Parte V

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- Como? – questiono-me. – Como posso eu ainda tremer na sua presença? Eu pensava que o que senti por ele não existia mais...

- Eu bem te disse. Só é passado quando acaba. E o vosso amor não acabou, Kai. – diz, com ternura.

Gostava tanto que ela não tivesse razão neste momento. Gostava de lhe dizer que está enganada e que não amo mais aquele homem, mas não sou capaz de o fazer.

Passaram quatro anos e sinto exatamente o mesmo por Diogo, como se nunca me tivesse afastado dele. Mas passaram. O tempo passou e continuo parada no tempo, à espera que algo me devolva a esperança.

- Vamos embora. Temos cada vez menos tempo para entregar Enzo. – lamento-me.

Suspiro.

Nada disto é bom. Ele não devia sequer ter conhecido o filho, muito menos devia aqui estar. De tantos países que ele podia escolher para passar férias, tinha que escolher Áustria. Não percebo se isto é coisa do destino ou se é apenas mais uma forma da vida me torturar.

Sinto uma dor sem fim na alma. Sinto-me tão fraca e cansada. Só quero chorar. Chorar como nunca chorei até ao momento. Só quero esquecer o mundo e expulsar todas as energias negativas que me assombram desde que fui obrigada a viver uma vida que não queria viver, quando fui obrigada a abandonar tudo aquilo que me fazia feliz e realizada.

***

Hoje é o tão esperado dia. Hoje é o dia em que Nádia assina toda a papelada para trazer o meu filho para casa, como seu filho.

O coração bate desenfreadamente. Estou ansiosa com o dia que se segue, mais do que devia. Não sou eu que estou a adotar a criança, mas sinto que sou eu. Não sou eu, mas algo em mim acredita que sou eu que vou assinar aquela papelada para poder chamar o meu filho de meu sem ter que me esconder seja de quem for.

Nádia preparou um grande jantar, para comemorar a adoção. Está bem animada e anda demasiado misteriosa. Sempre que está ao telemóvel e me aproximo, afasta-se ou disfarça a conversa que esteja a ter. Na última semana, tem saído imensas vezes sem me dizer nada.

Ela esconde qualquer coisa, tenho certeza disso. Ela nunca sai sem mim, a menos que saia para ir trabalhar. Desde muito pequenas que somos muito amigas e fazemos tudo juntas. Mesmo quando namorava com Diogo, nós fazíamos toda a questão de sair e passar o nosso tempo juntas.

Para ajudar, Sofia disse-me para tirar uns dias de férias. Odeio férias, especialmente se não poder estar com o meu filho, brincar com ele ou ouvir aquela sua voz doce e cheia de alegria. Já não o vejo há seis dias e sinto que posso morrer de saudades do único ser do mundo que me tem mantido viva este tempo todo.

Mas não é apenas dele que tenho saudades.

Diogo tem-me invadido os pensamentos vezes sem conta, desde o dia que o vi na Catedral. Ele continua lindo, como antes. Atrevo-me mesmo a dizer que ele está ainda mais belo que antes, o que parecia ser impossível. Mas acho que neste caso, a expressão "é como o vinho do porto. Quanto mais velho, melhor" é perfeita. Os anos passam por ele e só o favorecem.

Cabelo sempre curto e bem penteado, naquele tom claro que me fascina. Os olhos tipo safiras, cada vez mais intensos e penetrantes, como tanto amo. Não consegui olhar bem para como está o corpo dele, mas não me pareceu muito diferente do que era na época do nosso namoro.

Suspiro.

É bom pensar nele, mas também é péssimo. É mau por já ter passado tanto tempo desde que nos separámos, por não lhe querer contar que do nosso amor, nasceu Enzo. Sempre que penso que ele devia saber, o coração aperta, com medo que ele não aceite o filho por ser deficiente. Não ia aguentar se isso acontecesse e por isso mesmo, escondo a verdade.

A AdoçãoΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα