I'm Chiara ─ Chiara Giorno

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um furacão e terremotos, maldita hora em que eu nasci nessa cidade.

Naquele momento estava tão tonta que não conseguia pensar no quanto era perigoso estar ali naquele momento e eu agradeço a tontura por isso, pois sem ela eu estaria em puro surto.

Teddy estava aqui agora, com o carro estacionado do lado do nosso nos contando sobre os carros, caminhões e helicópteros que rodeavam a praça.

"E ainda querem que a gente vá pra lá?" eu pensei mas guardei a opinião apenas para mim.

━ O bom é que se a gente for levado pela água vai todo mundo pro "achados & perdidos" ━ lucio não era tão bom em guardar as opiniões pra si. mas aquilo me fez sorrir, assim como tudo que ele fazia.

a sirene tocou outra vez, a voz da mulher saiu outra vez dos autofalantes do estacionamento e ela parecia mais desesperada dessa vez, eu tinha medo da situação ter piorado e estava tensa

━ eu te disse que eram os zumbis ━ ele chegou mais perto de mim. a fala parecia mais algo para conforto do que uma provocação e eu nunca esqueceria desse momento. o momento em que ele mostrou se importar

mas eu estava em pânico demais pra deixar que meu cérebro sonhasse com o sorriso e palavras bonitas do garoto à minha frente.

━ mamãe! ahmeudeuseuvoumorrer ━ eu disse tudo embolado e rápido com a voz mais fina que o normal, provavelmente por causa do meu choro manhoso e sem lágrimas.

Quando chegamos a praça eles nós colocaram todos em um ônibus. Durante o caminho eu pude ver as luzes apagando e acendendo, carros batendo, pessoas correndo e nunca estive tão desesperada quanto estava no momento em que o ônibus parou enquanto tudo aquilo estava acontecendo a nossa volta.

━ Que legal! ━ lucio disse e eu sinceramente não sabia como o fim do mundo o deixava tão animado.

o ônibus fez uma parada no topo de um morro, um tanto afastado da cidade. A chuva era rala agora e parecia prestes a parar mas mesmo assim lucio se aproximou de mim e colocou seu guarda-chuva sobre nós. eu tive a sensação disso já ter acontecido antes.

mais uma parada, essa era uma espécie de abrigo da prefeitura, eu já me sentia melhor só de ter um lugar quente, e sem o balanço enjoativo do ônibus, para estar.

━ ai, quanta gente feia ━ foi a primeira coisa que tia vanessao disse ao entrar

━ mulher, para com isso ━ tia gabi repreendeu mas ao mesmo tempo tampava a boca pra não rir

━ era melhor ter ido assistir o filme do pelé, aff ━ foi o que vanessao respondeu

todos procuravam um lugar pra ficar, mas era a minha família, nem o apocalipse podia para-los.

━ é aqui que começa o tal do 'apocalipiti'?

━ o que? banda calipso?

e pronto, estavamos todos dançando numa rodinha e cantando músicas. depois passeamos pelo local, eu procurava pessoas pra conversar, minha mãe e minhas tias procuravam possíveis perigos.

━ vem cá, seu filho da puta, você usou drogas? ━ vanessao dava tapas em lucio enquanto o perguntava ━ foi aqueles 'maconheiro ali né que te deu isso?

teddy se aproximava da roda de conversa. ele tinha o mesmo ar leve da minha mãe, essa idéia de casamento deve ter mesmo o deixado feliz para estar tão alegre no fim do mundo.

━ Eai, chiara? o que você acha da sua mãe casar com o teddyzao aqui? ━ ele perguntou em determinado momento

━ bom, eu tenho que aprovar isso ai né? ━ eu respondi

━ chiara, você sabe que ele é pobre? isso ai é um pobre fudido ━ um dos amigos dele se intrometeu na conversa

━ o que? ━ eu perguntei rindo

━ nada! ━ minha mãe disse enquanto empurrava o cara

esse momento foi legal, eu esperava que o relacionamento deles proporcionasse mais dessas coisas.

enquanto caminhavamos de um jeito engraçado pelo corredor eu e lucio cantavamos :

━ vem vem, olha como ela vem vem

tudo estaria bem se a chuva não tivesse voltado. Ela destruia tudo lá fora, os barulhos eram altos e eu observava enquanto o vento forte levava tudo a sua frente, até mesmo carros. era um desastre completo.

Dois dias depois nós fomos comunicados que a cidade voltaria ao normal e que as construções já começavam naquela manhã, mas teríamos que passar mais tempo naquele lugar.