Um sorriso que não era pra mim.

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-Eu não entendo por que você está se arrumando tanto. –Paulo disse quando eu tentava ajeitar meu cabelo pela décima vez. –Você vai com a mesma roupa de sempre!

Olhei para o meu reflexo no espelho. Era difícil fazer uma combinação nova quando a camisa era a mesma, mas eu gostava de usar a camisa do Mídia. Era como uma segunda pele.

Eu não era vaidoso, mas não podia negar o fato de que estava me arrumando ainda mais para ver a tal Obreira. Era um pensamento ridículo, seria quase impossível achar alguém no meio do bloco inteiro, mas eu não podia arriscar, não podia ir com a mesma cara que eu havia acordado.

-Sério cara, a sua situação só iria melhorar se você nascesse de novo. –Paulo disse me olhando e no mesmo instante peguei um pente para acerta-lo. –Ai! Eu só disse verdades!

-Dizem que a verdade dói, não é? –Perguntei pegando a minha câmera.

Paulo apenas revirou os olhos e começamos a andar em direção a catedral onde seria a reunião.

Chegamos lá bem cedo e Paulo foi conversar com alguns rapazes que eram da sua antiga igreja, enquanto eu ajeitava as lentes da minha câmera e caminhava rapidamente pelo salão, observando pontos estratégicos para as melhores fotos daquela reunião. Foi quando eu a vi. Ela estava junto com alguns jovens que certamente fariam alguma apresentação. Seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo, vestia uma saia preta com sapatilhas de ballet, eu me lembrava de que havíamos conversado que ela dançava desde que tinha seis anos de idade e nunca mais havia parado, usava seu talento para ensinar outros jovens e sempre que possível fazia apresentações em sua igreja.

Ela deu um giro e eu sorri ao pensar que ela se parecia com uma das bonecas de Joana.

Caminhei lentamente pensando no que eu poderia falar e não parecer patético, mas todas as coisas que vinham na minha cabeça só me faziam querer me enfiar em um buraco de tanta vergonha.

Eu era péssimo em relações pessoais, ou aquela Obreira me deixava desconfortável de alguma forma que eu não saberia explicar?

-Posso fotografar o aquecimento de vocês? –Perguntei ao chegar próximo a ela e as outras jovens.

-João! –Ela sorriu e me cumprimentou.

-Tudo bom?

-Sim, sim! Não fiquei presa no elevador novamente.

-Escada?

-A partir de hoje e para sempre. –Começamos a rir.

-Mônica, você ficou com o meu celular? –Um rapaz não muito alto se aproximou de nós.

Mônica. Que nome bonito, achei digno.

-Não, Jefferson, acho que você deixou com a Marina.

-Sua prima vai lotar meu celular de fotos. –Ele riu e olhou para mim. –Olá!

-Olá. –O cumprimentei.

-Jeff, esse é o João, o rapaz que ficou preso comigo no elevador.

-É um prazer conhece-lo, rapaz. Normalmente, a Mô fica louca em elevadores, você é um guerreiro.

Sorri quando a Obreira deu um soco de leve no braço do rapaz.

-João, esse daqui é o Jefferson, meu noivo.- Ela disse olhando para ele e sorrindo.

Olhando para ele e sorrindo.

Meu noivo.

Ah, parabéns João Lucas!

Amor em uma fotografiaWhere stories live. Discover now