[Carta 1] Zoe

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Querida Cigana,

Decidi que vou escrever essas cartas para você. Quero te mostrar que tudo que você me disse estava errado e não passa de charlatanismo. Por isso, vou te contar o que acontece na minha vida para que você, um dia, se envergonhe de ter cobrado meu dinheiro para falar tanta mentira e, quem sabe, não fazer isso com outras pessoas também.

Você não tem vergonha na cara, não?

Primeiro você me disse que um moreno alto e forte entraria no meu caminho. Quer dizer, tem só alguns milhões de pessoas assim no mundo, certo? Bem fácil de acertar algo nessa linha, ainda que nesse momento isso não seja verdade. Quero ver só a sua cara se o meu próximo contatinho for loiro. Acho que vou colocar esse filtro nos meus olhos só pra te provocar, inclusive.

Aí, me disse que esse moreno ia acabar com a minha vida. Bom, eu tenho certeza que assisti tantos filmes românticos quanto você, diria que a chance aqui é de uns 50%. Olha só você jogando de uma forma um pouco mais arriscada, não é mesmo?

Então, você me disse que teria um problemão no trabalho. Minha filha, quem não tem problemas no trabalho é porque não trabalha. O capitalismo tá aí pra gente se ferrar mesmo, então, novamente, nada que me surpreenderia.

Foi mais ou menos por aí que você começou a delirar de verdade. Acho que estava vendo que eu não estava convencida e foi pro absurdo de uma vez, porque pelo menos assim eu pararia de pensar que estava só jogando com as probabilidades.

Você disse que eu seria obrigada a me casar. Que, a princípio, eu não ia querer, mas que no fim esse é o meu destino e blá blá blá.

Escuta, eu não sei se te contaram, mas esse é o século 21, viu? Ninguém mais no mundo moderno é obrigado a nada. Menos ainda a se casar.

E aqui vai uma novidade para você: Eu não quero casar. Não acredito no casamento. Então, me diz, Querida Cigana, como uma mulher bem sucedida, decidida e cabeça dura como eu, vai se submeter a algo que sequer concorda?

Ainda teve toda aquela loucura sobre um problema do passado e alguém que eu odeio querer o meu bem, e não sei mais o que... A verdade é que parei de te ouvir depois de um tempo, mas me arrependo de não ter gravado para poder escutar e dar risada das suas sandices quando quiser. Seria um stand up de sucesso.

Eu não vou me alongar mais porque acho que já está bem claro o tanto de falácias que saíram da sua boca. Mas tudo bem, eu vou entreter o seu desafio. Você disse que eu teria o meu dinheiro de volta se estivesse errada e, sabe, nem é pelos trezentos reais. Pode pegar eles e investir em uma profissão de verdade. Eu só quero o prazer de te ouvir dizer que eu estava coberta de razão.

Combinado assim? Volto a te escrever daqui a alguns dias, assim que as primeiras cartas do seu castelinho fajuto começarem a desmoronar.

Sinceramente,

Zoe

Querida CiganaWhere stories live. Discover now