6 - Quando a garota das borboletas se explica

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Kamui virou-se bruscamente em direção à garota que estava sentada ao seu lado, toda feliz e cheia de vida, sua presença lhe trazia paz e serenidade... Não, ele deveria ter ouvido errado.

— Vocês humanos tem o costume de encarar a morte como uma coisa muito ruim... — A garota murmurou fazendo uma leve careta. — Nós não somos tão ruins assim.

— Mas vocês matam... — Kamui argumentou, ainda entorpecido pela informação.

Shiori estalou a língua.

Nós não matamos ninguém, são os seres vivos que morrem. Nós, shinigamis apenas aparecemos para recolher as almas de vocês.

O menino continuou olhando para a garota boquiaberto. Ela estava mesmo falando a verdade?

— É claro que estou dizendo a verdade. Se eu não fosse uma shinigami não seria capaz de ouvir seus pensamentos. — Shiori apontou com um tanto de descaso.

Kamui não sabia bem como reagir. Uma ceifadora, ele estava falando com uma ceifadora!

— Pensei que shinigamis eram invisíveis aos humanos...

— Costumamos ser. — A garota disse. — Mas eu gosto de humanos e gosto de estar com eles, conversar. Porém, a maioria deles parece sentir que há algo de diferente em mim, por isso fui expulsa da vila onde você mora. Os aldeões tinham medo de mim pois eu estava sempre presente nos momentos de morte.

Kamui ficou pensativo e assentiu. Talvez ele mesmo sentisse medo se a tivesse conhecido de uma forma diferente, mas não sentia. Ele sentia paz em seu interior quando estava ao lado daquela garota estranha, como se nada de mau pudesse lhe acontecer.

— Eu queria poder viver entre os humanos, como um deles. Meus irmãos me alertaram que era uma escolha estúpida, mas eu não me arrependo. Tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas ao longo de minha vida, se é que posso chamar assim, pessoas como você, Kamui.

— Seus irmãos?

— Os outros shinigamis. — Ela deu de ombros. — Eles são todos trabalho e nada de diversão. São muito chatos e adultos. — Resmungou.

— Ontem você me disse que seu pai...

— Papai está ocupado cuidando de algumas coisas, por isso precisa da ajuda dos filhos para que tudo não vire uma terrível bagunça.

— Você é filha de... Deus?

— E não somos todos nós? — Shiori perguntou com um sorriso amável nos lábios.

O silêncio reinou durante alguns instantes, Kamui estava tentando digerir toda aquela história que mesmo para uma criança era difícil de entender.

— Você não vai sair correndo e nunca mais voltar, vai? — A ceifadora perguntou num tom um pouco preocupado.

— Não, acho que não. — O menino respondeu um pouco na dúvida. Ele não tinha medo dela, mas... — Então shinigamis não são criaturas que ficam soprando em nossos ouvidos para que nos matemos?

A garota fez uma expressão que dizia que aquilo era ultrajante.

— É claro que não fazemos essas coisas! Nosso pai nos criou para que as almas dos humanos pudessem ser recolhidas em paz, sem medos, com tranquilidade.

Kamui baixou o olhar se sentindo um pouco chateado por ter deixado a garota ofendida, mas era o que os aldeões diziam sobre shinigamis, que eles eram espíritos maus que faziam as pessoas enlouquecerem e se matarem.

— Desculpe... — Murmurou ele.

— Não tem o que se desculpar, Kamui. Humanos temem aquilo que não conhecem e por isso acabam fantasiando sobre o que essa coisa pode ser, e então surgem as lendas. Que às vezes são bastante injustas, tenho que dizer. — Shiori fez bico ao terminar de falar.

— Por isso os aldeões tem medo da floresta? Porque sabem que você está aqui?

A garota assentiu confirmando.

— Mas você não é má...

— Eles acham que meu trabalho é algo terrível...

A Garota das Borboletas ✔️Où les histoires vivent. Découvrez maintenant