frozen || IX

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Quando ouvi o barulho do carro no andar de baixo, corri para ver se não havia sobrado nenhuma garrafa de bebida alcoólica ou até cigarros. Eu só bebi cervejas, claro, mas os amigos do Ash são loucos ao ponto de beber qualquer coisa.

Meus pais entraram em casa e logo depois entraram meus irmãos. Eu disse apenas um 'Oi' para eles, menos para Sophie. Eu corri na direção da garotinha, que largou seu inseparável Charizard de pelúcia no chão e pulou em meu colo.

"Senti sua falta irmãozao." Ela disse sorridente.

"Também senti, baby girl." Eu passei a mão pelos seus finos cabelos loiros.

Ela se soltou de e eu a coloquei no chão.

"Como foi em Melbourne com o Ben?" Eu perguntei. Havia estranhado o fato de meu irmão não estar com eles.

"Foi muito legal! Ele me comprou algumas miniaturas de pokemons, e nós passeamos bastante." Ela disse, sentando-se no sofá. "Ele foi até a casa do Andy no fim da rua, porque não fala com ele a um tempo."

Andy era o melhor amigo de meu irmão. Eles sempre estudaram juntos e passaram o ensino médio fazendo planos para a faculdade. Mas, no terceiro ano, Andy teve um câncer que quase o matou. Quando Ben teve que deixa-lo para trás, dois anos atrás, ele chorou tanto que mal conseguia dirigir. Meu pai teve que leva-lo até Melbourne e ajuda-lo a colocar as coisas no novo apartamento. Isso foi muito estranho pra todos nós, porque Ben sempre nos confortava nessas situações. Ele sempre foi o durão, o que nos confortava. Foi intrigante vê-lo chorando assim por um garoto. Acho que meu irmão realmente sempre gostou do Andy de verdade. Não romanticamente, claro, mas do mesmo jeito que eu acredito que ele sempre gostou de mim. Quando Andy descobriu que estava completamente curado do câncer, ele decidiu continuar em Sydney, e meu irmão prometeu vir visita-lo sempre que pudesse. Na verdade, ele sempre podia, afinal ele não estudava em uma universidade integral. Mas a viagem de avião era cara demais e a distância de carro era muita, então, ele apenas nos visitava a cada dois meses.

"Eu senti falta dele também." Eu disse, sorrindo para a garotinha, que também não parava de mostrar seus dentes brancos enquanto balançava as pernas. Ela era sempre assim, sorridente. 

Em alguns pontos, Sophie era igual a mim. Não apenas na cor do cabelo e dos olhos, mas em outras características também. Apesar de ser apenas uma garotinha de 7 anos, ela era bem inteligente. Não que eu fosse um gênio ou algo assim, mas eu sempre fui considerado bem "avançado" para a minha idade, assim como ela. Ela também preferia ficar no cantinho com seus pokemons e joguinhos que ela podia jogar sozinha do que ficar com as outras crianças, igual a mim, que preferia ficar com minhas action figures do Star Wars a ficar com os outros garotos, batendo neles ou, no meu caso, apanhando. 

Na verdade, uma vez, no primeiro ano da escola, um garoto da escola me bateu e me chamou de "gayzinho". Eu não sabia muito bem o que aquilo significava, então perguntei para a Sra. Jenner, minha professora, então ela me respondeu:

"Ser gay significa ser garoto e gostar de outros garotos." Ela explicou., com toda a paciência do mundo.

"Eu sou gay?" Perguntei. Eu era apenas uma criança, e apesar da minha curiosidade, não  compreendia tudo aquilo.

"Talvez. O que você acha dos  garotos? E das garotas?" Ela perguntou, passando a mão pelos meus cabelos.

"Bem, eles não me deixam brincar com eles, mas  eu gosto de observa-los. E elas me deixam brincar as vezes." Eu disse, sorridente como sempre. 

"Você é gay, Luke." Eu ainda consigo me lembrar dela dizendo essa frase. 

Interessante. Eu estava achando tudo aquilo bem interessante.

❁ flaws || muke {hiatus} ❁Where stories live. Discover now