Episódio 2: A Quebra do Contrato

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— Olha, eu sei que fizemos aquele acordo, mas aqui tem só um quarto — avisou Felton

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— Olha, eu sei que fizemos aquele acordo, mas aqui tem só um quarto — avisou Felton.

— Ah, não se preocupe, eu durmo no sof... — deixei a frase morrer ao ver o que deveria ser uma sala de estar. Ao contrário de um apartamento comum, o cômodo era repleto de computadores, mesas e estantes.

Encarei o wendigo com um olhar inquisitivo, sem acreditar.

— É um apartamento de um quarto, tinha que ter um escritório de alguma forma — justificou.

No fundo, eu não estava nem um pouco preocupado com o imprevisto. Felton conquistou minha confiança no caminho de Nova Iorque para Washington e, a partir daquele momento, o acordo sucumbiu.

Mas não podia externalizar tão facilmente, não mesmo. Tinha que deixá-lo um pouco inseguro para que minha própria imagem de "detetive sério e decidido" permanecesse intacta.

— Ainda é cedo, podemos olhar isso depois — falei por fim.

Fui apresentado ao pequeno apartamento com bastante cuidado. Era simples e bem decorado.

A sala, como já descrevi, era um escritório. Uma mesa encostada na parede sustentava o monitor do computador que parecia há muito tempo não utilizado; no centro, outra mesa compartilhava uma quantidade maior de cadeiras, notebooks e gavetas, estas que estavam firmemente trancadas; e nas paredes, duas grandes estantes eram preenchidas por livros variados — cheguei a ler a lombada de "Teoria e Prática da Investigação" e "Percy Jackson e os olimpianos" na mesma prateleira.

O que mais me chamou a atenção, porém, foi o grande quadro negro preso à parede por pregos ao lado de um armário igualmente pregado.

Observei a letra contraditoriamente robusta e redonda exibir um título estranho e desenhar no objeto símbolos e setas para lá de esquisitas.

"Desaparecimento 28/09" era o título.

Meu corpo inteiro travou.

Vinte e oito de setembro era a data do desaparecimento de Lydia. Aquele quadro e todas as informações distribuídas nele — que eu vim a entender minutos depois de tanto encará-lo — era uma tentativa de Felton para achar Lydia.

— Obrigado — disse. Não precisei especificar o motivo, o wendigo entendeu.

— Não precisa agradecer. Eu estava entediado.

Rimos baixinho.

Também é algo muito comum entre eu e Felton: temos um humor bem ácido devido a todas às situações que somos obrigados a passar.

Muitos costumam reclamar de nossa participação nas investigações por conta disto.

Enfim, voltemos ao tour.

A cozinha era simples o suficiente para uma pessoa que costumava se alimentar apenas de fastfoods; fogão de quatro bocas embutido na pia, um miniarmário que parecia abrigar poucos copos, pratos e talheres, geladeira num tamanho considerável e sem comida — diga-se de passagem — e uma pequena mesa de madeira e vidro que dava à toda decoração um toque minimalista e clássico.

Raiz de BabelWhere stories live. Discover now