Eu não cometeria o mesmo erro.

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     Não haviam muitas pessoas para limpar a igreja. Eu mais alguns jovens, com dois Obreiros, o Pastor Auxiliar e claro a minha irmã mesmo que ela só tenha pegado um pano e enrolado na cabeça para ficar brincando, conseguimos limpar o salão rapidamente.

     A minha igreja não era muito grande, mas todas as reuniões lotavam de pessoas. Até mesmo o Pastor Leandro, que era o nosso titular estava vendo as papeladas para mudarmos para um salão maior, eu estava feliz. Era bom pensar que mais pessoas eram alcançadas pelo evangelho.

-Ei, cara! –Paulo cutucou um homem que havia sentado no último banco da igreja. –Você não pode dormir aqui, muito menos ficar sem camisa.

Me aproximei para ver o que estava acontecendo e meu estômago se embrulhou. O homem estava todo machucado, havia vários cortes pelo seu rosto e sua cabeça estava gravemente ferida com sangue já coagulado, seus olhos estavam fechados e sua boca abria e fechava levemente.

-O que está acontecendo aqui? –O Pastor Gustavo perguntou.

-Não sei, esse cara só sentou ai e apagou. –Paulo tocou novamente no ombro do rapaz levemente e tentou mover seu ombro, no mesmo instante seu corpo começou a convulsionar e espuma saia pela sua boca.

-Ai meu Deus, o que é isso? –Joana agarrou a minha mão.

-Ele está convulsionando, Jô. –Falei tentando engolir meu nervosismo.

-Vou ligar para o SAMU. –O Pastor Gustavo anunciou.

-E o que a gente faz por enquanto? –Paulo perguntou.

-Deveríamos deitar ele de lado, não acham? –Leticia falou.

-É bom não mexer nele por enquanto.

-Mas isso pode ser perigoso.

-Ele pode se machucar!

-Devemos fazer algo!

E todos começaram a falar ao mesmo tempo me deixando ainda mais nervoso.

-Gente fique em silêncio! –Pastor Gustavo os repreendeu.

-Não há nada que a gente possa fazer? –Leticia perguntou. –Pergunte para a moça, Pastor!

-O coloquem de lado. –O Pastor repetiu as palavras da moça.

Leticia colocou as mãos na cintura como se dissesse Viram como eu tenho razão?, mas eu não me importei, fui para o lado do homem que já não convulsionava mais, só tinha alguns espasmos e comecei a ajeita-lo. E foi quando ele segurou meu pulso fortemente e começou a tentar respirar com dificuldade. Em meio à tosse e com uma voz falha, ele sussurrou alguma coisa, mas era quase impossível escutar algo.

-O que ele disse, Jota? –Paulo perguntou.

-Eu não sei, eu não consegui escutar. –Falei sem desviar o olhar do homem.

Ele fez um gesto para que eu me aproximasse, eu sabia que deveria ser perigoso me aproximar, mas eu não me contive e sem pensar duas vezes me inclinei para escutar o que o homem dizia:

-Por mais que você tente, você nunca vai conseguir recebe-Lo. –Ele tossiu novamente. –Eu não vou deixar, você não é capaz. Eu quero você de volta me servindo.

-Da onde você me conhece? –Sussurrei atônito em meu lugar.

O homem deu uma risada curta:

-Você sabe. E você vai voltar para mim. –Sua voz engrossou e o homem fechou os olhos soltando o meu pulso deixando as marcas vermelhas dos dedos.

-Não irei. –Sussurrei. –Jesus morreu para que eu estivesse aqui.

Eu não sabia da onde aquele homem me conhecia, mas sabia do que ele estava falando.

E não importava o quão inútil eu fosse ali naquela igreja, eu nunca voltaria para a vida antiga que eu tinha.

Eu não cometeria o mesmo erro duas vezes.

Amor em uma fotografiaWhere stories live. Discover now