O ALOJAMENTO DAS CRIADAS ERA LOGO depois da cozinha. Dezenas de camas enfileiradas, todas de uma madeira escura, contrastando com o branco das parades e a piso claro.
Maria posicionou sua mala acima do pequeno baú que existia na frente das camas e a maioria das meninas fez o mesmo.
Encima das camas estava o uniforme. Branco para as criadas reais, azul para as cozinheiras, amarelo desbotado para as arrumadeiras.
Mas nenhum vermelho.
Um barulho agudo ecoou pela sala e cabeças viraram para a porta. As curiosas tiveram sua resposta. Uma mulher alta e esguia entrou pela porta. Vestida em roxo e auxiliada por uma bengala.
Nenhuma pergunta foi respondida e nenhum nome foi dito. A loira de cabelos desgrenhados fitou seu uniforme branco.
A mulher alta era idosa e a encarou de cima à baixo, murmurando algo que Maria não ouviu direito e nem teve chances de perguntar.
-Vocês começam pela manhã, meninas-com isso, a mulher de roxo deixou as meninas
Maria sentou-se na cama e esticou seu uniforme branco com as mãos. O sol se escondia atrás fazendo com que o quarto tivesse uma luz cada vez mais amarelada e artificial. Na mala ela trouxe poucos pertences, livros de medicina e inúmeros materiais de escrita. Era claro que ela queria ter continuado seus estudos e agoras vendo seus sonhos escorrer como areia por entre seus dedos fazia com que o nó em seu peito a impedisse de respirar.
Cada criada tinha uma cômoda com três gavetas. Ela viu as meninas de movimentando pelo quarto, as recém chegadas estavam encantadas pelo luxo do resto do palácio. Luxo que elas nunca teriam, mas poderiam pelo menos podiam admirar. As mais antigas tinham determinação e força no olhar, calos nas mãos e pés cansados.
Todas caíram na cama pelo menos meia após dormindo aliviadas. Por terem um emprego. Por estarem longe das ruas. Por estarem vivas. Mas a mente de Maria trabalhava rápido demais e notava coisas que outros não notavam. Aqui seria o lugar perfeito para esconder alguma.

🥀.     

O sol entrou pelas cortinas e iluminou o grande cômodo. Todas as meninas em suas camas enfileirados acordaram e vestiram seus uniformes. Maria tomou o branco e prendeu o cabelo num rabo de cavalo baixo. Não havia espelhos então ela teria que confiar que a água gélida na bacia ao lado de sua cama foi o suficiente para deixá-la apresentável. Aos poucos as criadas foram para a cozinha, as cozinheiras, já acordadas desde tão cedo, serviram um mingau ralo e doce, que todas comeram muito gratas e muito rápidas.
Maria avistou Rita de longe, mexendo alguma coisa na panela e coberta por um avental azul. As meninas trocaram um sorriso.
Maria sentiu um cutucão no seu ombro e se virou. Uma mulher, de cabelos escuros e olhos castanhos a disse:
-Deve ser a novata, não é? Não se preocupe, eu sou a Ekaterina, sou a mais vivida criada real, pode até não parecer mas trabalho aqui desde meus onze anos e sei como chegar rápido aos lugares, venha comigo-disse a moça, ela era mais velha que Maria, mas não era velha, Ekaterina falava muito rápido e quando estavam longe dos ouvidos de qualquer nobre, falava alto. Mas era terna e sabia como fazer alguém se sentir em casa.
Ekaterina abriu a porta de um dos cômodos e silenciosamente pediu ajuda para abrir as longas cortinas.
Uma menina dormia calmamente na enorme cama, adornada em ouro, pacífica. Maria achou que parecia quase uma pintura renascentista. Era figura efêmera. Era a primeira vez que via alguém da família real parecendo tão frágil e quebradiça. Enquanto o sol entrava, a figura era gravada na mente da Nikuli.

CzarevichWhere stories live. Discover now