MARIA NÃO DEVERIA ESTAR ACORDADA. Ela sabia disso por que o relógio da sala de estar na casa dos Nikuli havia tocado doze vezes a vinte e três segundos, o que faziam já passar da meia-noite.
Mas não era o horário que mais a incriminava. Era o movimento de Abraham no quarto que impedia de tirar o seu sono. Ela ouvia os murmúrios dele e o som das gavetas se abrindo e de tudo se espalhando pelo chão.
Sempre muito delicado, Abe. Pensou ela.
Lutava contra si mesma para não abrir os olhos, a curiosidade matou o gato, mas com certeza seria útil para a jovem.
Ela se permitiu a espiar por uma pequena fresta de abriu em seus olhos.
-O bilhete- sussurrou o homem-Aqui, ótimo
O irmão saiu pela porta com mala porém nos últimos segundos deixou um pequeno pedaço de papel enrolado numa fita vermelha cair de seu bolso e ir parar debaixo na cama da jovem.
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Na manhã seguinte Maria foi acordada pelos gritos de sua Tia Sonya que entrou desesperada no quarto dos irmãos depois de ver o sobretudo de seu sobrinho mais velho ainda pendurado no cabideiro quando ele deveria ter saído para trabalhar as duas horas.
-Maria, acorde garota!-a Tia a sacudia e gritava-Você viu seu irmão saindo?
Maria sentou na cama e saiu das cobertas encontrando o frio do inverno nas suas grossas coxas brancas.
-Ah? Não, acho que não-ela respondeu com a voz sonolenta e coçando os olhos
-Vista-se e vá à cozinha, por favor, Vamos sair-disse a mulher abrindo as cortinas apenas para depois deixar a pequeno quarto
A menina tocou com seus pequenos pés descalços no chão gélido de madeira que rangia alto. Maria caminhou até o armário que dívida com o irmão, ela abriu com cuidado, fechando os olhos com uma certa esperança. Por que talvez, só talvez, as roupas de Abe ainda estariam lá.
Ela abriu os olhos, algumas camisas tinham sumido juntamente com o casaco mais grosso, decepcionada Maria pegou uma saia xadrez azul e vermelha que acabava nos joelhos e uma blusa de linho fina e branca. A saia abraçava suas recém ganhas curvas e a blusa ficava larga, por mais que tenha sido colocada dentro da saia.
Ela minuciosamente analisou a aparência. Está bom o suficiente. Penteiou rapidamente os cabelos e colocou as botinhas pretas.
-Descendo!-ela disse correndo escadas estreitas abaixo, quase tropeçando nós próprios pés
-Bom dia, Tio Gustav-disse a loira indo apressada para a cozinha-Bom dia Nádia
A moça adentrou a cozinha e encarou sua Tia.
-Vamos?-perguntou ela
-Vamos-respondeu a Tia indo para o estreito Hall de entrada, pegando os casacos do cabideiro e entregando o dela para depois vestir seu próprio
A mulher mais velha abriu a porta e as duas começaram a andar nas ruas de São Petersburgo.
A família Nikuli não era miserável, mas também não era rica. Algumas vezes eles podiam fazer banquetes e às vezes estavam a um ponto da fome.
-Esse não é o caminho do mercado-Maria diz
-Não estávamos indo para lá-disse Sonya cruzando a rua da Praça do Palácio de Inverno
-Onde exatamente estamos indo?-ela pergunta
A tia não responde e entra pelas portas no fundo onde está uma enorme fila de garotas.
-Você vai precisar de um emprego-a Tia diz
-Não aqui-diz a loira, havia algo nas paredes azuis que a assombravam
A Nikuli encarou as janelas largas e uma abertura e fechamento de cortina e sombras.
-Maria, seu irmão era um homem perigoso e se meteu em problemas, eu não quero isso para você-disse a Tia olhando com olhos vermelhos e arregalados de desespero
Maria apenas assentiu e entrou na sala cinzenta. Era um caminho que ela teria que andar sozinha. Ou pelo menos foi o que pensou logo antes de ver flamejantes cabelos ruivos que pareciam fogo agora que iluminados pelo sol da manhã.
A garota de cabelos vermelhos sorriu para ela do outro lado do corredor, ela pode ver com mais clareza a medida que a ruiva desconhecida se aproximava que seu rosto era cheio de sardas e seus cachos volumosos não tinham sido penteados fazia dias. Maria sorriu de volta a desconhecida.
-Com sorte conseguiremos passar certo?-disse a ruiva com um sorriso travesso no rosto-Rita Kórkoi
Rita levantou a mão e a loira não demorou a apertar e se apresentar.
-Maria Nikuli
As duas sorriram. Era confortante para ambas saber que existia alguém tão desesperada para um emprego limpar que aceitaria limpar a sujeira imperial. Ambas desviaram o olhar para a fila e ouviram uma voz cortante.
-Próximo grupo

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A loira se jogou na cama assim que alcançou o quarto, chutando os sapatos para fora de seus pés. Infelizmente uma de suas sapatilhas ricocheteou na parede e entrou debaixo da cama arrancando um grunhido da jovem.
-Merda-xingou ela bem baixinho para não ser ouvida ao se ajoelhar no chão e enfiar o braço debaixo da cama para pegar o outro pé do infeliz sapato.
Ela sentiu algo fino tocando as pontas de seus dedos e resgatou um pedaço de papel com uma caligrafia escrita com um descaso e simplismo que ela conhecia bem. Abe.
Ela abriu o bilhete afobada até se esquecendo do maldito sapato, mergulhada em curiosidade. Maria enfiou a fita vermelha que enrolava o bilhete no bolso do casaco e desenrolou sem cuidado o papel.
"Número 157
Na Praça da Basílica"

CzarevichWhere stories live. Discover now