3 - Quando o menino retorna ao chalé

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Havia alguns dias que Kamui tinha visitado a estranha garota das borboletas pela primeira vez. O obentou que ela havia lhe providenciado para aquele dia ele fez com que durasse por muito mais tempo. Claro que grande parte tinha sido para a mãe, ela estava se recuperando e agora já tinha voltado ao trabalho, mas por ainda estar um tanto fraca, ela estava recebendo muito menos que o normal, que já não era muita coisa. O menino continuou a sair de casa para procurar alguém que o empregasse. Ele precisava ajudar a mãe!

Estava procurando por algumas frutinhas para comer na hora do almoço quando se lembrou de Shiori, a garota das borboletas. Será que algum dos aldeões a conhecia? Ele ainda não havia tido a chance de conversar sobre isso com a mãe, mas estava curioso. Kamui olhou para o lado, para um dos galhos finos da árvore na qual tinha escalado à procura de frutas. Ali estava uma borboleta azul pousada tranquilamente. "Caso se perca, siga as borboletas", foi o que a garota na floresta tinha dito.

Ele não estava perdido e nem precisando de ajuda, mas estava curioso sobre Shiori.

— Hei, borboleta... — Murmurou baixinho se inclinando cuidadosamente em sua direção para não a espantar. — Você é uma das amigas da senhorita Shiori? — perguntou.

Ele se sentiu um pouco bobo por estar falando com um inseto e por um momento ter esperado que ele o respondesse com palavras. Era só uma borboleta! Mas assim que terminou de pensar aquilo, as asas azuis da borboleta começaram a se mexer, pronta para alçar voo. Ao perceber – e sem entender muito bem o porquê – que ela logo voaria, Kamui desceu às pressas da árvore e olhou para cima. A borboleta estava voando, mas parecia estar esperando por ele. O menino agradeceu mentalmente por isso.

Ele perseguiu a borboleta por um longo caminho com uma alegria que sequer sabia de onde havia surgido. Manteve seu olhar fixo no pequeno ponto azul à sua frente e só percebeu que tinha chegado ao seu destino quando ouviu um cantarolar animado que vinha de uma clareira já conhecida.

Kamui se deteve onde estava. Ele não sabia se era bem-vindo naquele instante. Da primeira vez em que encontrou a garota das borboletas ela havia sido muito simpática e cordial, mas ela poderia não querer companhia naquele dia. E se ela fosse a bruxa que todos falavam e só o tivesse atraído para lhe fazer mal daquela vez?

— Não seja bobo, Kamui-kun. — Ele ouviu a voz fina da dona da cabana no meio daquela clareira ecoar. — Eu não sou bruxa e já disse que adoro companhia! — ele viu a garota de calças surgir pela porta de sua casinha e acenar em sua direção.

O menino prendeu a respiração como quem tinha acabado de ser flagrado fazendo algo muito ruim, mas então seu cérebro deixou o susto passar e seu raciocínio volto.

— Como é que sabe o que acabei de pensar?! — exclamou apontando acusadoramente para a garota. — Eu não disse em voz alta.

Shiori pendeu a cabeça para um lado parecendo um tanto pensativa.

— Não falou? — perguntou por fim.

— Não!

— Oh, bem, então vamos fingir que você falou. — Ela piscou de forma marota. — Quer entrar para comer alguma coisa?

Kamui balançou a cabeça negando.

— Será que pode me ajudar com algumas coisas? — Shiori perguntou sorrindo.

O menino a encarou desconfiado.

— Preciso de ajuda com as plantas. — Ela explicou. — Pode regá-las para mim?

O menino Murakami avaliou a expressão da menina ainda desconfiado, mas se aproximou um pouco mais.

— Você me conta por que mora aqui na floresta sozinha?

Shiori o encarou por um tempo de forma pensativa, como se avaliasse se ele era de confiança ou não.

— Eu posso pensar no seu caso, pequeno Kamui. — Ela disse finalmente. — Mas precisa me ajudar com as plantas primeiro. — Apontou para um balde com água e Kamui concordou, a curiosidade falando mais alto em seu interior.

A Garota das Borboletas ✔️Where stories live. Discover now