Parte IV

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Confesso que e torna um bocado complicado subir 340 degraus com uma criança de 15kg ao colo. Mas ao menos não vou ficar com os pés cobertos de bolhas, como a parva da minha irmã.

- Estava a ver que nunca mais acabavam as escadas! – exclama. Pelo tom de voz, está exausta e pronta para comer uma vez mais. – Não quero saber se aqui estejam mais pessoas, vou descalçar estes malditos sapatos!

- Demoraste imenso tempo para pensar nisso. – digo, entre gargalhadas.

- E tu estás a gostar um bocado demais disto, não estás?

- Sim! Desculpa, mas é hilariante ver-te sofrer por causa desses sapatos. – vou sofrer, mas vou mesmo aproveitar cada segundo para rir dela. Ela merece que eu o faça, ninguém lhe disse para trazer sapatos daqueles para um passeio deste género.

- Também achas hilariante, Enzo? – pergunta-lhe.

- Shim! Shim! Muito divertido! – responde, enquanto bate palmas.

- Isso! Juntem-se os dois contra mim. Bela família que eu tenho. – diz.

Já tem os sapatos na mão e caminha de forma mais graciosa até nós. De repente, algo capta a sua atenção e fica estática a olhar o que quer que seja que está bem atrás do meu campo de visão.

- O que se passa, Nádia? – questiono. – Estás a assustar-me!

- Oh! – é tudo o que lhe sai da boca.

- Podes dizer-me o que... - quando me viro na direção em que olha, petrifico.

Não consigo acreditar no que me está diante dos olhos. Mesmo depois de todo este tempo, ele consegue fazer este coração para por uma fração de segundos e, logo a seguir, bater como um louco.

Quero dizer algo, mas não consigo. Sinto-me uma estúpida, enquanto contemplo a visão que estou a ter.

- Oh! – digo.

- Isto não podia ser melhor, Kai. Esta pode ser a tua única oportunidade para teres de volta o que perdeste. – diz, confiante.

Já eu, estou aterrorizada!

Sinto as pernas tremer que nem varas verdes, prestes a cair em dia de vendaval. Não sei o que dizer ou fazer neste momento. Talvez se pedir ajuda aos santos todos, eles me possam ajudar.

- Segura no menino, por favor. – peço.

Entrego-lhe o sobrinho e caminho devagar até onde ele está a olhar para a cidade, completamente abstraído da minha presença. À medida que me aproximo, o medo aumenta.

Estou tão perto agora, que posso sentir-lhe o perfume. Parece que continua a gostar do mesmo perfume suave e perfeito, que só ele usava e que tanto me apaixonava. O cheiro chega-me ao nariz, deixando-me completamente inebriada e sem saber o que fazer.

Tremo da cabeça aos pés.

- O mundo é tão pequeno. – limito-me a falar. Inexplicavelmente, a frase que ele usou comigo no dia que me pediu em namoro fez todo o sentido agora.

Lentamente, vira o belo rosto na direção que projetei a voz. Juro que vou sufocar só de o ter tão perto de mim.

- Kai?! – pergunta num tom voz um bocado elevado. – O que fazes aqui?

- I-isso pergunto eu a ti. O que fazes em Viena? Vieste passear com a tua mulher? – tento saber.

Tenho medo que a resposta seja afirmativa. Isso só ia provar que tinha razão e ele seguiu em frente, enquanto me mantive parada no tempo, à espera que um dia ele voltasse para os meus braços. Porque sempre acreditei que o voltasse a ter apenas para mim, mesmo com o passar do tempo. E acho que Nádia tem razão. Só quando acaba o amor é que podemos dizer que é passado. E o meu amor não acabou, nunca vai acabar.

A AdoçãoWhere stories live. Discover now