Capítulo 20 - Cabelos vermelhos

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Pov Asher

Estava a olhar para o teto do quarto de um hotel em uma manhã fria e chuvosa. Meu coração acelerava todas às vezes que repetia a mesma frase: Há algumas horas tornarei-me o Rei da Inglaterra.

Uma noite não dormida era o suficiente para reconhecer o quanto estava nervoso. Meus músculos já instantaneamente se tensionavam só com a possibilidade de ser o Rei de Dundeya.

A pressão sobre mim crescia a cada segundo. Quem me ensinaria a governar um país? Quem me ensinaria a não cometer erros? Que me ensinaria a não precisar ser ensinado?

Estava sozinho outra vez. Ainda que tivesse os ministros a me ajudar, cada vez que os olhav via em seus olhos o quanto me acham despreparado para o cargo. Olhavam para mim como se olha para uma criança, concordando que esta havia sido a pior decisão tomada por Elisabeth. Cuidar de um reino não era uma tarefa fácil, na verdade era extremamente complicada, governar um país seria diversas vezes mais difícil.

Batidas na porta soaram pelo quarto. Levantei-me para ver de quem se tratava, mas ao tocar a maçaneta desisti de abri-la.

- Eu tenho o direito de ignorar a todos pleo por hoje! - disse a mim mesmo.

Desci tomar um banho fervente, deixando a água lavar o meu corpo como se fosse capaz de limpar toda a sujeira em que me tornei. Como se pudesse carregar todos os meus medos e tensões pelo ralo.

Minha familia nem se deu ao trabalho de vir. Pelo contrário, mandaram todas as minhas coisas, em malas e caixas, com uma simples desculpa falsa. Isso foi o suficiente para confirmar o fato que não os veria mais. Perdi meu cargo - apesar de ganhar obviamente um cargo melhor - perdi minha família, minha casa, e tecnicamente meu futuro com Loriana. Apesar de seus defeitos, e suas frescuras, apesar de todas as desistências por circunstâncias justificadas, ela era a única constante em minha vida. Éramos amigos desde minha infância, e aprendi a gostar de sua pessoa mesmo com toda aquela personalidade volúvel, pus em mente que era o melhor para todos, era o melhor para mim.

Ao sair do banheiro me deparei com as batidas repentinas novamente. Meu instinto fez-me abrir a porta com força.

- O que foi? - perguntei obviamente irritado. Mas a raiva se esvaíu ao vê-la ali diante a mim. Ardena nunca saberia o que aqueles olhos azuis me causavam.

- Me mandaram vir aqui lhe chamar. Parece que a Alteza Real, precisa aprovar as roupas de sua acompanhante! - ela disse com um nítido tom de deboche. 

Ardena era uma boa menina, mas seu orgulho a fazia cometer diversos erros, alguns deles considerados imperdoáveis. Esperei seus olhos voltarem aos meus, após percorrerem meu tronco nu. Isso me recordou de que havia aberto a porta somente de toalha. Esbocei um sorriso maldoso, propositalmente, apenas para vê-la corar. E bem, ela era ainda mais linda corada.

- Confio no bom gosto de minha mãe! - fechei a porta em um só movimento. Apesar de querer vê-la vestida de princesa, não havia tempo a perder. E nem mais neurônios para serem queimados.

(...)

- Não irá assinar o contrato? - Allan disse se referindo ao contrato matrimonial que estava em minhas mãos. Apenas encarei o papel e sentindo a culpa me corroer.

- Allan, poderia me deixar a sós? Gostaria de ficar sozinho, penso melhor assim. - pedi.

Levantei-me da cadeira e fui a janela para observar o jardim, me encontrava no escritório naquela manhã, e aquele era o melhor ângulo para se ver a paisagem que por ali se formava. Minha atenção se foi para as gotas de água que escorriam pelo vidro. Aquele era o momento propício para se desabafar. Resolvi escrever para a única pessoa que acreditava me entender, mesmo tendo ela me abandonado. Afinal, as pessoas não deixam de te entender por ter partido.

Lua Imortal - Dezessete Encarnações 《1° Livro》Where stories live. Discover now