- Não o tires! – Implora. Parece desesperada para que me mantenha dentro deste vestido.
Sinto-me corar com o olhar que me lança.
- Mas disseste para experimentar todos. – Digo.
- Eu sei, mas esse é perfeito. Quero que uses esse. – A voz parece uma súplica.
- Está bem. – Respondo, sem emoção. Só me quero despachar desta tortura. – O que queres que faça agora, chefe?
- Quero que te cales, me vás buscar o secador e a escova, que te sentes e me deixes pentear-te.
Se não obedeço, temo que me amarre à cadeira e me torture como castigo. Mais vale fazer-lhe a vontade e virar a boneca de serviço dela.
Minutos depois, não reconheço a pessoa que vejo no espelho. Não pode ser o meu reflexo, aquele que vejo.
A minha irmã decidiu alisar-me o cabelo e simplesmente deixá-lo solto. A maquilhagem que me fez parece ter-me transformado numa mulher completamente diferente da que sou na realidade.
Uma sombra castanha modela-me os olhos, sendo complementada com um poderoso eyeliner bem desenhado e que jamais conseguiria fazer sozinha.
Nos lábios, um poderoso batom vermelho dá nova tonalidade à cor da minha pele.
Estou boquiaberta.
- Estás linda! É assim que devias andar sempre, não com aquele ar triste e derrotado. – Diz ela, enternecida a olhar para o resultado do trabalho que teve comigo. Fico emocionada, mas não posso chorar. Ela mata-me se estrago a maquilhagem acabada de fazer.
- Obrigada. – É tudo o que consigo dizer-lhe. – Agora, vai-te arranjar! A noite é tua, não minha...
- A noite é das duas, Kai. Mas depois saberás tudo. Por agora, fica a saber que é uma surpresa e que tenho certeza que vais adorar.
Mais mistérios. Não adianta dizer nada, ela não me vai dar nenhuma resposta.
Vejo-a sair do quarto, no seu andar triunfante e gracioso do costume. Por mais que tente, jamais serei como ela.
Respiro fundo.
Sinto que o dia está longe de acabar e estou a ficar bastante nervosa e assustada com o que aquela mulher esteja a planear fazer.
Volto a apreciar o trabalho de Nádia. Pela primeira vez em quatro anos, gosto do que vejo. Não vejo a tristeza, não vejo o cansaço, não vejo a dor. Com esta maquilhagem, pareço a Kailini que fui ao lado de Diogo.
Diogo...
Onde estará ele? De certeza que já não deve estar em Viena, mas como gostava que estivesse. Dava tudo para o voltar a ver, para lhe dizer que nunca deixei de o amar, para lhe confessar que do nosso amor nasceu o pequeno e doce Enzo. Mas agora é tarde.
Resta-me aceitar o que a vida me dá e seguir em frente.
Meia hora depois, vejo uma Nádia resplandecente entrar-me no quarto, deixando-me sem palavras para tamanha beleza.
- Wow! – Tento dizer mais qualquer coisa, mas não encontro as palavras certas. Acho que nem preciso dizer mais nada.
- Nada se compara à tua beleza. – Responde. Ela adora desvalorizar os elogios que lhe faço, não sei porquê. Para mim, não há mulher mais linda que ela. – Está na hora. Vamos?
- Sim, vamos. Deixa-me colocar as sapatilhas e estou pronta.
- Devias ir de salto alto. – Brinca. – Mas já estou feliz por estares assim vestida.
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A Adoção
Short StoryKai sente-se perdida, mesmo tendo um emprego estável. Vive com os pais e a irmã mais velha na Áustria, para fugir de um passado inconveniente para todos. Ela engravidou do namorado, mas os pais não aceitaram isso, acabando por entregar o bebé a um...