᠉ Nineteen.

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Eu e Amy estávamos na lanchonete há quase duas horas, no aguardo de um primo seu que trabalhava em uma empresa de telefonia móvel. Ele havia pego os dados da mensagem na tentativa de descobrir em nome de quem estava o número que mandou aquelas mensagens para Jimin.

- Perdoem o atraso, meninas. – apareceu sorridente e simpático.

- Oi, Kim. Essa é a Mel. – Amy apresentou.

- Nome exótico. – ele sorriu. – Prazer.

- Minha mãe não é coreana. – expliquei. – Prazer.

- Então... – sentou-se à nossa frente. – Esse foi o nome do titular da linha que vocês me deram. – entregou-nos um papel.

- Mark Tuan? Não conheço ninguém com esse nome. – disse frustrada.

- Nem eu... – Amy suspirou.

- Infelizmente eu não tenho como ajudar em muita coisa. No meu setor, nem permitem acesso a esses dados, mas eu dei um jeitinho porque minha prima parecia bastante aflita ao telefone.

- Pode acreditar, é um caso de vida ou morte... – completei, enquanto fitava o nome escrito no papel.

Voltamos para casa, tentando lembrar de alguém que nos ligasse a esse tal Mark. Sem sucesso. Já eram 14h e a mãe de Amy ligava de cinco em cinco, pedindo que ela fosse para casa cuidar da irmã menor. Nos despedimos na esquina e eu voltei sozinha, ainda pensativa.

- Boa tarde, Mel. – a empregada cumprimentou assim que eu entrei.

- Boa tarde, meus pais estão por aí? – olhei ao redor.

- Não e disseram que não vinham almoçar. A propósito, chegou uma encomenda endereçada a você. Deixei em cima da cama, 'tá bom? – ela comentou, enquanto lustrava os móveis.

- Encomenda pra mim? Eu nem comprei nada. – dei de ombros. – Vou lá ver, obrigada.

Subi as escadas correndo, quase tropeçando no último degrau. Abri a porta do quarto, avistando a caixa. Desembrulhei tudo com rapidez. Encontrei o iPod do Jimin e um papel que tinha os seguintes dizeres: "Seja intermediária." Que tipo de brincadeira é essa?

Jimin's POV

Eu agora estava em outra casa. Uma que eu conhecia muito bem; cada cômodo, cada objeto, cada móvel. O cheirinho de café inconfundível vinha do andar de baixo.

- Sabe onde está? – Michael perguntou.

- Como não saberia? Estou em casa.

Saí do quarto em direção a escada. Ao alcançar a cozinha, toda a minha euforia transformou-se em algum tipo de frustração ao ver o mesmo garotinho sentado no balcão, com cara de tédio, o que deixava suas bochechas infladas.

- Vai continuar com essa carinha, Jimin? – tia Emily perguntou e o garotinho fez bico. – Já sei, que tal se dermos uma volta? Vamos ver o mar!

No mesmo momento, a criança abriu um sorriso de orelha a orelha, esticando os braços para a moça que o carregou e subiu as escadas, voltando bem depois com tudo o que precisava para o passeio. Após um tempo de viagem, chegaram à praia que estava pouco movimentada devido à maré baixa. Minha tia colocou o garotinho no chão, fazendo-o sorrir com o primeiro contato de seus pés com a areia úmida. Sentou-se no chão e começou a brincar.

- Gostou, não é? Se quiser pode sentar ali mais perto da água. – ela dizia. – Pode fazer um castelo de areia também.

- Castelo? – os olhinhos do pequeno brilharam.

- Sim! – titia demonstrou-lhe como fazer pequenos montes. – Fique aí sentadinho, agora. – pediu, antes de acomodar-se num lugar de sombra.

Os únicos sons audíveis no ambiente, eram das ondas que quebravam ainda um pouco distante dali e dos risinhos divertidos soltados pelo garotinho.

- Menino! Volte aqui! Tenha cuidado! – olhei para trás tendo toda a certeza de já conhecer aquela voz.

Observei um outro menino passar por mim rapidamente, indo de encontro ao menor, que ainda brincando, não se deu ao trabalho de reparar quem agora sentara-se ao seu lado.

- Oi! – ele se manifestou, mas o menor não lhe deu resposta. – Posso brincar com você? – pediu em seguida, recebendo um assentimento com cabeça.

Começaram a se divertir juntos, sem dizer uma só palavra, enquanto as duas moças conversavam algo que eu não conseguia entender, por estar totalmente interessado na dupla de amiguinhos à minha frente. A maré subia aos poucos, agora molhando a ponta de ambos os pés. Num ato rápido, o menor gritava e esperneava de raiva, enquanto o outro lhe olhava sem entender, segurando seu balde azul.

- Você é ruim! – reclamou, com os olhos vermelho devido ao choro. – Não gosto de você!

O garotinho de cabelos negros levantou-se, indo sentar afastado do outro, que lhe olhava confuso e, eu arriscaria dizer, culpado por ter afastado o único amigo que conseguiu fazer. Depois de um tempo analisando se deveria ou não fazer, ele levantou-se e caminhou até o menor novamente.

- Toma. – ofereceu-lhe o objeto, mas não o outro não lhe deu atenção. – Eu tenho uma bola. – insistiu, esperando a resposta.

- Bola? – respondeu rápida e animadamente.

- Sim, vamos pegar. – disse, estendendo a mão na intenção de ajudar o amiguinho a levantar.

No momento em que a mão das duas crianças se tocaram, um arrepio percorreu todo o meu corpo gradativamente e era como se todas as cenas já vividas com Jungkook, agora passassem na minha cabeça.

"Eu amo você, meu Mochi."

Foi a última coisa que ouvi antes de abrir os olhos, que eu não havia percebido fechados até então. Minha respiração estava ofegante e ainda me sentia um pouco atordoado e confuso. Michael olhava-me como se tudo estivesse normal.

- O que foi isso? – perguntei num misto de medo e curiosidade. – Isso que eu senti?

- Jimin, já se perguntou por que ainda está aqui comigo? Porque simplesmente não morreu?

- Como assim? Eu não...

- Quando você entrou em coma, depois do que aconteceu... Você poderia ter morrido, pois caso não saiba, o seu inconsciente queria muito isso.

- Queria? – perguntei-lhe desconfiado. – Então porque eu ainda estou aqui?

- As pessoas vão à terra destinadas a encontrarem umas às outras. Elas se conhecem, se identificam e se gostam; isso geralmente leva um certo tempo, até que estejam conectadas pelo amor. Acontece que, no momento em que você e Jungkook se conheceram, a conexão aconteceu instantaneamente e desde então ela não se desfez. Foi um encontro de almas...

- Não entendo o que tudo isso tem a ver com o fato de eu estar aqui.

- Você não estava pronto para morrer, Jimin. Não era a sua hora. Então enquanto Jungkook te sentir, enquanto ele acreditar no amor que nasceu naquele momento. – apontou para as crianças. – No amor que foi reforçado durante todo esse tempo, você ainda tem chances de voltar.

- Então eu dependo dele? – senti medo ao pronunciar tais palavras, considerando o estado em que havia deixado o nosso relacionamento.

- Exatamente. – Michael voltara a olhar a dupla de garotos que agora corriam e gargalhavam. – Ele precisa te sentir... Sentir que você precisa dele... Sentir que você não morreu.

won't you save me? ❁ jikook Where stories live. Discover now