que ele tinha em si, apenas em um olhar.

— Tipo aprender a surfar.

As laterais dos meus lábios formam um sorriso pequeno e afasto-me um pouco de seu corpo.

— Mas ainda é cedo! E a água parece estar um gelo!

— Não agora — fala e passa o braço por cima do meu ombro — Vamos procurar um lugar para comer e depois, quando o sol esquentar um pouco a gente sai à procura de ondas.

Confirmo com a cabeça e voltou a olhar para a imensidão do mar, antes de levantarmos e irmos atrás de algo para comer. 

    ▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬    

Depois de sairmos da praia onde estávamos, ficamos um pouco na dúvida de onde comermos, já que eu queria ir em um lugar e ele em outro, mas no final, nos dois acabamos concordando que a padaria do senhor Guilherme era a melhor opção para nós no momento.

Rafael estaciona o carro em uma vaga um pouco antes da padaria e ele me manda sentar-se em uma das mesas e esperar enquanto ele vem com o nosso café da manhã. Escolho uma das mesas vazias um pouco mais longe do balcão e espero até que ele volte com nossa comida.

E enquanto eu espero, acabo pensando em como viemos parar ali.

Eu sempre soube que Rafael não era a mesma criança desde que a gente parou de se falar, havia se passado anos e agora com ele com quase dezenove anos e eu com dezoito, percebi isso. Enquanto estivemos afastados o tempo foi o nosso melhor amigo e agora redescobrindo Rafael, eu não podia estar mais feliz.

Ele volta para a mesa com quatro pães na chapa, dois copos de leite com café e um pão de queijo enorme, não ouso nem dizer que não comerei nem metade do que ele trouxe, já que meu estomago estava vazio desde a noite anterior.

Nós comemos enquanto conversávamos coisas aleatórias das nossas vidas e entre essas conversas, senti seus olhos pairando sobre mim vez ou outra. Depois que saímos da padaria, Rafael roda quase a cidade toda dizendo que tinha que achar a praia perfeita para me ensinar, já que como estamos em temporada de férias, a praia de Geribá estaria lotada de surfistas.

Rafael acabou optando pela a praia dos Tucuns, que estava bem mais calma do que as outras. Paramos o carro em um estacionamento de um quiosque e ele tira sua prancha de dentro do carro.

— Você sempre andar com essa prancha dentro do carro?

Pergunto e ele sorrir para mim.

— Sim e tira esse moletom senão você vai derreter.

Me fala e só então percebo o quão vestida eu to. Enquanto Rafael sai na frente e vai falar com o dono da barraca que parece conhece-lo, eu me livro da minha roupa ficando apenas de biquíni. Coloco a roupa guardada no carro e depois vou atrás dele.

Rafael diferente de mim, tinha saído de casa com uma bermuda fino, e usava apenas uma camisa de mangas longas que agora estava na areia da praia ao lado de seus chinelos. Quando cheguei por perto e ele percebe minha presença e me olhou de uma forma diferente de hoje mais cedo. Havia um vislumbre de diversão em seus olhos.

— Pronta para levar caldos?

— Mas eu já vou para o mar? Sem nem aprender a subir em uma prancha direito?

— Calma, Rafa... Tira essa expressão assustadora daí, vamos começar na areia primeiro.

Rafael coloca a prancha na areia, me faz deitar sobre ela com meu pescoço levantando e depois é só: Nada de abaixar a cabeça Rafa; Lembra que é sempre uma mão que vai na frente e uma atrás; Você rema com as mãos, você usa elas para sair do lugar; Tenta manter o corpo em equilíbrio em cima da prancha; As sempre apoiadas na prancha antes de dar o impulso para levantar; Joelhos levemente flexionados, Rafaela; ...

E eu não tinha nem entrado na água ainda!

Só depois que reclamo que já estava cansada de tentar surfar na areia que ele me leva para o mar. E para minha felicidade, ou não, tudo só piorou. Tomo tanto caldo, tanta queda de cima daquela prancha, que quando emerjo de dentro da água pela última vez, eu só quero gritar e pedir para ir embora para casa. Mas não preciso nem falar nada, já que ele toma a frente e me chama para ir para casa.

— Por que é tão difícil ficar em pé? Como vocês conseguem ainda fazer manobras em cima disso? — pergunto frustrada enquanto me enxugo com a roupa que eu estava antes, já que nenhum de nós lembramos de trazer toalhas.

Rafael rir da minha pergunta enquanto prende a sua prancha no carro. Se aproxima de mim e aperta meu nariz com seus dedos.

— Eu nunca disse que era fácil.

Mostro a língua para ele na minha melhor face de criança e ele passa os braços por cima dos meus ombros e me aproxima dele, depois bagunça meu cabelo mais do que já está.

— A gente com toda certeza é melhor juntos do que separados. — ele me fala e a única coisa que consigo fazer é sorrir. Além de que não é preciso falar mais nada, por que o que ele fala é apenas a verdade.

Nós somos melhores juntos do que separados.

Voltamos para casa logo em seguida. Nós não sabíamos as horas, mas com o sol quente como estava parecia ser perto de meio dia. Nós havíamos saído de madrugada escondidos e não havíamos levado celular e nem relógios, não deixamos nem ao menos um bilhete para nossos pais. E quando chegamos em casa que vimos suas expressões de raiva, preocupação e alivio, que percebemos o quão irresponsáveis que fomos.

Rafael RafaelaHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin