[Capítulo 10] Zoe

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Mordi a ponta da unha e encarei Miguel enquanto refletia se eu queria mesmo colocar ali, na televisão 4K, uma das piores transas da minha vida, para assistir com alguém que eu deveria odiar.

— Esquece, foi uma ideia ruim. — Ele disse, preparando-se para fechar o notebook.

— Não é isso. — Me forcei a dizer, porque não sabia quanto tempo mais iríamos ficar presos ali, e não fazia sentido jogar merda no ventilador se o ventilador cuspiria tudo de volta na minha cara. — É que... Eu tô com vergonha de assistir.

— Se quiser, tiramos da TV e você vê sem som sozinha. Prometo que não vou pesar na sua por isso.

— Não tô com vergonha de você. — Revirei os olhos, incomodada porque odiava demonstrar vulnerabilidade. — Tô com vergonha de reviver esse momento. Foi péssimo.

— Você tá de brincadeira que o vídeo que vazou não foi a sua melhor performance na vida, Zoe? — Miguel riu um pouco, amenizando a minha sensação. — Uma falta de caráter não terem te perguntado primeiro em qual você achou o ângulo mais favorecedor.

— Não é? — Entrei na brincadeira, acenando. — O foda é que o ângulo é o de menos. Eu não sabia onde estava a câmera, nem que ela existia, tudo bem. Mas é que, o tal do Ulisses... Era ruim, Miguel.

— Ruim nível Laís?

— Ruim nível ejaculação precoce e zero preliminares.

— Como caralhos um homem acha bonito vazar um conteúdo que fala mais sobre a incapacidade dele satisfazer uma mulher do que sobre qualquer outra coisa?

Sua indignação era risível, mas pouco contribuía com a minha apreensão. A verdade era que pouco importava, porque ele era um homem. E, em qualquer situação, a mulher sempre seria mais julgada. Mas, se eu conhecia bem o infeliz à minha frente, ele sabia disso muito bem.

— Tá bom, vamos ver. — Decidi em um impulso, indo até onde ele estava para dar o play eu mesma no diabo do vídeo. Miguel ficou estático e mal respirava enquanto a tela cheia exibia o quarto vazio de tons sóbrios e sem personalidade. Era possível escutar passos, provavelmente Ulisses tinha colocado um timer para não ficar tão na cara que ele tinha colocado o celular ali sem eu saber.

Em alguns segundos, minha voz ecoando um "que pressa!" de outro cômodo era ouvida baixinho, seguida da sua resposta sobre estar com muito fogo.

— Você está é com medo de lotar o armazenamento do celular antes de difamar minha sócia, palhaço. — Miguel rosnou, cruzando os braços em um tom emburrado.

Finalmente entramos no cômodo, ele já sem camisa e trabalhando para tirar os tecidos do meu corpo com rapidez. Deu para ver quando estragou minha maia-calça, os buracos dos seus dedos esticando e rasgando a peça delicada.

O vídeo começou a ficar embaçado propositalmente nas partes íntimas que foram reveladas, mas ainda dava para deduzir tamanhos e formatos, se é que você me entende. Observei Miguel tombar a cabeça, sem se dar conta, e medir meu corpo na imagem de cima a baixo, engolindo em seco.

Eu tinha ficado de costas para a câmera e tentado me abaixar para ajudar Ulisses a se livrar da calça e incitar uma brincadeira preliminar, mas ele logo me puxou pelos cotovelos, estalando mais um selinho na minha boca e me jogando na cama. Meus seios pularam e os cabelos cobriram uma parte deles, enquanto o homem me escalava sem meandros.

Ele voltou a me beijar, segurando os dois lados da minha cabeça, como se para me manter quieta no lugar. Para isso, tinha o corpo curvado em uma pose claramente desconfortável para suas costas e para o meu pescoço tombado mais do que o necessário. Ele sequer me tocava, acariciava ou excitava, parecia ser tudo apenas pelo vídeo, apenas para que fosse fácil me identificar bem ali na cama filmada.

Querida CiganaWhere stories live. Discover now