[Capítulo 11] Miguel

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Já eram mais de duas da tarde quando Nicole retornou. Melissa tinha ido nos levar o almoço mais cedo, e não abriu a boca na entrada ou na saída, apenas trocou um olhar cheio de significados com Zoe. Nós comemos em silêncio e continuamos evitando nos encarar depois do momento pós vídeo.

As imagens continuavam em loop na minha cabeça. Estava mais puto com o tal do Ulisses do que com a minha própria ex-namorada, porque pelo menos eu sabia que tinha um fundo de verdade em algumas das suas declarações. Já aquela transa gravada era a coisa mais artificial e escrota que eu tinha assistido em muito tempo.

Mas não podia pensar nisso. Pensar nisso significava lembrar das coxas grossas de Zoe, da sua respiração acelerada, e daquele trejeito escroto que ela tinha de lamber os lábios fartos, que me deixava louco. Eu não podia cair na tentação de novo. Nunca mais.

Quando nossa assessora de imprensa voltou, não foi sozinha. Melissa estava lá de novo, mas dessa vez Tomás e Donatello também a acompanhavam. Ela fechou a porta com o rosto preocupado, que por si só já nos contava que as notícias não eram boas.

— Esse bando de desocupados veio pela fofoca, foi? — Zoe brincou, em meio a um riso nervoso.

— Acho que vieram tentar amenizar o que quer que a Nick tenha para nos falar. — Eu disse em retorno. — Estou certo?

Nicole cruzou as mãos na frente do corpo, enquanto o restante dos nossos amigos se sentava nas demais cadeiras dispostas na mesa de reunião. Olhava para o chão e sugava as bochechas, tensa.

— Eu tentei tudo que vocês podem imaginar e mais umas quarenta coisas além disso. — Começou a dizer, ainda sem nos olhar. — Tenho uma teoria que... Bom, não vem ao caso agora. Estou investigando e muito em breve vocês terão novidades sobre isso. Sobre os porquês. — Fez uma pausa, enfim levantando a cabeça e endireitando os ombros. — O que sim importa agora é que a notícia já correu. Correu o bastante para chegar nos nossos investidores.

Um coro de respirações sendo apreendidas ecoou pela sala. Juntei as mão em oração na frente do rosto e apoiei a testa nos dedos, tentando me controlar e não pensar no pior. Zoe empurrou a cadeira e se levantou, batendo os saltos no chão de cimento de um lado para o outro, tentando colocar em movimento algo que não fosse o próprio cérebro.

— E...? — Donatello puxou a indagação, ganhando alguns olhares tortos de quem preferia esperar que Nicole contasse as novidades do seu próprio jeito e no seu próprio ritmo.

— E eles exigiram que a gente resolva isso nos próximos seis meses, senão vão pedir saída como acionistas e a abertura de capital vai pro buraco.

— Puta que pariu! — Rosnei, a voz abafada agora que eu tinha aberto as mãos para abraçarem meu rosto em chamas por inteiro.

— Não é possível uma coisa dessas... Um par de fofocas de fonte duvidosa e os caras já querem abandonar o barco? — Zoe protestou, batendo as mãos sobre os quadris.

— Não precisa ser verdade pra manchar a reputação de vocês, Zo. E, hoje, vocês são toda a imagem da empresa. A especulação do valor das ações para quando abríssemos capital caiu quase 30% desde hoje de manhã.

— TRINTA POR CENTO? — Gritei, sem conter a minha voz. — POR CAUSA DE UMA EX MAL COMIDA E UM PAU MOLE FILHO DA PUTA?

— Miguel... — Tomás tentou me acalmar, ganhando um empurrão na mão que estendera na minha direção.

— Eu tenho direito de estar puto, Tomás, não vem com seu paz e amor pra cima de mim! — Urrei, me voltando para Nicole novamente. — Se é isso que importa para esses imbecis, não quero o dinheiro deles. Podem enfiar nas próprias bundas e ir à merda.

Querida CiganaWhere stories live. Discover now