Capítulo 7- Medo

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Ele me olhou, mas seu olhar estava confuso. Não havia gritos ou xingamentos, não tinha a mascara do cara sem sentimentos que não liga pra nada. Quem estava ali só aparecia nos momentos difíceis, só se mostrava quando não tinha mais nenhuma outra alternativa. E eu sei que deu merda exatamente por isso.

-Deixa eu explicar, por favor. Não faz nada, esquece tudo isso. Vai ficar tudo bem. Eu sou seu irmão, vamos superar mais essa fase difícil... Lembra da faculdade, de quando meu pai me abandonou, de quando seu pai ficava bêbado, de quando eu perdia algum dinheiro e você me ajudava? Lembra? Por favor Kats -ele me cortou.

-Vamos.

-Me deixa explicar. Isso é um mal entendido, eu tava falando sobre outra pessoa.

-Não faz isso comigo Kirishima, não fode comigo, não mente pra mim.

Pronto, eu desabei aí.

Katsuki estava calmo por fora, falando baixo e pausadamente. Meu amigo, meu melhor amigo estava me arrastando pelo braço pra fora do bar, com um olhar perdido e lagrimas presas que tenho certeza que se fosse outro já teriam sido derramadas. Meu melhor amigo. Ele vai me bater, certeza. Vai brigar comigo e arrancar sangue de mim, me chamar de viadinho, me deixar de olho roxo, tirar suas coisas da minha casa e eu vou perder ele. Meu melhor amigo. Vou perder o Bakugou. Katsuki vai embora. Como eu sou idiota. Não poderia ter sido outra pessoa? Outro cara.

Ah nao, ele parou. Ué, esse é o carro dele?

-Entra cabelo de merda, vamos tomar um banho em casa. Dormir. E conversar sobre isso amanhã. E nem vem com "Ah eu tava bêbado" porque eu posso te fazer falar a base de porrada.

Ele sabia que não podia e eu sabia tambem, sou professor de artes marcias, dono de uma academia, e professor de Educação Física. Nunca que ele conseguiria me derrubar, mas eu estava tão fragilizado, tão nervoso que apenas concordei com a cabeça e entrei no carro. Ele entrou e sentou no lugar do motorista, arrancou e não me dirigiu uma única palavra até chegarmos em casa.

Era quase palpável o sentimento de confusão que emanava dele. Vez ou outra ele me olhava pelo canto do olho como se me examinasse, como se fosse extrair alguma resposta assim. Claro que isso não era possível. Quando eu o olhava ele virava o rosto, acho que ele realmente queria esperar até a manhã seguinte e uma boa xicara de café logo depois de analgésicos pra minha ressaca. Num estalo lembrei de Mina, caralho ela ficou lá. Sozinha. Como ela vai voltar pra casa?

-É... Katsuki... A Mina, ela...

-Foi pra casa.

-Eu não avisei e por isso eu...

-Ela saiu na hora que entrei no banheiro cabelo de merda. Fui te avisar. E aí... Aconteceu tudo. Ela saiu.

-Ah...

E mais uma vez o silêncio reinou.

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-Toma banho você primeiro Eijirou, acho que você bebeu mais que eu. E sua cabeça deve estar explodindo.

-Pode ir, eu vou pegar minhas roupas primeiro... Não quero sair de toalha, você pode entender errado e achar que eu tô, sei lá...

-QUE VOCE TÁ O QUÊ CARALHO? EU NÃO ACHO QUE VOCE VAI ME ESTUPRAR ENQUANTO DURMO NÃO PORRA, TU TÁ DE SACANAGEM? Eu te vejo pelado desde a escola, sei até quantos centímetros teu pau tem.

-Mas agora é diferente, eu...

-Você ainda é o Kirishima, o cara que tá mais de quinze anos na minha vida. Para com essa babaquice. Toma a porra do teu banho e amanhã a gente conversa Eijirou. -disse já saindo em direção ao quarto "dele".

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Já na cama eu só conseguia imaginar em como eu tinha estragado toda nossa relação perfeita, e em como eu iria perder quem sempre esteve ao meu lado. Não consegui me segurar e fui até ele. Já fui entrando antes de bater na porta pra ele não me mandar pro meu quarto pela milionésima vez.

-Já vou dormir Bakugou, já tomei banho também eu só queria dizer que... É... Eu.... Me desculpa de verdade eu te juro que não era minha intenção. Eu amo você, não queria que você achasse que eu sou um péssimo amigo e...

Ele estava terminando de pôr a cueca box pra dormir, eu sabia que esse era o "pijama" dele... E pela segunda vez na vida, senti o meu amiguinho acordando por causa do meu amigão Bakugou quase sem roupa. Puta que pariu. O abdômen definido, a cueca box preta em contraste com a pele clara e os pelos loiros, o cabelo molhado pingando pelas costas...

-PORRA KIRISHIMA EU TO TROCANDO A ROUPA CARALHO! SAI DAQUI, JA FALEI QUE NOS FALAMOS AMANHÃ.

-Ok, Desculpa...Eu não sabia que... É... Tá, até amanhã.

E a porta fechou. Nada mais foi dito naquela madrugada. O sono chegou com a ajuda de toda bebida que eles tinham ingerido, mas não levou as dúvidas da cabeça dos dois. Tudo ainda era um mistério, como ficariam depois daquela declaração indireta? Como tudo iria ser agora entre eles? Kirishima não sabe, e também tá em duvida se a melhor coisa é descobrir.

Sentimentos Conflitantes - KiriBakuWhere stories live. Discover now