Uma garota que eu mal conhecia.

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     Em toda a minha vida, eu tive apenas duas namoradas que eu realmente levei a sério. Ana quando tínhamos dez anos, e Carla que namorávamos quando chegamos a igreja.

     Íamos completar quase três anos juntos quando eu percebi o inevitável, eu não sentia mais aquela paixão avassaladora por Carla. Estar com ela já não era mais minha prioridade, e me tornei o pior namorado da face da terra.

     Eu deixei que nosso relacionamento se tornasse monótono.

     Eu sabia que tinha que dar um basta naquilo tudo, não era justo eu continuar com algo que eu já não queria mais fazer parte, não era justo estar em um relacionamento em que apenas Carla sentia que ia dar certo, não era justo com ela, e se algum dia eu havia gostado dela de verdade, eu deveria fazer isso, não por mim, mas principalmente por ela.

     Mas terminar com Carla não era apenas uma questão de não gostar mais da garota, todos concordavam que ela era perfeita para mim, todos concordavam que iriamos nos casar, que nossa família iria ser linda e que seríamos felizes para sempre. Eu sei que é um pensamento egoísta se importar com o que as pessoas pensam ou deixam de pensar sobre nossas vidas, mas eu me vi nesse dilema até que o Pastor Ricardo, que na época era Auxiliar veio conversar comigo.

     Ele não falou nada sobre terminar o namoro com Carla, apenas disse que para que eu recebesse o Maior de Deus, primeiro eu teria que prioriza-Lo. E no fundo, eu sabia que enquanto Carla estivesse rondando os meus pensamentos, eu nunca iria conseguir.

     No dia em que eu terminei com ela, Carla ficou furiosa, mas mesmo não querendo admitir um fardo saiu das minhas costas.

     É fato que até hoje Carla ainda sente algo por mim, por diversas vezes ela tentou reatar o nosso relacionamento, mas eu sabia que não era a hora, e como eu não gostava dela, certamente ela não era a pessoa certa. O Amor Inteligente havia me ensinado que antes de entrar em qualquer relacionamento, eu deveria ter maturidade o suficiente para conduzi-lo, se não, mesmo com a pessoa que tem tudo para dar certo, pela falta de sabedoria daria errado.

     E mesmo a evitando de qualquer forma, seu número de telefone foi o primeiro que veio na minha cabeça.

     Disquei com os dedos trêmulos e esperei.

     Primeiro toque.

     Carla sempre estava com o celular na mão, é lógico que ela atenderia. Mesmo que ela não fizesse parte do nosso grupo de fotografia, ela amava gravar os momentos de qualquer evento da nossa igreja.

     Segundo toque.

     Olhei para a Obreira que estava a minha frente, seus olhos estavam arregalados e eu tentei forças o meu melhor sorriso de que tudo estava sobre controle.

     Terceiro toque.

     Certo, nada estava sobre controle.

     Eu já ia desligar e tentar outro número quando Carla atendeu:

     -Alô? -O barulho de vários gritos e música fazia sua voz ficar fraca, certamente o evento já tinha começado.

     -Alô, Carla! É o João!

     -João? MEU DEUS! ONDE VOCÊ ESTÁ, GAROTO? O Obreiro Isaque está te procurando em todo canto, ele vai matar você! -A ligação começou a falhar e alguns ruídos atrapalhavam a ligação.

     -Carla, olha me escuta, depois você briga comigo.

     -João, a ligação está muito ruim...

     -... eu estou preso no elevador aqui da igreja...

     -Eu não estou escutando nada.

     -... você tem que pedir ajuda!

     -Elevador? O quê?

     -Eu estou preso no elevador! -Gritei, mas a ligação caiu.

     Tentei ligar novamente, mas a mensagem "Sem sinal" apareceu na tela.

     Passei as mãos pelo meu rosto soltando um longo suspiro de frustração.

     -Você não conseguiu, não é? -A Obreira perguntou temerosa.

     Olhei para os seus olhos iluminados pela lanterna do meu celular, eram tão escuros quanto os seus cabelos.

     -Vai ficar tudo bem, eu prometo.

     -Você promete?

     -Prometo de dedinho. -Levantei meu dedo menor e ela o segurou com o seu.

     Eu não saberia dizer por quanto tempo ficamos ali sentados apenas iluminados com a lanterna do meu celular, mas eu fazia o máximo para a distrair. Conversamos sobre tantas coisas que essa era a melhor forma de lidar com o nosso medo.

     Mesmo sentindo minhas mãos suarem, o peito apertar, eu não ia demonstrar que eu estava com medo.

     Eu seria forte.

     Por ela.

     Uma garota que eu mal conhecia.

Amor em uma fotografiaNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ