3.

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Aquela tarde não consegui concentração nenhuma para treinar. Eu só suspirava e olhava pela janela como se fosse possível ver a casa de Raul do alto. É assim mesmo, os Braites adoram morar nas alturas em suas casas flutuantes, perto das nuvens, quanto mais alto melhor. Existia a crença de que o elemento ar trazia leveza no modo de ser, quanto mais leveza, mais chance de ser feliz e sorrir diante das dificuldades que porventura aparecessem no caminho, que, no caso dos braites, não deviam ser muitas.

Além disso, a casa flutuante mostrava o poder dos braites, pois só os braites dominavam totalmente o elemento ar, a ponto de levitar, voar e manter algo perenemente no ar como uma casa ou um bonde.

De fato as nuvens proporcionavam uma paz mágica, uma promessa de que tudo no final daria certo. Mas será que minha história poderia ter um final feliz? Ou eu acabaria babando feito a Tia Melina?

De noite aconteceu. No momento em que estava levando as louças sujas do jantar com os olhos para cozinha tudo caiu no chão, era restos e cacos de porcelana espalhados pelo chão.

— Eu só estava distraída — gritei antes que eles pudessem falar qualquer coisa.

— E o que mais você poderia estar, se não fosse distraída? — me testou meu pai, que era bem esperto, percebendo na hora que se eu expliquei que só estava distraída é que não estava.

— Acho que nada... — disse sem graça.

Meu pai me olhou nos olhos e acho que obteve a resposta que queria de verdade sem que eu dissesse nada.

— É aquele laluli, não é? — ele me perguntou mais tarde, me puxando de lado antes que eu sentasse ao lado de mamãe no sofá.

— O quê? — perguntei fingindo que não entendia nada.

— Se você não quer contar ao seu pai, — e ele me olhou triste — não irei insistir. Mas você precisa saber que está prejudicando a si mesma. Espero que saiba tudo que deixará de conquistar por causa desse laluli. — Meu pai esperou um pouco para eu me manifestar, mas eu só consegui arregalar meus olhos. — Eu não vou conseguir te ajudar. Você sabe que o que você quer no coração é o que conta, esse é o princípio da magia. Mas me entristece ver você estragar sua vida. — Meu pai colocou as mãos nos meus ombros. — Você já se sente enfraquecida, não é? Foi por isso que os pratos caíram. Se prepare, minha filha, isso é só o começo. — Mais uma vez, não consegui dizer nada e só vi meu pai indo embora.

Depois dele ir eu corri para meu quarto e chorei até ficar cansada. Eu não podia seguir em frente com Raul. Eu não podia estragar a minha vida e das pessoas que amo. A tristeza deixaria todos lá em casa arrasados e nenhuma magia boa sai quando estamos assim. Eu não podia de jeito nenhum. O que sobraria de mim depois de ficar tão fraca, como eu iria me reconhecer? Não dava para sacrificar todo mundo só por que eu tinha achado Raul o cara mais lindo que eu já tinha visto. Eu tinha que dar um jeito de por um fim nesse sentimento.

No dia seguinte na escola eu era a pessoa mais triste do mundo inteiro.

— Que cara é essa? — perguntou Lola estranhando meu ar fúnebre.

— Nenhuma — respondi olhando para baixo.

— Ai, Pamela, pode ir falando. Nunca te vi com esse bico. Você sabe que não podemos ficar baixo astral. A magia...

— Para com isso, não vem com esse discurso de alegria para cima de mim — gritei interrompendo a Lola.

— Calma — ela pegou em minhas mãos, bastou ela fazer isso para eu desatar a chorar — O que aconteceu, Pam? Pode falar!

#ACREDITE (VENCEDOR DO #THEWATTYS2018)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora