Ana e seu coração capricorniano

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— Eu não tô nervosa, Jeon... — Ana repetiu mais para si do que para mim.

— Eu sei disso, você nunca fica nervosa, só perguntei por perguntar.

Ela me fitou com uma cara de poucos amigos e eu só sorri amarelo. Era dia de jogo, sabe, Ana é jogadora de vôlei, uma das melhores do time da faculdade. É época de campeonato e agora que eu provei que ela tem sim um coração — sabe, depois daquele chameguinho gostoso depois da festa, que se você está se perguntando sobre, não deu em nada além, mas olha, pra mim já foi muita coisa —, eu ando meio preocupado com ela, porque se tem uma coisa em que ela é boa mesmo, é em esconder as coisas. Sabe, principalmente as que incomodam.

Ana odeia transparecer fraquezas. E apesar de ser uma das melhores jogadoras, seu time não anda assim tão bem. Vamos dizer que, talvez, e só talvez, elas não passem para as quartas de final, e se já não bastasse essa pressão, o time adversário de hoje é o de Emily. Quem no mundo é Emily? Você me pergunta, e eu só vou dizer uma coisa: é a arqui-inimiga de nossa Ana capricorniana.

Há quem diga que as duas já saíram no tapa no primeiro ano, mas isso é lenda, porque Ana não encosta em ninguém, ela até solta uns bons palavrões, o que na minha humilde opinião é pior que um tapa, porque ela sabe ser ruim quando quer. E apesar de Emily ser uma ótima jogadora, todo mundo sabe que não chega aos pés de Ana, não tô falando isso porque sou caidinho por ela, pode perguntar aí pra qualquer um.

Mas, ainda assim, Ana odeia Emily e Emily odeia Ana. Por isso, meus amigos, hoje o bicho pega. É tudo ou nada. Então minha preocupação com essa menina de coração gelado tá aumentando, porque eu sei, justamente, o que é que faz ele dar uma derretida nada boa. Odeio vê-la nervosa, ansiosa e se tudo der errado, magoada consigo mesma.

Ela levantou de supetão da mesa, se embreando no quarto mais uma vez, e só saiu uns vinte minutos depois, vestida no uniforme, com os cabelos num rabo de cavalo alto, olhar sério e cara de poucos amigos. Não me atrevi a falar nada, só levei minha Ana até o ginásio, e depois disso não a vi por horas. O jogo só teria início às quatro da tarde, e enquanto não chegava, eu tagarelei com alguns amigos na arquibancada.

— Olha lá, Jeon... — Taehyung indicou a jogadora adversária que me encarava com um sorrisinho nos lábios.

Sim, tem essa também. Emily, por algum motivo, que até deus desconhece, acha que nós temos uma química.

— Meu deus, espero que ela não venha aqui...

Taehyung estava largado ao meu lado, cansado por ter passado mais uma noite jogando ao invés de dormindo, começando a rir da minha cara, porque obviamente que ela iria até mim, como fez em todos os jogos em que eu estive — lê-se todos os que Ana era sua adversária.

— Tarde demais — ele disse, ainda olhando para a menina que vinha em nossa direção.

Dei minha melhor cara de paisagem, fingindo que mal lembrava quem no mundo era ela, mas como boa sem noção que ela é, foi logo cheia de intimidade, não só comigo, mas com Taehyung também, que eu não duvido em nada que já tenha ficado com ela em alguma festa, ainda que não se lembre.

— Ei, Jeon! Tae!

— Opa... bão? — o Kim perguntou, parecendo um caminhoneiro.

— Oi, Emily...

— O que acham de ir na minha festa de comemoração hoje a noite?

Comemorar o quê, criatura? Eu pensei com meus botões.

— Tipo o quê? — eu questionei.

— O quê?

Taehyung riu.

Você que lute, Jeon Jungkook!Where stories live. Discover now