Desmemoriada

178 19 1
                                    

O relógio marcava seis e meia da manhã e eu já estava de banho tomado, com uma máscara detox no rosto e um chá de hortelã pronto. Jeongguk ainda ronronava no sofá, os cabelos mais bagunçados do que o normal, o moletom meio levantado, mostrando aquelas tatuagens escondidas que as meninas morriam pra saber se eram verdade ou lenda. Eu lembro de cada detalhe sobre o dia anterior, aquele inferno de dia. Sim, eu lembro. Infelizmente.

Primeiro que nós perdemos a vaga nas quartas de finais, e pior que isso, para a maldita da Emily. Aquela garota consegue me tirar completamente do sério, só pelo simples fato de existir. Se eu um dia tivesse coragem pra bater em alguém, seria nela. Com certeza uma boa surra no maior estilo novela mexicana. Porque ela pensa que é melhor que qualquer outra jogadora e ainda por cima, sempre vem com um papinho estranho de quem Jeon é caidinho por ela.

Não que eu me importe. Jeon Jeongguk pode namorar quem ele quiser nesse mundo, e eu não teria nada, e absolutamente nada, com isso.

Mas o caso é que, eu conheço muito bem esse babão aqui, e ele não gosta de garotas como a Emily. Na verdade, não sei do que ele gosta. Talvez de pegar no meu pé. Não pode me ver com um mocinho bonitinho que já vem chegando, e aí, olha só, eles já pensam que eu tenho um rolo bem enrolado e desistem de mim. Foi assim com Kim Matthew, aquele gostoso amigo da Somin, ele me disse com todas as letras que: "vocês precisam se resolver, depois a gente volta a se falar", e eu te pergunto, resolver o quê?

Jeongguk começou a resmungar no sofá e eu continuei ali na cozinha, plena com meu chá de hortelã. Dei uma esticada no pescoço, tentando ver a movimentação, e a carinha dele foi de dar dó. Olhou de um lado pro outro, e fez o que faz de melhor:

— Ô, Ana!

Fiquei bem quieta, vai que ele voltava a dormir, era cedo demais. Mas Jeon é um demoninho, e já foi logo levantando pra me procurar. Deu de cara comigo e minha máscara, ainda com os olhinhos inchados de sono. Eu não soube direito o que dizer, então disse o óbvio:

— Bom dia.

— Por que saiu de lá?

Que pergunta é essa?

— Oi?

— Por que levantou tão cedo?

— Ah... não sei, só acordei — respondi meio nervosa.

Okay, eu sei que dormi agarrada nele no sofá da sala. Eu sei que você sabe. E não, eu não sei porque fiz isso.

— Você tá melhor?

— Melhor do quê?

— Ah, você meio que... chorou e tal. — Ele se sentou na banqueta, me olhando curioso.

— Hum... perder é foda, mas tô bem sim, relaxa.

Por favor, Jeon Jeongguk, não fala sobre o sofá.

— É... a gente meio que...

— Tô atrasada, vou encontrar a Somin — eu tentei desviar, saindo da cozinha.

— Porra, Ana, seis e meia da madrugada? Vão fazer o quê?

Olhei pra ele sem muita saída. Que saco, Jeon.

— A gente o quê? — perguntei meio sem paciência. Quer falar, então fala, caralho.

— Nada não... — Ele bagunçou os fios ainda mais e saiu em direção ao banheiro.

Vocês estão vendo isso? Eu às vezes não sei o que o Jeongguk quer de mim. Mas eu realmente estava afim de me fazer de desmemoriada, evitar problemas sempre foi uma arte, e bom, esse caso aqui parece um bom e velho problema. Ouvi Jeon ligar o chuveiro, e soube que ele ficaria ali por um bom tempo.

Você que lute, Jeon Jungkook!Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz