1 - Quando o menino segue uma borboleta

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Kamui Murakami tinha apenas seis anos quando sua mãe adoeceu e não pôde mais ir trabalhar para conseguir o sustento dos dois. O pai do menino havia falecido alguns anos antes de alguma doença que nenhum médico da pequena vila aos pés da grande montanha sabia curar, desde então, a mãe de Kamui, Makoto, vinha trabalhando nas plantações de arroz ali perto, mas agora que estava doente, o menino precisava arrumar um jeito de conseguir comida para ambos.

Ele saía de casa cedo para pedir que alguém o empregasse, mas todos os fins de tarde chegavam com o mesmo resultado: ninguém queria dar um emprego para um menininho que não sabia de nada.

Mesmo assim, Kamui não desistia, as providências que sua mãe havia juntado estavam acabando e ele precisava arrumar comida para que ela conseguisse se recuperar da doença.

Como sempre, logo de manhãzinha, o menino saiu de casa depois de deixar ao lado do leito da mãe um pão e um copo de leite que ele havia conseguido com muito esforço de um senhor que vinha de vez em quando vender suas iguarias na vila.

Era cerca de meio-dia e ele ainda não tinha conseguido arrumar ninguém que o quisesse contratar, diziam que ele era pequeno e mirrado de mais, não poderia servir para muita coisa nos trabalhos pesados dos quais a vila vivia. Ele encarava cada trabalhador que aparecia para almoçar naquele momento tentando avaliar se ao menos teria chances de pedir por um trabalho. Seu estômago roncava por não ter comido nada além de uma pequena fatia de pão antes de sair de casa. Mas ninguém ligava.

Kamui estava tentando se esconder um pouco do sol escaldante quando viu uma borboleta lilás parada no tronco de uma árvore próxima. Ele seguiu até ela e a observou admirado. Era uma borboleta tão bonita... O menino fez menção de tocá-la, mas o inseto bateu as asas com leveza e saiu voando para uma árvore mais além. O garotinho, ainda encantado, continuou a seguir a borboleta todas as vezes em que ela voava para mais longe, foi então que percebeu o quanto havia adentrado a floresta ao pé da montanha. E que o lugar era denso. E que ele estava perdido.

Kamui olhou para todos os lados tentando se lembrar de onde tinha vindo, mas aquelas árvores eram todas iguais para ele... Então, subitamente as lágrimas vieram. Ele estava desesperado. E se não conseguisse mais voltar para a vila? O que seria de sua mãe se ele não voltasse? Algum aldeão se lembraria da existência de Makoto Murakami? A cada pensamento seu coraçãozinho se apertava mais de pura angústia, até que ele sentiu alguma coisa tocar de leve seu dedo.

Kamui ergueu a cabeça, que antes estava encostada aos joelhos enquanto chorava, e percebeu que a borboleta que o fizera se perder havia pousado em seu dedo.

Ele a observou enquanto fungava e ergueu a mão lentamente para ver a borboleta mais de perto. Foi quando ela alçou vôo novamente, voou alguns metros e então parou no ar. Kamui sentiu como se aquele pequeno inseto colorido e elegante o estivesse chamando e o esperando para que o seguisse. E foi o que ele fez, seguiu a borboleta sem olhar para mais nada, sem pensar. E a borboleta o levou até uma clareira. Uma clareira com um pequeno chalé. Uma clareira com um pequeno chalé e uma garota agachada que cuidava de um jardim.

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