Capítulo 5 - Parte 3

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Especial de natal

Vale Fortaleza – 24 de Dezembro, 10h41min.

Catarina permanecia dentro do guarda roupa que, aquela altura, estava vazio com o diário entre as pernas e uma pequena lanterna nas mãos. Era o guarda-roupa do Heitor. Ele já tinha feito as malas para passar o natal em casa, assim como o restante da tropa. Ela não precisava se esconder daquela forma, já que provavelmente estava sozinha, mas se sentia mais a vontade assim. Catarina não iria para casa, mais uma vez, e prometeu que encontraria Flávio no lago.

No dia do encontro dos dois, Flávio percebeu, sem que ela precisasse dizer, o que estava acontecendo e não falou nada para ninguém sobre o segredo dela, mas marcou esse encontro, esperando uma explicação.

O que ela iria dizer para ele? Ele entenderia? Catarina sabia que Flávio nunca a entregaria, mas ele a olharia da mesma forma depois disso?

Olhou para o diário de sua mãe no escuro e acendeu a lanterna. Desde que o ganhou, nunca tivera coragem de ler. Abriu e passo os dedos pelas páginas velhas e surradas. Começou a ler com um nó na garganta.

Haviam marcas de lágrimas quando ela escreveu o que seu marido tinha feito. Catarina preferiu pular aquela parte, foi passando os olhos até que encontrasse algo que chamasse sua atenção. Acabou parando na página em que ela se encontrou pela primeira vez com Lutero depois dele tê-la obrigado.

Catarina recebeu como uma pancada quando leu que ele, de fato, nunca a tinha obrigado. Mia, que já estava magoada com o marido, viu isso como uma forma de se vingar e também porque queria, pelo menos uma vez, se entregar aquele homem. Sua mãe também descreveu dizendo que nunca tinha sentido prazer no sexo até aquela noite com Carlos (que era como ela o chamava).

Catarina já tinha aprendido que sexo, no vale dela, era para reprodução e não por prazer. Se ela não tivesse tido contato com pessoas de outros vales, provavelmente nem saberia que isso poderia ser prazeroso. Os homens não tinham o menor cuidado, eles tendo a parte deles estava de bom tamanho.

Lutero mostrou outro lado a sua mãe, e ela preferia estar com ele a com seu pai. Não só pelo prazer, mas também porque Carlos era o homem que ela realmente amava. Teve vontade de chorar quando leu que ela realmente amava Lutero. Como? Como ela poderia tê-lo amado? Fechou o diário e apertou os olhos, tentando afastar as lágrimas e o gosto ruim que estava em sua boca. Encostou a cabeça nos joelhos e começou a respirar devagar.

A porta se abriu.

– Carlos? – Heitor chamou.

Catarina olhou pela pequena abertura do guarda roupa enquanto Heitor procurava no quarto. Ela desligou a lanterna. Ele não poderia vê-la naquele estado.

– Carlos? – Ele pergunta mais uma vez.

– O que está fazendo? – Melissa pergunta, entrando logo atrás.

– Estava procurando o Carlos. – Heitor diz. – Vamos embora logo, queria me despedir dele e desejar feliz natal.

– E ele não está aqui? – Ela pergunta.

– Não. – Heitor diz.

– Ótimo. – Melissa diz.

Catarina escuta quando a porta é fechada.

– O que é isso, Melissa? – Ela ouve a voz de Heitor.

Inclinou-se para olhar e viu Melissa trancando a porta. Ela avança em Heitor e começa a beija-lo. Ele fica surpreso por um momento, mas não demora muito pra começar a corresponder.

2 - Sobre Meninas e DesejosWhere stories live. Discover now