Capítulo 8- Ressaca

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O cheiro de café me acordou, levantei num pulo mas me lembrei que hoje não abriria a academia, Mina teria aula de Zumba com as meninas e eu poderia descansar já que parece que uma escola de samba resolveu fazer um carnaval fora de época na minha cabeça, eu só lembrava flashes do que houve na noite passada até que:

 -Merda! -Disse baixo, em um sussurro enquanto tudo voltava como uma avalanche a minha mente.

Levantei em um pulo e quase caí de volta na cama. Tudo veio a tona e a cabeça girou feito peão, minha boca descontrolada se misturou a doses alcóolicas demais. A vontade de desaparecer e levar a noite de ontem junto estava mais forte que consigo manter em palavras. Eu o magoei, agora ele vai embora. Tudo foi dito. Ele descobriu. Eu vou perde-lo.

 Escutei passos, o pânico aumentou... Comecei a hiperventilar e olhar pra todos os cantos do quarto em desespero pra ver se encontrava um buraco pra me enfiar.

-Ah Kirishima, você acordou. Ouvi uns barulhos. Eu já fiz o café e tô te esperando. Hoje é sábado e não irei na empresa. Vem, a gente precisa conversar.-disse já saindo quase que no mesmo momento que apareceu na porta do meu quarto.

Eu só afirmei com a cabeça, não tinha coragem de dizer nada e muito menos o olhar diretamente, e acho que nem conseguiria também. Sei que é necessário, não me entenda mal já passou da hora de falar sobre meus sentimentos. O problema é que não sei como fazer isso sem estragar tudo que cultivamos com o tempo. O que será que está passando pela cabeça dele? Cristo! Será que ele já falou com tia Mitsuki e agora eles me odeiam? Será que vou perder meu melhor amigo? Será que ele vai dizer que não quer me ver nunca mais e que sou nojento e mereço ficar sozinho porque traí nossa amizade e sou um viadinho de merda? Eu preciso de ar, essa sensação no meu peito só piora, a angústia parece que fez morada no meu estômago e um bolo se formou ali. Juntando isso a minha super hiper ressaca nada máscula resulta em picadinho de Kirishima. Hoje eu sou um quinto do homem que fui antes de sair da academia ontem e entrar naquele bar. Por que eu inventei de encontrar a Mina, eu só faço merda. Mina! Eu não sei como ela foi pra casa ontem, será que ela tá bem? -Ai! Minha cabeça no momento não consegue pensar em muita coisa ao mesmo tempo. Vou focar no Katsuki, depois que, e se eu resolver as coisas aqui me preocupo com a Mina.

-Vou tomar um banho, já chego aí pra gente conversar -falei mais alto que minha ressaca permitia e senti minha cabeça em ponto de explosão. Nunca mais eu bebo! -Sussurei a mim mesmo enquanto pegava uma cueca e short pra entrar no banheiro e ver se lavava pra fora de mim essa ressaca descomunal.

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Quando saí do quarto já vestido, vi que no criado mudo tinha uma cartela de analgésicos e um copo de água, era o jeito de Bakugou cuidar das pessoas, já que tá no DNA dele não ser muito emotivo ou claro com sentimentos. Mesmo sabendo disso, mesmo tendo certeza de já ter visto essa mesma cena milhares de vezes antes desde a adolescência, isso aqueceu meu coração. Ele se preocupou comigo. Ele se importa com meu bem-estar... E não parece estar mais puto que o normal quando acorda. Será que ele esqueceu? Não o universo não seria tão bom comigo depois de me apaixonar pelo meu melhor amigo apenas por diversão. Deve ser uma merda tediosa ser o cara que controla tudo e todos, já que ele fez uma graça dessa na minha vida e deve tá gargalhando da situação toda... Universo, eu te odeio! Enfim, vou tomar logo esse remédio e sair desse quarto. Já enrolei demais.

Entrei na cozinha, peguei o café forte que ele fez e fui direto pra mesa. Sentei e fechei os olhos já que nunca havia percebido que minha cozinha é tão iluminada pelo sol que seria suicídio se eu convidasse um vampiro pra mesa e ele aceitasse. Ri internamente da piadinha sem graça e tomei coragem pra falar depois de uns minutos de um completo silencio desconfortável em que Bakugou estava lendo o jornal.

-Katsuki, bom dia. Você dormiu bem? Ele me olhou de soislaio, e deu uma risadinha baixa.

-É assim que você quer começar essa conversa cabelo de merda? Tem certeza? 

A minha mais nova amiga sensação de pânico deu as caras.

-É... Sim. Não. Ah... Eu não sei. Só queria começar por algum lugar, eu to nervoso pra cassete Bakugou, não sei como começar, manter, ou terminar esse diálogo. Eu nunca fiquei tão nervoso na sua frente.

-Então não fica nervoso porra, sou eu, Katsuki! O cara na tua frente não mudou, sou a mesma merda de antes de tudo isso. E você também é o mesmo cabelo de merda. Só... Precisamos esclarecer tudo. Resolver...

Resolver... Como? Será que ele não percebeu que isso não é uma atração por um desconhecido? Que eu o amo além do amor de irmão que ele sempre disse manter por mim? 

-Não é tão fácil... Pelo menos não pra mim. Não sei o que fazer, e no momento minha cabeça não funciona direito. Eu... Só... Desculpa. Eu não queria estragar tudo. De verdade eu nunca achei que isso fosse acontecer. E entendo se você quiser se afastar de mim, me xingar e/ou me bater. Só por favor tenta entender... Te juro que não foi proposital. -Minhas lagrimas não se mantiam em meus olhos, e minha cabeça doía mais a cada segundo, era mais difícil respirar e eu sentia que estava perdendo a pessoa mais importante pra mim, quem eu nunca achei que perderia... Eu tinha certeza que era um adeus. Ele nunca permaneceria perto de mim depois de tudo que ouviu naquele banheiro de boate. E eu nunca mais vou ser eu mesmo se ele for embora e levar tudo que pertencer a ele da minha vida.

Sentimentos Conflitantes - KiriBakuWhere stories live. Discover now