ELA DEVERIA SE ACOSTUMAR COM A DECEPÇÃO até por que não encontrou nada no número 157 da Praça da Basílica além de pub nojento onde agora, uma semana depois trabalhava com garçonete.
Ela estava limpando um copo de vidro e tentando não engasgar na nuvem de fumaça que os fumantes causavam. O pub tinha o nome de "Barco Viking" e era simplesmente repugnante.
Uma água pútrida caia pelo chão de madeira que rangeria alto se alguém pisasse, o fedor de homens alcoolizados e as gritarias só tornavam tudo extremante insuportável.
Na nuvem de tabaco entrou um homem misterioso fumando um charuto, usava roupas finas porém puídas. Era manco e tinha que usar uma bengala, ao melhor um bastão de madeira que muito bem poderia servi-lo numa briga.
O seu nome era Peter Morovizt e ele caminhou até o balcão onde Maria limpava distraidamente o copo já limpo e ignorava os clientes.
-Uma dose de Whiskey, por favor-disse o homem que deveria estar no fim de seus trinta anos
Maria largou o copo e se forçou a sorrir enquanto enchia o copo com uma dose da bebida.
-Claro-ela empurrou o copo ao homem
-Obrigada, Srta.Nikuli-respondeu ele
-Como me conhece?-ela confronta a ameaça e encara o homem
-Seu irmão disse que era doce, acho que ele errou-comentou o homem
-O que você quer?-perguntou ela olhando diretamente para os olhos azuis do homem
-Não é sobre o que eu quero, é sobre o que você quer-respondeu ele-Mas me contento com a senhorita aceitando o trabalho como criada no palácio
-Quem é você?-perguntou ela chocada-Como sabe de tudo isso?
-Meu nome é Peter Morovizt e O Partido tem olhos por toda a cidade-ele responde
-Por que eu deveria fazer isso?
-Por que posso te reunir com Abraham novamente
Ele virou o corpo da bebida que o queimou a garganta pela careta que ele fez.
-Aceite o trabalho, Srta.Nikuli-diz o homem voltando da nuvem de fumaça que entrou
A carta de admissão chegou dois dias depois.
Quando saiu de casa no dia de se mudar momentaneamente para o alojamento das criadas no palácio de inverno após muita briga com sua Tia, ela sentiu estar sendo observada.
Com uma maleta na mão ela olhou para o outro lado da rua. Havia um menino mais ou menos da idade dela lendo um livro no banco da praça. Ele olhou para ela.
Maria não foi capaz de entender por que mais algo naquele garoto não a deixava desgrudar os olhos dele. E quando ele finalmente olhou de volta, foi como se um ar gélido que arrepiasse a jovem por inteiro a atingisse.
O bonde que ela deveria pegar passou assim atrapalhando a vista da garota. Ela entrou no bonde e olhou pela janela. Mas não tinha ninguém lá.

🥀.

Michel Peterhof, tinha um, dois, três trabalhos quando precisava. Ele e mais cinco viviam em um único estúdio mas quase nunca se viam.
O jovem de apenas dezessete anos seguiu chutando pedras até chegar à uma viela suja.
O moreno correu a mão pelos cachos negros e amaldiçoou mentalmente Peter Morovizt por ter metido ele num problema desses.
O jovem de olhos negros e rosto sardento era bonito porém extremamente comum, o que era uma vantagem fascinante. Por que vejam só, ninguém nunca notava que ele estava lá. Michel Peterhof sabia como ninguém o poder de conseguir desaparecer na multidão, não foram poucas as vezes que sua aparência comum o salvou de problemas.
Mas infelizmente os tempos de Michel nas sombras haviam acabados.
Ele subiu as escadas estreitas do prédio onde morava. A arquitetura dizia que era uma construção do final do século passado, XIX. Os degraus estreitos de madeira clara e a simples diagramação dos apartamentos contavam que era um prédio barato.
Michel parou de correr pelas escadas quando viu as pequenas vasilhas de lavanda do apartamento 01. A porta vinho foi sendo aberta revelando uma bela moça.
-Bom dia, Srta. Petrovich-disse ele para a moça
-Bom dia, Sr.Peterhof, com pressa?-a moça de voz suave e doce perguntou olhando para ele
Yeva Petrovich parecia uma boneca. Seus grandes olhos violeta, a pela de porcelana, as forma que suas maçãs rosadas do rosto se levantavam quando ela sorria e como seu delicado porém marcado queixo se formava, terminando a perfeição que era Yeva Petrovich.
-Na verdade sim-disse ele tentando se apoiar no corrimão porém de nervosismo sua mão escapou fazendo o jovem corar levemente
-Eu vou deixar-te ir então, Sr-disse Yeva se despedindo do homem e descendo as escadas.
Decepcionado Michel subiu até seu apartamento, conseguindo ouvir a baderna no andar anterior.

CzarevichWhere stories live. Discover now